Se perguntássemos a Blaise Pascal sobre a ideia de que “saber matemática é como usar óculos de raios-X que revelam as estruturas ocultas sob a superfície confusa e caótica do mundo”, ele provavelmente teria uma reação ambígua. De um lado, como matemático brilhante, ele concordaria que a matemática oferece um poder quase divino de compreensão das engrenagens do universo. De outro, como pensador religioso e existencialista, advertiria que nem tudo pode ser reduzido a estruturas racionais.
Na sua obra Pensées, Pascal defende que há “duas ordens de conhecimento”: o espírito de geometria e o espírito de fineza. O primeiro se alinha perfeitamente com a metáfora dos “óculos de raios-X”, pois trata da razão exata, da lógica formal que desvela padrões ocultos na natureza. A matemática, nesse sentido, organiza o caos aparente e nos dá um olhar privilegiado sobre a ordem do cosmos.
Porém, Pascal também argumenta que a vida humana não se resume a essa clareza matemática. “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, afirma ele. Ou seja, existem aspectos da realidade—como as emoções, a fé e os dilemas morais—que escapam completamente ao olhar analítico da matemática. Se confiarmos apenas nesses “óculos”, corremos o risco de enxergar o mundo de forma redutiva, ignorando a complexidade das experiências humanas.
Para contrastar, pensemos em Platão. Seu conceito de um mundo inteligível, acessível apenas pelo pensamento racional, reforçaria a metáfora dos óculos de raios-X. Na sua visão, a matemática não só revela a ordem oculta do mundo, mas também nos aproxima da verdade suprema.
Já Nietzsche zombaria da ideia de que existe uma estrutura fixa e subjacente esperando para ser descoberta. Para ele, a matemática não revela a verdade, mas sim uma forma de interpretar a realidade conforme convenções humanas. O caos não é apenas uma aparência passageira, mas sim uma parte essencial da existência, que a matemática tenta domesticar artificialmente.
No fim das contas, Pascal nos lembraria que os óculos matemáticos são valiosos, mas não devem ser os únicos que usamos para olhar o mundo. Afinal, há coisas que apenas os olhos do coração podem enxergar.