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quarta-feira, junho 25, 2025

A Farra do Liquidificador

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A Farra do Liquidificador

Superfaturaram contratos de hospitais de campanha e de respiradores mecânicos.

É triste ver que há pessoas que se aproveitam de uma situação de fraqueza para se dar bem. Mas oportunistas aparecem a todo momento.

É só investigar bem que os escândalos vão surgindo Brasil afora. Governos estaduais e prefeituras assinam decretos de calamidade, dispensam licitações e assinam contratos às pressas para dar conta da pandemia de coronavírus. Muitas vezes, os contratos são superfaturados.

Mas isso não é novidade no mundo e especialmente no Brasil. Enchente, rompimento de barragem, seca e agora pandemia – qualquer catástrofe social é seguida por sua fila folclórica de casos de corrupção.

Qual não foi minha surpresa ao perceber que os escândalos em época de quarentena andam a frequentar a minha casa? Trata-se de um fato que tem me intrigado e me levado a inquéritos apurados, embora eu não tenha o auxílio dos órgãos estatais de investigação.

Tudo começou quando eu afirmei solenemente que a louça era minha responsabilidade na quarentena. Café, almoço e jantar. Tudo era comigo.

A princípio, começaram a brotar copos pela casa. Eles surgiam aos montes, como se a cada golada d’água tivesse de se utilizar um copo. Notei aquele fato, estranhei, mas deixei passar batido. Pois a multiplicação dos copos tornou-se irrelevante diante de outro fenômeno: a farra do liquidificador.

Esse utensílio doméstico começou a ser utilizado frequentemente, diariamente, para não dizer toda hora. Não vou dizer que nunca havia suco aqui em casa. Sim, havia, mas não todo dia, muito menos toda hora.

De repente, porém, os sucos começaram a ser feitos aos galões, sendo as frutas trituradas no liquidificador. E não apenas suco, mas qualquer outra mistura alimentícia que se possa fazer utilizando o liquidificador. Não bastassem as borras de maracujá grudadas nas laterais do liquidador, não bastassem os gomos de limão presos lá no fundo, há também massas ali entranhadas até a alma. Talvez tenham sido, em algum momento, massa de crepioca; agora, porém, são uma argamassa endurecida que custa a sair.

E assim eu sigo, lavando, lavando e lavando, ora cortando a mão nas hélices, ora perdendo duas horas entre pratos, panelas e um liquidificador novamente sujo.

Instaurei inquérito. Inquiri testemunhas. Efetuei diligências. Sem sucesso. Aparentemente, o liquidificador ganhou vida própria justamente nesse momento e tem feito sucos, massas e misturas diversas.

Seja como for, a Farra do Liquidificador é mais outro escândalo em época de pandemia. Há uma evidente exploração desse momento de fraqueza, de quarentena, e sobretudo de minha responsabilidade sobre a louça.

O Brasil não é para amadores.

Rodrigo Bedritichuk é brasiliense, servidor público, pai de duas meninas e autor do livro de crônicas Não Ditos Populares

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