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quinta-feira, maio 8, 2025

Açude Paranoá e as fábricas da Esplanada

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Açude Paranoá e as fábricas da Esplanada

O avião decolou.

– Fala galera, ali embaixo a cidade de Brasília… Olha o Congresso!

Era um menininho na poltrona da frente, filmando com o celular a visão panorâmica de Brasília. O menino deu sorte. Estava uma manhã linda, céu claro, poucas nuvens, e uma visão deslumbrante da capital.

Quase me ofereci como guia turístico, pois vi que o menino não era de Brasília. Era de Rio Verde, como fiquei sabendo mais tarde. Mas deixei ele para lá e dirigi meus conhecimentos candangos à minha própria filha, que estava na janela, ávida por saber o que eram aquelas construções – ali é o estádio, filha.

O lago Paranoá apareceu numa das curvas da aeronave. Limpo, sereno, brilhante, dessas visões que dão vontade até de pular na água. Em seguida, veio a ponte JK. Pequena, parecendo de brinquedo, mas ainda assim bela e imponente. E o menino seguindo com seu vídeo:

– Agora ali um açude…

Açude!? É lago, moleque! Um belíssimo lago criado artificialmente. quase um oceano de tão belo, tão vistoso, tão aprazível. Mais respeito com nossa capital, por favor. Açude é aquele tanque para criar tilápias. Nada a ver com nosso lago, onde há esportes, lanchas, velas e um pôr do sol mais belo que na costa da Califórnia.

Outra vez, anos atrás, eu estava no exterior, fazendo intercâmbio. Levei um cartão postal de Brasília, com uma bela imagem da Esplanada e do Congresso ao fundo. Na época, ainda não existia smartphones e 3G, e levar um postal foi a forma mais fácil de apresentar minha cidade aos colegas internacionais.

Além da surpresa em saber que a capital do Brasil era Brasília, e não São Paulo ou Rio de Janeiro, fato que já me deixou furioso, a mulher com quem eu conversava e que havia recebido o postal como um presente carinhoso apenas desdenhou da foto e perguntou:

– O que são essas construções aqui, são fábricas?

Fábricas!? Não! São os ministérios!

No fundo, fiquei refletindo que os ministérios de fato pareciam fábricas, eram construções meio feias, pesadonas, sem graça. Mas não admiti que minha querida cidade fosse alvo do escárnio internacional.

Em inglês, tentei explicar que aquele era o centro do poder do nosso país. Que a solidez e simetria dos ministérios simbolizavam esse fato, que a elevação do Congresso ao fundo mostrava a prevalência do poder popular, e tudo disposto numa arquitetura única, moderna. Mas ela soltou apena um “hum…”. Sem qualquer empolgação.

Brasília: ame-a ou deixe-a. Ou melhor, não a deixe; volte mais vezes até entender e apreciar a beleza do lago Paranoá e dos ministérios da esplanada. Menino de Rio Verde e mulher do exterior, voltem e vejam como nossa capital é bela.

Rodrigo Bedritichuk é brasiliense, servidor público, pai de duas meninas e autor do livro de crônicas Não Ditos Populares

 

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