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quinta-feira, novembro 21, 2024

Os Perigos da ansiedade crônica para a saúde cardiovascular

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É fundamental compreender que a saúde cardiovascular está intimamente ligada à saúde física e mental do indivíduo. Atualmente as doenças psiquiátricas são conhecidas como o “mal do século”, dentre elas, a ansiedade.

A ansiedade é uma resposta natural ao estresse, caracterizada por sentimentos de preocupação, apreensão e medo. No entanto, quando esses sentimentos se tornam crônicos ou excessivos, podem ter um impacto significativo na saúde geral, incluindo a saúde cardiovascular. Este artigo explora a relação entre ansiedade e doenças cardiovasculares, examinando os mecanismos biológicos subjacentes, os riscos associados e as estratégias de manejo.

O nosso organismo possui mecanismos biológicos de defesa e quando acometidos pela ansiedade pode afetar o sistema cardiovascular de maneira significativa.

Burg, M.M., & Lane, R.D. (2011) traz que um desses mecanismos de ação é a ativação do Sistema Nervoso Simpático – SNS, a ansiedade provoca a ativação do SNS, resultando na liberação de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina). Isso eleva a frequência cardíaca e a pressão arterial, colocando uma sobrecarga no coração e nos vasos sanguíneos.

Ainda nas respostas do sistema endócrino, temos a ativação do Eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA), tal ativação frequentemente observada em indivíduos ansiosos, leva à liberação sustentada de cortisol, níveis elevados de cortisol estão associados ao aumento da pressão arterial, resistência à insulina e aumento de depósitos de gordura visceral, todos fatores de risco para doenças cardiovasculares.

Com toda essa ativação simpática sustentada por longos períodos e a elevação dos níveis de cortisol, a pressão arterial é mantida em níveis elevados, sendo um dos principais fatores de risco para eventos cardiovasculares adversos.

Outro ponto importante é que as arritmias podem ser desencadeadas ou exacerbadas pela ansiedade, como por exemplo a fibrilação atrial, devido à hiperatividade simpática e à instabilidade elétrica no miocárdio. [Kawachi, I., Sparrow, D., Vokonas, P.S., & Weiss, S.T. (1994)].

Na prática clínica tenho observado que esses riscos estão associados a alguns fatores e presentes em determinadas populações vulneráveis.

Idosos, mulheres e indivíduos com histórico familiar de doenças cardíacas são particularmente vulneráveis aos efeitos adversos da ansiedade na saúde cardiovascular, pois já possuem a predisposição genética.

Contudo o principal risco associado observado provém de estilos de vida pouco saudáveis, como sedentarismo, alimentação inadequada e uso excessivo de álcool ou tabaco, e frequentemente observados em indivíduos com ansiedade, aumentando ainda mais o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Com todo esse impacto negativo na saúde do coração não é admitido ao cardiologista pensar de forma totalmente compartimentada, devendo ter um olhar multidisciplinar para o paciente, buscando o rapport e a análise de maneira humanizada e abrangente.

Combater os fatores de risco cardiovasculares é uma pedra angular essencial para prevenirmos as doenças cardiovasculares. Eles são sabidamente conhecidos: obesidade, colesterol elevado, hipertensão, diabetes, tabagismo e o estresse.

O que podemos fazer?

Um ponto crucial é a conscientização para a modificação do estilo de vida, exercício regular, engajamento espiritual, dieta balanceada e práticas de relaxamento, como ioga e meditação, são estratégias de primeira mão para reduzir a ansiedade e melhorar a saúde cardiovascular.

Estudos indicam que indivíduos com uma prática espiritual ativa têm menor incidência de hipertensão e doenças cardíacas. A redução do estresse e o suporte social associado à espiritualidade são fatores contributivos.

O médico tem a disposição ansiolíticos e antidepressivos que podem ser utilizados para tratar a ansiedade, mas devem sempre ser prescritos com a máxima cautela, devido aos potenciais efeitos colaterais.

A confiança no médico deve ser plena, a relação entre médico e paciente é fundamental para a prestação eficaz de cuidados de saúde. A confiança no médico tem implicações profundas não apenas na satisfação do paciente, mas também nos resultados de saúde.

O médico deve ter empatia e capacidade de comunicação, o médico deve ouvir atentamente, ser claro e compreensível para a construção da confiança, os pacientes precisam de médicos que se mostram genuinamente interessados em seus problemas de saúde e que vejam além de diagnósticos e tratamentos.

A ansiedade é um fator de risco significativo e subestimado para doenças cardiovasculares. Compreender os mecanismos biológicos e os impactos específicos da ansiedade no sistema cardiovascular é crucial para o manejo eficaz e a prevenção de doenças cardíacas. Abordagens multidisciplinares, principalmente nas mudanças do estilo de vida, são essenciais para mitigar os riscos e melhorar a saúde geral dos pacientes.

Novos estudos sugerem que a espiritualidade tem um impacto benéfico na saúde cardiovascular, potencialmente através de mecanismos como a redução do estresse, comportamentos de saúde positivos, suporte social e enfrentamento espiritual. Os médicos devem considerar esses fatores ao avaliar e tratar pacientes, especialmente aqueles com condições cardiovasculares. Integrar a espiritualidade no cuidado ao paciente pode levar a melhores resultados de saúde e bem-estar geral.

O estudo de Koenig et al. evidencia que a espiritualidade pode desempenhar um papel significativo na promoção da saúde física e mental. Para pacientes cardiológicos, incorporar a dimensão espiritual no tratamento pode melhorar os resultados de saúde, proporcionando uma abordagem mais completa e integrada para o bem-estar geral. Como médicos, reconhecer a importância da espiritualidade e utilizar essa dimensão pode ser uma ferramenta poderosa na prevenção e tratamento de doenças.

A conscientização sobre a relação entre ansiedade e saúde cardiovascular deve ser aumentada tanto entre profissionais de saúde quanto entre pacientes, para promover um cuidado mais holístico e eficaz.

Dra Monique Nogueira Cardiologista CRM-DF 17310

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