Há 5 anos de portas fechadas, Centro de Dança de Brasília será reinaugurado
Espaço poderá ser utilizado para ensaios, pesquisas, mostras, apresentações, oficinas, seminários e intercâmbios artísticos na área da dança
Aos brasilienses amantes da dança, que se sentem órfãos de um espaço exclusivo para desfrutar dessa arte, uma boa notícia: os dias de espera estão perto do fim. O público terá, novamente, um espaço especialmente voltado para a expressão dessa arte, cheia de movimentos, música e sensualidade. O Centro de Dança de Brasília, em obras desde 2015, será finalmente reinaugurado na próxima quarta-feira (28/2).
O espaço poderá ser utilizado para ensaios, pesquisas, mostras, apresentações, oficinas, seminários e intercâmbios artísticos na área da dança. Leonardo Lopes, 24 anos, dançarino profissional e professor, comemora a novidade. Para ele, Brasília necessita desse tipo de espaço público, com estrutura específica para que a comunidade possa exercer as atividades culturais com qualidade. “Eu espero que esse centro seja realmente aproveitado pelo povo, de forma organizada, onde todo mundo possa usar. Estamos felizes por isso, porque a dança está ganhando reconhecimento e crescendo cada dia mais”, ressaltou.
Inaugurado em 1993, às margens do Eixo Monumental, o espaço foi criado após um movimento de produtores culturais, dançarinos e coreógrafos do DF. Devido às condições precárias na estrutura, terminou fechando as portas em 2013, após a queda do teto de uma das salas principais. Em 2015, o local entrou em um pacote que incluía 52 obras, acumulando um investimento de R$ 5 bilhões, proposto pelo GDF. As obras começaram no mesmo ano e já custaram, aproximadamente, R$ 3,2 mi.
Em abril de 2017, o GDF anunciou que o Centro de Dança tinha 70% das suas obras concluídas e a previsão de reinauguração era para o fim do primeiro semestre do mesmo ano, o que não aconteceu. Em janeiro de 2018, a reportagem do Correio mostrou que, embora a fachada estivesse pronta, a parte interna continuava vazia e uma das portas de entrada estava sem vidro e encostada por um pedaço de madeira.
A reinauguração do espaço faz parte da Política de Estímulo e Valorização da Dança, um projeto lançado pelo Governo do Distrito Federal, em agosto de 2017. O centro será gerido pela Secretaria de Cultura em parceria com Associação Conexões Criativas, uma organização civil selecionada por meio de chamamento público, também realizado em 2017.
A Secretaria de Cultura confirmou ao Correio que o espaço está pronto para receber a comunidade artística e detalhou que o local passou por uma reforma ampla: reinstalação de piso com materiais próprios para prática de dança; construção de banheiros; renovação de sistemas elétrico e hidráulico; adequações para garantir acessibilidade; melhorias na ventilação, entre outros aperfeiçoamentos.
Segundo o secretário de Cultura do DF, Guilherme Reis, o centro não foi finalizado dentro do prazo previsto inicialmente por questões contratuais e de estrutura da obra. “Nós tivemos que refazer o contrato, rever o financiamento da obra que estava interrompida em 2015. Ela tinha problemas no projeto, que teve que voltar para planilha para ser readequado”, explicou.
Reis confirmou, ainda, que a pasta está preparando a aquisição de equipamentos para outros centros culturais do DF, como os complexos de Samambaia e de Planaltina. “É preciso tomar conta dos espaços existentes na cidade, pois essa é uma ação de cuidado voltada para a população”, acrescentou.
A dançarina e estudante de Psicologia Karoline Rodrigues, 23 anos, acredita que ter um local aberto ao público para divulgar a dança é muito importante. “A arte é libertadora e a dança promove as melhores sensações ao corpo. Ter esse espaço para vivenciar isso mais e mais vezes é um sonho”, destacou.
No coração e na história
Construído como um prédio para hospedar funcionários da Petrobras vindos do Rio de Janeiro, no início dos anos 1960, o local, onde hoje fica o Centro de Dança, faz parte da história de muitos artistas da capital. Entre eles, Gisèle Santoro, viúva do maestro Cláudio Santoro. Aos 78 anos, Gisèle conta que conheceu o músico quando ficou hospedada no prédio, assim como ele. Ambos tentaram durante toda a vida, fundar uma escola de dança profissional no edifício.
“Em 1962 pretendíamos construir uma escola profissional, junto da diretora de balé do teatro do Rio de Janeiro, Eugenia Feodorova. Chegamos a criar um concurso para selecionar bailarinos de todo o país, mas no dia das audições estourou a revolução de 1964 e nosso projeto não vingou”, contou Giséle em entrevista ao Correio.
A bailarina afirmou que diversos governos tentaram por várias vezes transformar o espaço numa escola acessível e gratuita, com intuito de formar profissionalmente os bailarinos da cidade, e ainda criar um corpo de baile que pudesse se apresentar em eventos em troca de bolsas de estudo.
Atualmente maitrê de balé e coreógrafa, Gisèle diz que seu sonho sempre foi fazer do espaço um centro de qualidade, como os de outras capitais do Brasil. “Pessoa mais ligada a esse espaço do que eu não existe”. Ela espera que, após essa reforma, o espaço seja bem utilizado e aproveitado pela população. “Há 60 anos eu luto por esse lugar. Fui eu quem deu o nome de Centro de Dança de Brasília a ele”, finalizou emocionada.
Dificuldades e sonhos
Em um espaço cedido por uma universidade de Taguatinga ou em garagens de prédios da cidade, madrugada a dentro. Não existe um lugar certo para os ensaios do grupo de dança brasiliense Soul Dance, criado pela professora de Educação Física e dançarina Emanuele Carvalho, de 21 anos, juntamente com Leonardo Lopes, já citado no início desta reportagem.
Assim como Gisèle Santoro, Emanuele acredita que um local feito para os apaixonados pela dança é indispensável. A escola dos sonhos da viúva do maestro teria um horário reservado para os grupos da cidade ensaiarem suas coreografias. A de Emanuele também. “Nós ensaiamos na universidade quando dá, mas ela não oferece apoio. Quando não está aberto usamos as salas das academias onde trabalhamos, mas já tiveram dias que precisamos ensaiar em garagem de prédio de madrugada, ou onde desse”, explicou.
Em relação ao centro, ela diz que a ideia é maravilhosa, mas lamenta por não existirem outros espaços como ele nas outras cidades do DF. “Para mim, o ideal seria que cada região tivesse seu próprio centro de dança, facilitando o acesso dos vários grupos que estão espalhados por Brasília”, comentou.
Apesar das dificuldades, Emanuele afirma que se surgirem oportunidades de utilizar o espaço como um lugar para ensaios e futuro palco de apresentações, ou mesmo festivais, com certeza o grupo fará bom proveito. “Nós vamos dançar lá, sim. Faremos o que pudermos para incentivar os outros e de pouco em pouco alcançarmos nossos objetivos”, finalizou.
Onde fica:
Anexo I da Secretaria de Cultura SAN Quadra 01 VIA N-2, Setor Cultural Norte