Desde que foi anunciado com grande pompa em junho de 2020, o acordo comercial entre o Banco de Brasília e o Flamengo já tinha um cheirinho ruim. Agora virou fedor: as perdas do BRB com as chamadas contas digitais Nação BRBFla chegavam, em julho, a R$ 455 milhões, com altíssimo nível de inadimplência. Cerca de 26% dos empréstimos feitos, o que representa R$ 112 milhões, estão com mais de 90 dias de atraso. Além disso, os acionistas minoritários do BRB – o majoritário é o governo do Distrito Federal – reclamam da falta de transparência nas informações sobre esse acordo com o Flamengo. Não lhes é fornecida, sequer, a Demonstração do Resultado do Exercício, uma obrigação legal.
Quem ganha com o Nação BRBFla é o Flamengo, não por acaso o time do governador Ibaneis Rocha, que volta e meia aparece em público trajando camisas e outras peças de vestuário do rubro-negro. Não também por acaso, Ibaneis e seus três filhos são donos, desde fevereiro de 2021, de duas franquias da Nação Rubro Negra, a loja oficial do Flamengo. Nenhum outro governador do Distrito Federal, incluindo os botafoguenses José Roberto Arruda, Agnelo Queiroz e Rodrigo Rollemberg, ousou ajudar financeiramente seus times com recursos públicos e ser ajudado por eles com concessão de franquias.
O time do governador, independentemente dos prejuízos do BRB, recebe anualmente R$ 32 milhões do banco para suas equipes de futebol, mais R$ 2,5 milhões para o basquete e R$ 2,5 milhões para montar seu museu. É um patrocínio milionário, quando tradicionalmente o BRB se limitava a patrocinar, com valores modestos, times de futebol, basquete e vôlei do Distrito Federal. Aliás, os gastos com marketing do BRB, um banco local com baixa inserção nacional, têm sido estratosféricos: R$ 80 milhões.
Mas os problemas do BRB não estão só no Flamengo. O banco foi acusado pelo Banco Central de manipular seus balanços de 2022 e 2023, para apresentar lucros quando na verdade sofreu prejuízos. Os lançamentos indevidos nos balanços do BRB somam R$ 321 milhões. As alterações nos balanços mostraram a realidade da péssima gestão do BRB: seu valor de mercado caiu, em um ano e meio, de R$ 9,3 bilhões para R$ 4,7 bilhões, uma queda de 49,1%. Mesmo assim, o banco anuncia venda de ações em baixa e distribui dividendos de R$ 52 milhões para seus acionistas – basicamente, o governo do DF.
O BRB havia anunciado no primeiro trimestre de 2023 um lucro líquido de R$ 69,9 milhões. A imprensa, dócil graças à pesada injeção de verbas publicitárias, exaltou, como sempre, o resultado. Só que, na verdade, o que houve foi um prejuízo de R$ 23,7 milhões. E o lucro obtido no primeiro semestre (R$ 42,1 milhões) deve-se a manobras como o lançamento de créditos tributários de R$ 71,6 milhões. Mas o resultado operacional do BRB nesse mesmo período foi negativo: menos R$ 23 milhões.
Outro problema enfrentado pelo BRB foi o cancelamento, pela Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, de um acordo operacional para exploração de jogos e loterias. A instituição portuguesa, conforme relato do jornalista Vicente Nunes, correspondente do Correio Braziliense, desistiu do acordo, fechado em abril, que repassaria ao BRB cerca de R$ 77 milhões. A nova direção da Santa Casa viu indícios de problemas e cancelou o contrato.
Um relatório da agência de riscos Moody´s, também citado por Nunes, rebaixou a classificação do BRB e apontou uma deterioração da rentabilidade do banco. Diante de tantos indícios de problemas que podem ir além dos operacionais, deputados distritais querem levar à Câmara Legislativa o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, para explicar todas as lambanças e a má gestão. A temperatura ainda pode subir.