Foco, determinação e velocidade são constantes na vida do piloto brasiliense Lucas Foresti
Competindo pela Stock Car, ele voltou a morar na cidade e revela seus pontos preferidos, além da rotina puxada de treino, projetos, viagens e claro, muita corrida!
Natasha Dal Molin
Fotos: Nubia Paula e Divulgação
Desde cedo, e talvez na genética, Lucas Foresti, 27 anos, já carrega o gosto pela velocidade. Era ainda um menino, com 4 anos, quando começou a andar de moto. Tendo como ídolos Ayrton Senna, Lewis Hamilton e Nelson Piquet, daqui de Brasília, o filho do ex-campeão de enduro Victor Foresti, tem uma trajetória permeada de pistas, foco, treinamento e muita determinação. O pai, assim como o tio, Constantino Júnior, são os maiores incentivadores e sempre estão presentes nos momentos de vitória, nos desafios e decisões importantes.
Na moto, seguiu até os 14 anos, quando um acidente resultou em uma clavícula quebrada e Lucas teve que ficar aproximadamente um ano longe das pistas. Após esse tempo, Lucas conseguiu convencer o pai, citando um kart do tio que estava parado no Kartódromo do Guará.
Ele resolveu experimentar e o pai, vendo a paixão do filho aumentar, colocou uma condição: se continuasse tirando notas boas na escola, poderia seguir com o hobby. E assim foi, afinal, mesmo viajando muito e com uma rotina puxada de treinos e preparações, ele nunca reprovou. O segredo para ir bem nas aulas, mesmo não tendo tempo de sobra em casa? “Eu prestava bastante atenção nas aulas”, revela. O foco, assim como hoje, se mostrava importante e presente na vida do brasiliense.
Fórmula 3 Sul Americana
Do Kart, Lucas foi para a Fórmula 3 Sul Americana, onde chegou a ganhar uma corrida logo no primeiro ano. Depois disso, foi para a Europa, fazer Fórmula 3 Britânica. Morou na Europa por quatro anos, sendo três deles na Fórmula 3. Conseguiu sete pódios e três primeiros lugares.
Daí, foi para a WSR 3.5, uma categoria que tem um carro bem forte, parecida com Fórmula 1. “Consegui largar bem na frente, perto de vários nomes que estão hoje na Fórmula 1”, recorda. A categoria principal do automobilismo foi uma certeza na cabeça do piloto, que passou um bom tempo lutando para tal.
Nessa época, ele morava sozinho e os treinos eram intensos, às vezes três vezes por dia. “Tinha que estar fisicamente muito forte”, conta, relembrando que diariamente corria 40 minutos em jejum, depois malhava por meia hora. Ia e voltava pedalando para a equipe e ainda fazia box. “Fiz isso por quase dois ou três anos da minha vida. Foi prazeroso, é uma faculdade que ninguém nunca vai conseguir ter na vida”, diz, afirmando que o automobilismo não é uma carreira tradicional, que você faz uma faculdade e tem sucesso garantido. “Não tem uma forma para chegar num resultado certo”, avalia.
Até que seus planos e os da cidade se aproximaram novamente…
É que o piloto continuava, mesmo morando fora, vindo a Brasília para descansar e ver a família. Numa dessas viagens, no final de 2013, veio para descansar, quando foi convidado a participar de uma prova de Stock Car, em Goiânia. Ele lembra que faltava apenas uma semana e meia para a competição, mas não teve dificuldade em conseguir patrocínio e as coisas foram fluindo. “Deus, ajudou. Acho que Deus quer que eu fique aqui. É muito bom correr em casa”, destaca.
Ele tinha saído do apartamento que morava, em Londres, e tinha deixado seus pertences lá na Inglaterra. Após a corrida em Brasília, três semanas depois, o chamaram de novo, desta vez em Interlagos. E daí surgiu uma vontade de permanecer no Brasil, e assim conseguiu conciliar a Stock Car com o curso da faculdade de Administração de Empresas, que já concluiu.
Disciplina
Atualmente na Stock Car, Lucas Foresti pega pesado no simulador e na academia, onde treina exercícios específicos que o ajudam a acelerar a 200 Km/h e fazer uma curva perfeita, ainda falando com o engenheiro no rádio. O enfoque maior é no fortalecimento dos ombros, braços e atividades de equilíbrio. Além do treinamento físico, Lucas conta com um coach que lhe passa exercícios mentais de visualização, mantras, meditação. Essas técnicas, incorporadas no repertório diário do atleta recentemente, já estão produzindo resultado: “Sinto-me mais focado”, garante.
