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terça-feira, abril 16, 2024

Será que o ‘Brasil que eu quero’ está nas mãos dos eleitores?

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Será que o ‘Brasil que eu quero’ está nas mãos dos eleitores?

Por Fausto Freire

Depois de 13 anos de políticas populistas, que prometeram o paraíso sem sacrifícios e sem trabalho e mais dois anos de indecisões e derrapagens, o país chega ao fim do previsível beco sem saída: inflação sob controle, desemprego fora de controle.

As eleições se aproximam e nos trazem mais do mesmo: políticos cheios de boas intenções e vazios de credibilidade. Afinal, todos são atores da mesma sarjeta suja e nunca nos mostraram, de forma convincente, como irão fazer no futuro. Tudo que nos oferecem são promessas, e nós já estamos fartos de promessas.

A única certeza, nesse contexto é representada por um coadjuvante. O grande cabo eleitoral das eleições passadas, o Lula de uma Silva, aguarda em uma cela, sem frigobar, o momento de proclamar seu apoio, que custará caro. Talvez, o preço que o Fujimore cobrou, no Peru, por sua liberdade. A diferença é que o partido peruano do Fujimori contava com uma robusta representação no Parlamento. Talvez o Lula não disponha de tal cacife.

O Brasil é um país de sonhos. Para os estrangeiros, não é um país sério. Os brasileiros sonham com riqueza, mas não estão dispostos a pagar o preço de seus sonhos. Quando confrontado a problemas complicados que exigirão sacrifícios, o país reage como uma criança diante de um remédio amargo: chora e esperneia.

O país sempre foi a terra do pleno emprego, embora com salários achatados. A situação atual é nova. O governo se gaba de ter controlado a inflação e reduzido a taxa de juros. Mas a solução adotada é parecida com a do fazendeiro que mata a vaca para acabar com os carrapatos…

Até hoje, os economistas não chegaram à pedra filosofal do controle da inflação. Existem soluções empíricas que costumam funcionar. Uma delas, a mais usual, principalmente em países periféricos como o Brasil, é o controle do crédito. Outra solução é reduzir a capacidade de compra dos consumidores. Menos dinheiro nas mãos das pessoas, menos idas ao mercado, comerciantes estocados e com menor capacidade de aumentar preços.

Se não é possível reduzir o dinheiro nas mãos das pessoas, quais seriam as outras soluções? Uma delas seria cortar as mãos das pessoas… mas isso não seria politicamente correto. Então, eureka! Menos pessoas com dinheiro nas mãos ou mais pessoas de mãos fazias de dinheiro! Menos pessoas comprando, logo, preços sob controle. Ou seja, o desemprego explica a baixa inflação, que por sua vez explica o desemprego. Não há nada de tão genial assim no milagre do Banco Central, para ser comemorado, não é mesmo?

O problema está alhures, o melhor dizendo: o buraco é mais embaixo. E realmente, existe um enorme buraco que os brasileiros não querem ver, mas os investidores veem muito bem, e não tiram os olhos dele. O que chama a atenção dos investidores é o deficit crescente nas contas públicas, causado, entre outras mazelas, pela contabilidade da Previdência Social. Vamos deixar claro: o problema não está na Previdência Social e sim na sua contabilidade.

Para entender o embrolho existe uma questão simples. Não haverá retomada do emprego sem investimentos. O Brasil não dispõe de reservas suficientes para fazer face aos desafios econômicos necessários para voltar a crescer de forma sustentável. Sim, porque vender ativos públicos é uma solução mais administrativa do que de sustentabilidade econômica.

Vejamos: O Brasil se desfez de ativos públicos quando privatizou as telecomunicações. Foi uma medida acertada. Antes da privatização a Eletrobrás era uma empresa deficitária, ineficiente e um cabide de emprego para parentes e apaniguados de políticos. A medida trouxe um alívio para as contas públicas e até alguns investimentos produtivos. Além disso, a telecomunicação representa, hoje, uma fonte indispesável de impostos para as contas públicas.

Atualmente, quase todo brasileiro possui um smartfone, coisa impensável com a estrutura da empresa pública de antes. Já o governo Dilma fez algumas privatizações, embora envergonhadas, batizadas com outros nomes, mas privatizou rodovias e aeroportos. O resultado não tem sido favorável, mas é sempre melhor do que manter esses paquidermes sob o controle do Estado.

