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segunda-feira, junho 23, 2025

Iiiiiiiiha – lá vem chuva!

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Iiiiiiiiha – lá vem chuva!

Marteladas, concreto e a laje vai subindo. (O céu se acinzenta). O trator ruge, o guindaste puxa algum objeto e o concreto seca. (As nuvens se avolumam). Um forte trovão faz tremer o céu, e…

Iiiiiiiiha, lá vem chuva! – o grito ecoa por toda a quadra.

Marteladas. O guindaste continua seu percurso. Mas agora a chuva começa. Fininha a princípio, porém logo caudalosa.

– Iiiiiiiiha, corre! – outro grito ecoando pelos ares.

Corro à janela e vejo os trabalhadores da obra ao lado numa espécie de ritual coletivo diante da chuva. Entre gritos e algazarra, correm para colocar as capas amarelas e obedecer à legislação trabalhista, mas numa disposição firme de quem está ali para enfrentar a água – e se molhar.

Por isso ficam debaixo de chuva numa euforia boa, de camaradagem. Enquanto dentro de casa há um tom melancólico, estático, a movimentação sem parar da obra cria um clima de agito lá embaixo.

A cena me comove. Desejo descer e me juntar a eles naquele banho de chuva. Logo desisto pensando no trabalho, e também nessa água toda… Talvez o que eu mais queira mesmo é voltar a ter essa inocência de criança diante da chuva – o olhar curioso com as nuvens e o grito quando vem o trovão ou quando começam os pingos.

Sim, gritar a plenos pulmões quando vem o trovão ou a chuva. Como se fosse uma competição inconsciente entre homem e natureza. Ou quem sabe uma festa, uma grande celebração do homem e da natureza comemorando a fertilidade que Deus manda dos céus. Seja como for, deixar que o grito escape solto, sem impedimentos.

Acho que a última vez que soltei a garganta em face da chuva foi na escola. No recreio, de uniforme, e as bátegas jorrando do céu repentinamente:

– Uooooou, chuva!!!

Correria, todos se molhando, a franja escorrendo pela testa, meninas se desesperando, os meninos mais atrevidos, o encontro de todos num abrigo comum, sorrisos diante da situação, um raio iluminando o céu e outro grito: Eeeeeeee!

Ou então no campo de futebol, que era um tanto melhor. Partida acirrada, jogo disputado, e de repente a chuva:

– Iiiiiiiiha, chuva no Maraca!

E o jogo mais disputado ainda, a bola parando nas poças, os carrinhos deslizantes pela grama, a euforia de jogar como num estádio e ter de aguentar a chuva até o final da partida.

Lembranças boas, que os gritos dos pedreiros me fazem recordar.

Tenho uma antipatia natural pela obra e por todo o barulho feito. Marteladas, tratores, guindastes. Mas esses gritos espontâneos, que anunciam a chegada da chuva ou apenas o ribombar de um trovão, trazem alegria para tardes chuvosas e melancólicas, por isso estão todos perdoados!

Rodrigo Bedritichuk é brasiliense, servidor público, pai de duas meninas e autor do livro de crônicas Não Ditos Populares

 

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