Focado, ele admite que para se destacar, é preciso muita dedicação. “Antigamente as pessoas não se profissionalizavam tanto. E hoje em dia o mundo está cada vez mais profissional, para se destacar, tem que dar o seu máximo”, diz. O atleta explica que são 12 finais de semana no ano de corrida, ou seja, o equivalente a 3 meses do ano são corridas. “O resto tudo é preparativo”, destaca.
Normalmente ele tira apenas uns 15 dias de descanso em dezembro, quando diminui um pouco das tarefas da rotina completa. Regrado, Lucas gosta de dormir bastante, e o sono, aliás, é fundamental para o atleta, que vai para a cama por volta de 21h diariamente e dorme um total de umas oito ou nove horas.
O automobilismo é um esporte caro. “Um jogo de pneu da Stock Car custa R$ 12 mil. Para competir por um ano, custa R$ 3 milhões”, exemplifica. Na Fórmula 1, o investimento é ainda maior, cerca de US$ 15 milhões por ano, segundo ele. Por isso, os patrocínios são tão importantes. Ele conta com as marcas CVC, Sikkens (AkzoNobel), Multi Proteção, Vale Shop Razer e Prettynew.
Tecnologia e redes sociais
Além do próprio rendimento, o atleta gosta de acompanhar pessoalmente as ações de marketing e campanhas, que são elaboradas por um RP, de São Paulo, com quem fala até três vezes por dia, por Whatsapp e administra, ele próprio, as redes sociais. Lá (@pilotolucasforesti), posta sobre o dia-a-dia, a rotina como piloto, compartilha dicas e assuntos pessoais.
Nas redes também tem sempre indicação para os fãs ajudarem os pilotos nas próximas corridas. Trata-se do Fan Push, um botãozinho de potência extra para o mais votado, no dia da corrida. Para participar, é só ir no site da Stock Car (www.stockcar.com.br), se cadastrar com o Facebook e escolher o piloto favorito. O mais votado ganha 100 cavalos adicionais de potência e abertura total da borboleta por 16 segundos. Geralmente a votação tem início em um domingo anterior ao fim de semana da competição.
As redes sociais, segundo ele, permitiram uma segmentação maior, mas também aproximou quem é apaixonado por automobilismo. “Há os canais especializados, as pessoas podem seguir e até se comunicar com seus ídolos, e há ainda os youtubers”, analisa.
Viagens
Como Brasília está sem Autódromo, Lucas tem como “casa de pista” Goiânia, onde corre duas ou três vezes por ano. Além de lá, as provas costumam ser em Curitiba, Porto Alegre ou São Paulo. Não ter um autódromo aqui é ruim para a cidade, para o esporte, e para todo o comércio, na visão do piloto. “Uma corrida movimentava milhões de hotel, alimentação”, analisa. Ele acredita que o atual governo, que já afirmou que quer que Brasília se torne um ícone, irá conseguir colocar o Autódromo novamente para funcionar.
As competições são tradicionalmente nos fins de semana. Lucas chega geralmente na quinta-feira nas cidades de competição, para adaptação. Nas viagens, vai uma equipe de aproximadamente 20 pessoas: “Além da equipe do carro, vão os meus assessores, o assessor de imprensa, o Relações Públicas, fotógrafo e cameraman, meu pai e minha namorada, ela sempre acompanha”, relata.
Mudança
Lucas se mudou recentemente e a casa em que mora no Lago Sul, à beira do Lago, tem um projeto arrojado e jovem, feita com a ajuda de uma amiga arquiteta: são oito containers pretos e muitos objetos de decoração estilizados, como cadeiras no formato de rodas, capacetes, e claro, muitos troféus. Lá, ele dorme, se exercita nos simuladores e tem uma área de escritório e espécie de showroom para lançamentos de carros, reuniões, coquetéis, e receber patrocinadores e amigos. Para esse ano, ele tem como meta estar entre os Top 6 da categoria.
Brasília
Apaixonado pelo calor da cidade e pelo Lago Paranoá, o jovem, nas horas vagas, gosta de praticar esportes, como pedalar ou encontrar os amigos para uma sessão de kitesurf. “Gosto muito de Brasília, minha cidade natal”, destaca. Lucas gosto das vias, que não têm trânsito. “No máximo você adiciona uns 20 minutos, não é aquela coisa de ficar parado”, pontua.
Outro destaque positivo, na avaliação de Foresti, é a localização central da cidade, com voos internacionais diretos que permitem sair e em sete, oito horas, estar em outro país. “Isso é bem legal. E somos a capital do Brasil, todo mundo vem para cá alguma hora da vida para visitar ou trabalhar”, acrescenta. “Eu acho que Brasília tem tudo para se tornar um ícone do Brasil. É a capital, está no meio, é uma cidade nova. Não é impossível”, finaliza.