Temer tentou privatizar a Embratel. Empresa ineficiente, deficitária, como todas as empresas públicas e com dívidas que superam várias vezes o seu valor de mercado. Qual seria a saída ideal? Não privatizar significa continuar acumulando uma dívida crescente e sem horizonte de solução. Privatizar se tornou impossível, dadas às condições insustentáveis de seu governo.

Este e outros infindáveis problemas estão sendo empurrados com a barriga para o próximo presidente e o próximo Congresso. Caberá ao eleitor definir quem serão estes novos protagonistas. Nada está muito claro nesse cenário. O único que já se pronunciou sobre o assunto, Ciro Gomes, afirmou que irá reestatizar o que foi privatizado, ou seja, vamos voltar a ineficiência, ao cabide de empregos e às dívidas impagáveis.

Mas, na verdade, as dívidas impagáveis estão sendo pagas por todos nós. Cada brasileiro está pagando um preço altíssimo por não pagarmos essas dívidas, nem enfrentarmos outros dilemas econômicos que paralisam o país. O governo arrecada cada vez menos e paga juros cada vez mais altos, logo não há dinheiro para infraestrutura, nem segurança pública, nem saúde, nem educação, nem investimento que fomentem o emprego.

Estamos, novamente, no círculo vicioso, do passado. A diferença é que nas crises anteriores o motor  era a inflação. Hoje, a ponta visível do icebergue da crise é o desemprego. Romper esse círculo vicioso é o sonho de todos. Voltar a crescer, a empregar e criar uma economia forte e sustentável. Novamente o dilema da falta de investimentos para viabilizar o sonho.

A única fonte de investimento possível, para fazer o país avançar, é o investimento internacional. Mas estes investidores querem estar seguros que não irão entrar em uma “roubada”. Um país que não consegue pagar as suas dívidas e, ao contrário, está criando novas contas deficitárias, não é um lugar seguro para investir. Não bastará vender ativos. Precisamos criar um ambiente econômico confiável.

Nosso problema não se resume à questões econômicas. Muitas outros temas estão envolvidos nessa nova arquitetura socioeconômica capaz de atrair investimentos produtivos. A segurança jurídica é uma delas. Uma justiça que muda seus critérios segundo a cara do freguês não inspira confiança em investidores. Um estado que não é capaz de controlar o crime organizado na segunda maior cidade do país, não merece crédito. Um sistema fiscal tão complexo, ambíguo e contraditório, como o nosso é difícil de ser assimilado por investidores sérios.

Nem tudo isso depende da maior argúcia do eleitor. Em muitas dessas matérias o pobre cidadão não tem direito, nem a voz, nem a voto. Quem influencia a decisão dos investidores internacionais são as agências de classificação de risco: Fitch Ratings, Moody’s e Standard & Poor’s e todas elas rebaixaram a nota do Brasil, nos últimos meses, passando de país apto a receber investimentos para país de maior risco.

Mas, em última instância, o ambiente político é que cria as condições adequadas para que um país seja visto como bom ou mau para investir. Então, em alguma medida, o resultado das eleições irá criar ou não essas condições. Os eleitores têm em suas mãos a decisão sobre quem governará o país, não é mesmo? Não. Resposta errada! Os eleitores só podem votar nos candidatos apresentados pelos partidos. Logo, sua capacidade de escolha está filtrada por outras condições, as quais o eleitor não tem acesso. Sempre seremos reféns dos partidos políticos que, como sabemos, estão todos contaminados pela corrupção. Só se salva, se é que algum se salva, aquele que não tem nenhuma expressão política, logo não existe.

Então, não aceite o argumento falacioso de que o brasileiro não sabe votar. O que não sabemos é expressar nosso desacordo, nosso basta, nosso chega! Poucas vezes o brasileiro foi ouvido e isso só se deu quando milhões de pessoas saíram às ruas. Graças a isso a operação Lava Jato pode prosseguir, os promotores não foram amordaçados, como queriam os políticos, o foro privilegiado veio abaixo e muitos políticos corruptos foram para a cadeia.

Nossas maiores conquistas não foram nas urnas, mas sim nas ruas e nas redes sociais. O que virá das urnas é tão imprevisível como o que a enchente deixa ao passar. O Brasil que eu quero não virá de declarações, desejos ou sonhos ilusórios. O que importa é como cada cidadão irá reagir diante do que está por vir. Não existe vitória sem sacrifício.

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