Pesquisa inédita baseada na Ciência da Felicidade quer medir o índice de felicidade bruta da Capital Federal; saiba como participar
Por Mariana Vieira
Foto: Ana Volpe
Em 1972, no pequeno reino do Butão, um país montanhoso localizado no sul da Ásia, entre a China e a Índia, o jovem rei Jigme Singye Wangchuck propôs uma ideia que desafiava os padrões econômicos globais. Em vez de medir o progresso nacional apenas pelo Produto Interno Bruto (PIB), ele sugeriu um novo indicador: a Felicidade Interna Bruta (FIB).
Para o monarca budista, o verdadeiro desenvolvimento de uma nação não se resumia ao crescimento econômico, mas sim ao equilíbrio entre bem-estar psicológico, qualidade ambiental, cultura e desenvolvimento social. O conceito ganhou reconhecimento internacional e se tornou referência para pesquisadores e governos que buscam modelos mais sustentáveis de progresso. Agora, mais de cinco décadas depois, a capital federal adota essa abordagem inovadora ao lançar a primeira Pesquisa de Felicidade de Brasília.
A iniciativa é conduzida pela Plataforma FIB2030 em parceria com o Instituto Gestão da Felicidade e a Rede de Pesquisas Científicas da Felicidade, unindo ciência e inovação social para entender como os brasilienses percebem sua própria qualidade de vida.
A proposta de medir a felicidade como um indicador de desenvolvimento já é uma realidade em países como Nova Zelândia e Finlândia, que adotaram métricas de bem-estar em suas políticas públicas. Estudos apontam que organizações que investem na felicidade de suas comunidades e colaboradores registram aumento na produtividade, na inovação e na adaptação a mudanças, além de redução no absenteísmo e no estresse.
João Paulo Barboza, cientista da felicidade e um dos coordenadores do projeto, destaca a relevância da iniciativa. “Para nós é uma felicidade poder implementar este programa aqui em Brasília e ofertar dados baseados em ciência com objetivo de favorecer tanto o estabelecimento de políticas públicas quanto de projetos locais que priorizem o bem estar dentro de um planejamento de desenvolvimento sustentável”.
Ele explica que o programa está estruturado em quatro fases, sendo a primeira a aferição dos indicadores com metodologia científica. “Depois, ancorado pelos dados da pesquisa, vamos disponibilizar uma trilha de aprendizagem orientada por conhecimentos da ciência da felicidade, disponibilizada gratuitamente para quem responder a pesquisa.” Por fim, o grupo pretende publicar um relatório com as descobertas da pesquisa.
Do quê é feita a felicidade?
Ana Paula Daltoé, que integra a equipe multidisciplinar do FIB2030, é categórica em dizer que a felicidade, longe de ser um sentimento ou fruto da sorte, é uma habilidade. “E, como tal, ela pode ser desenvolvida, mas para isso é necessário que o indivíduo tenha acesso, de forma simples e acessível, aos principais pontos que podem ser melhorados para ter uma vida cada vez mais feliz”.
Ana Paula explica que existe um fator de inovação na matriz utilizada para a aferição da pesquisa. “Sempre a felicidade é pensada em termos psicológicos e dissociada do índice de felicidade que foi desenvolvido no Butão. Neste sentido, nossa pesquisa une as duas correntes teóricas para transformar em algo que o indivíduo e a comunidade podem usar para transformar as suas vidas”, explica.
Inspirada no modelo do Butão e na chamada Ciência da Felicidade, a pesquisa se baseia em nove dimensões essenciais: bem-estar psicológico, saúde, uso do tempo, vitalidade comunitária, educação, cultura, meio ambiente, governança e padrão de vida. Mais do que um levantamento estatístico, o estudo pretende transformar esses dados em insumos estratégicos para a criação de políticas públicas e projetos sustentáveis alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da União das Nações Unidas (ONU).
A pesquisa integra um programa mais amplo chamado Feliz Cidade Sustentável, que prevê ações de longo prazo para melhorar o bem-estar da população. Além da coleta de dados, a iniciativa inclui um curso gratuito chamado Trilha de Aprendizagem: Como Ser + Feliz, baseado em metodologias aplicadas nas universidades de Harvard e Yale, que ensina felicidade como uma habilidade prática. Também será criada uma Plataforma de Projetos ODS, um espaço para conectar empresas, ONGs e governos a soluções inovadoras voltadas para o desenvolvimento sustentável.

Participe
Os brasilienses interessados em participar da pesquisa podem acessar o site do projeto, responder ao questionário e receber um diagnóstico personalizado sobre seu próprio bem-estar, com orientações sobre qualidade de vida.
Além disso, todos os participantes garantem uma vaga em um curso digital com a Trilha de Aprendizagem: Como Ser + Feliz Todo Dia. Mais do que um simples levantamento de dados, essa iniciativa coloca Brasília na vanguarda de um movimento que busca repensar o que realmente significa viver em uma cidade próspera.
Os resultados da pesquisa serão compilados no Relatório de Felicidade, documento que será lançado no Dia Internacional da Felicidade, em 20 de março, e servirá de referência para gestores públicos e privados na construção de políticas mais eficazes para a cidade.
Saiba mais
A proposta de medir a felicidade como um indicador de desenvolvimento já é uma realidade em países como Nova Zelândia e Finlândia, que adotaram métricas de bem-estar em suas políticas públicas.
Estudos apontam que organizações que investem na felicidade de suas comunidades e colaboradores registram aumento na produtividade, na inovação e na adaptação a mudanças, além de redução no absenteísmo e no estresse.
No Brasil, o conceito de Felicidade Interna Bruta ainda não está consolidado, mas o lançamento da pesquisa em Brasília pode abrir caminho para que o bem-estar se torne um critério relevante na tomada de decisões governamentais e empresariais.
QR CODE
( aplicação do QR CODE que vai ser gerado pelos pesquisadores para a versão imprensa.)

