Vivemos numa era em que estar ocupado virou medalha de honra. A rotina acelerada, os compromissos empilhados e as notificações incessantes nos fazem acreditar que produtividade é sinônimo de valor pessoal. Mas como bem disse Austin Kleon, autor do best-seller Roube Como um Artista, “quando fico muito ocupado, fico idiota”. Parece provocador, mas é uma verdade que muitos criativos reconhecem na pele. O excesso de tarefas atrofia a mente criativa. O vazio, o tédio, o silêncio — esses sim são os verdadeiros catalisadores das grandes ideias.
Nietzsche já alertava: “A maior parte do pensamento acontece quando estamos caminhando sozinhos” (Ecce Homo, 1888). Ele sabia que o pensamento profundo exige espaço. E não é apenas uma questão filosófica — a neurociência também confirma. Estudos mostram que quando o cérebro entra em modo “default”, ou seja, quando não está concentrado em uma tarefa específica, ativa uma rede interna que favorece a introspecção, a criatividade e a resolução de problemas. Em outras palavras, precisamos desocupar a mente para que ela funcione no seu melhor.
Pense nas suas ideias mais geniais. Quantas delas surgiram no meio de uma reunião frenética? E quantas apareceram num banho demorado, numa caminhada sem rumo ou enquanto você encarava o teto? Pois é. Steve Jobs era conhecido por agendar longas caminhadas justamente para pensar. Ele entendia o valor do tempo vazio. Picasso dizia que “sem grande solidão, nenhum trabalho sério é possível”. E se o artista precisava de solidão, o ser humano comum também precisa de pausas para respirar e reorganizar o caos mental.
Infelizmente, nossa cultura aprendeu a demonizar o ócio. Somos ensinados desde cedo que “mente vazia é oficina do diabo”. Mas e se for exatamente o contrário? E se a mente vazia for a oficina de Deus, da arte, das descobertas, das revoluções interiores? O sociólogo Zygmunt Bauman, em Modernidade Líquida, fala sobre como o tempo moderno escorre entre os dedos, sempre apressado, sempre à procura do próximo compromisso. Ele alerta para o perigo de viver ocupado demais para viver de verdade.
Ter tempo livre não é preguiça, é investimento. É ali que a criatividade encontra espaço para florescer. É nesse intervalo que nos escutamos de verdade, sem o ruído externo que nos empurra para fora de nós mesmos. Se queremos viver com propósito e produzir com autenticidade, precisamos resgatar o direito de fazer nada — e fazer isso com prazer.
Então, da próxima vez que o tédio bater, abrace-o como quem encontra um velho amigo. Porque talvez, ali, no meio do nada, esteja a faísca da sua próxima grande ideia.