CESAR PÉRES E A SAGA DE UMA FAMÍLIA PIONEIRA
Quem conviveu com o pioneiro Cesar Péres, certamente se encantou com o seu carisma e otimismo, integridade e capacidade de trabalho. Ele nasceu em 1916, na Borda da Mata, pequena cidade do sul de Minas Gerais. Sua mãe, Maria Péres da Silveira, era mulher forte e determinada. Seu pai, Augusto Antônio Péres, era homem pacato, muito digno e religioso, com formação em filosofia pelo renomado Colégio Caraça de Minas Gerais e, profissionalmente, exerceu honrosos cargos, como o de juiz de paz, promotor ad hoc, dentre outros.

Cesar Péres foi um dos 17 filhos do casal, sendo que somente 12 deles chegaram à idade adulta.
Vocacionado a batalhar e assumir responsabilidades, Cesar Peres começou a trabalhar ainda na infância para ajudar os pais, que contavam com salário modesto para o sustento de família tão numerosa.
Demonstrando, desde cedo, extraordinária habilidade para o comércio, na adolescência foi para Pouso Alegre, cidade vizinha, em busca de melhores oportunidades. Lá, foi trabalhar em estabelecimento de família judia, que, ao conhecer sua capacidade e seriedade, passou a considera-lo como filho. Nesse convívio, conquistou respeito e amizade de muitas outras famílias de judeus em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, locais onde lhe foram oferecidas boas oportunidades de trabalho.
Muito jovem, ainda, César conseguiu ter seu próprio negócio, no ramo de tecidos, confecções e calçados.

Casou-se aos 22 anos com Terezinha de Jesus Paiva Péres, nascida na cidade vizinha de Cambuí, e teve nela uma valorosa companheira por sessenta e dois anos ou, melhor dizendo, pelo resto da vida. Tiveram cinco filhos, José Antônio, Maria Aparecida, Jésus, Regina e Júlio César, os quatro primeiros nascidos em Pouso Alegre e o caçula na capital paulista.
Depois de atuar em diferentes empreendimentos entre Minas Gerais e São Paulo, no final de 1959, foi incentivado por seu irmão Alberto Péres, que na época era deputado estadual por Minas Gerais, a acompanha-lo na decisão de mudança para Brasília. Como César Péres era um grande admirador de JK, viu com entusiasmo a possibilidade de participar do esforço de edificação da festejada “Capital da Esperança”, então prestes a ser inaugurada.
Assim, em 30 de janeiro de 1960, rumou para Brasília, acompanhado do filho José Antônio, levando, logo a seguir, esposa e demais filhos.
Além de Cesar e Alberto, muitos outros integrantes da família Péres percorreram o mesmo caminho, a maioria com seus cônjuges e filhos. Foi assim com Djalma, Paulo, Vilma, José Marcos, Antônio, Randolfo, José Cobra, e, mais tarde, Benedita e família.
Era o começo da saga da família Péres no Planalto Central, que já remonta há quase 60 anos.
Todos encontravam seus nichos de atuação, fascinados pela cidade que oferecia boas oportunidades de prosperidade e, também, de educação e formação dos filhos. A construção civil foi a principal área de atuação escolhida pelos Péres pioneiros, tanto como construtores, quanto como comerciantes de materiais de construção.
Os irmãos Cesar, Alberto e Djalma criaram a Construtora IPÊ, nome alusivo a “Irmãos Péres”. A construtora tinha sua base de atuação em Taguatinga, local escolhido pela pujança econômica daquela cidade satélite. Lá empreenderam, de forma pioneira, obras de relevo.

Cesar Péres tornou-se uma liderança política do local e, presidindo o PSD, teve oportunidade de estabelecer excelente relacionamento com o Presidente Juscelino Kubitscheck. Foi no Diretório do PSD de Taguatinga que, mais tarde, o então Senador Juscelino Kubitscheck lançou oficialmente a campanha JK65 (manchete do Correio Braziliense de 09/05/1963).


Terezinha Péres, JK , Cesar e Hidemburgo ChateaubriandApós o término do governo de JK e com as frustrações decorrentes dos fatos históricos que vieram a seguir, houve significativa retração no ritmo das obras civis na capital, por isso, os sócios da Construtora Ipê resolveram paralisar as atividades da empresa.
Cesar Péres, então, procurou um segmento de atuação que fosse menos vulnerável às instabilidades políticas e passou a se dedicar ao ramo de panificação. Ele chegou a ter uma rede de panificadoras.
Alberto Péres, que, além de advogado e professor, havia criado uma Faculdade de Direito em Pouso Alegre, liderou a criação do CEUB, entidade que presidiu por muitos anos. Djalma e Paulo Péres o acompanharam na implantação da instituição de ensino superior, da qual César Péres participou apenas como cotista.
Na esteira do CEUB, a família Péres teve, ainda, importante papel no incentivo ao futebol profissional do Distrito Federal. Criou, no início da década de 70, o CEUB Esporte Clube. Presidido por Adilson Péres, com participação efetiva de Ayrton e Jésus Peres, foi o primeiro time de futebol brasiliense a disputar a divisão principal do campeonato nacional, empolgando torcedores brasilienses e fazendo nascer neles o sentimento de bairrismo.
José Antônio Pérez, filho de César Péres, foi empresário de destaque em Brasília. Dentre outras realizações, foi dono da Ipê Utilidades Domésticas, empreendimento com três grandes lojas de eletrodomésticos no Distrito Federal.
No início da década de 80, Cesar Péres retornou às atividades de construção civil em sociedade com o filho Júlio César, engenheiro civil. Juntos, reativaram a Construtora Ipê e deram a ela nova vida e impulso. Foram sócios por mais de dez anos, até o momento em que o guerreiro César Péres se permitiu justo descanso, deixando a maratona das obras com Júlio César, que prosseguiu em caminho solo.
Na comemoração dos seus 80 anos, Cesar Péres recebeu uma bonita homenagem de Márcia Kubitschek, que enalteceu, em discurso e placa comemorativa, sua história de pioneiro e de companheiro político de Juscelino Kubitschek.
Junto com Terezinha, César foi porto seguro para filhos, noras, genros e netos. O casal já partiu, ele em 2001 e ela em 2014, assim como já partiu grande parte dos Péres pioneiros, patriarcas e matriarcas, que conduziram os seus familiares para a epopeia da construção da Nova Capital.

As sementes plantadas, no entanto, continuam dando frutos. A família Péres vem crescendo em sucessivas gerações e se ramificando pela capital, chegando atualmente a mais de 150 integrantes, que dignificam o DNA que carregam.
Os Péres são parte integrante da vida brasiliense, se destacando como profissionais liberais, na iniciativa privada e em órgãos públicos, no magistério, no mundo empresarial, na medicina, na música, na tecnologia e no esporte, em atividades jurídicas, jornalísticas, religiosas, sociais e tantas outras. Hoje, a família Péres integra, inclusive, os Poderes Judiciário e Legislativo, com Dorival Borges de Souza, neto de Cesar Péres, como Desembargador do TRT da 10ª Região, e Flávia Arruda, neta de Paulo Péres, como Deputada Federal.
Cesar Péres se mantém vivo nos seus legados, nos exemplos deixados, em seus filhos, netos e bisnetos. Júlio César, dando continuidade ao projeto que o pai começou, tornou-se referência no segmento da construção civil na capital. Dentre várias atuações relevantes, foi presidente do SINDUSCON por duas gestões, secretário de obras no governo de Rodrigo Rollemberg, além de contabilizar um notável legado em obras da Construtora Ipê para o Distrito Federal.
E, assim, segue a saga