Qual o papel dos estados nas presidências da Câmara e do Senado?
A eleição de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) à Presidência do Senado marca o retorno de Minas e também do eixo sul-sudeste ao comando da Casa.
Desde o Império até a 1ª República (1826-1930), Minas foi de longe o estado que mais gerou presidentes do Senado. Foram 12 ao todo. Mas, a partir da Constituição de 1988, apenas a 1ª eleição contou com a vitória de um senador do eixo sul-sudeste, quando foi eleito o Senador Nelson Carneiro, do Rio, em 89.
Desde 1991, todos os presidentes eleitos no Senado vieram dos estados do Norte ou do Nordeste*.
Portanto, em 30 anos e 17 eleições, estados como São Paulo, Rio de Janeiro ou Minas Gerais, que concentram mais da metade da população brasileira, não tiveram o comando do Senado, recaindo a presidência em pequenos estados como Alagoas e Amapá.
Por quê?
Em primeiro lugar, como o Senado é paritário, a população não tem importância no equilíbrio entre os estados. Amapá tem o mesmo peso que São Paulo, por exemplo. Assim, Norte-Nordeste tem maior força que Sul-Sudeste-Centro-Oeste.
Em segundo lugar, estados mais pobres e com distritos rurais favorecem a criação de bases eleitorais fieis, o que permite a perpetuação de lideranças políticas e sua força no cenário político nacional, ao contrário da maior instabilidade dos eleitorados urbanos.
Por fim, o vácuo de lideranças fortes, seja pelo desgaste de líderes antigos, seja pelo sentimento de renovação da política, deu espaço para outsiders. Davi Alcolumbre foi o primeiro, e agora é seguido por Rodrigo Pacheco.
Já na Câmara, o quadro é o inverso
De 1988 até hoje, 3/4 das eleições para a Presidência da Câmara tiveram o triunfo de deputados do eixo Sul-Sudeste. Apenas em quatro ocasiões os eleitos foram de fora desse eixo, os quatro do Nordeste.
Vale lembrar que desde 2015 até hoje a Câmara é governada por um político do Rio de Janeiro.
Portanto, a eleição de Arthur Lira (PP-AL), deputado de Alagoas, também é um ponto fora da curva na história da Câmara, onde a população tem, sim, um grande peso, pois influencia no tamanho das bancadas estaduais e confere maior peso político aos estados mais populosos.
* Com a exceção do mandato tampão de três meses de Ramez Tebet, do MS, em 2001.
