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segunda-feira, junho 16, 2025

Vaidade: o primeiro passo para a queda

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Poucas coisas são tão sedutoras quanto a vaidade. Ela começa pequena: um elogio recebido, um olhar admirado, um sucesso alcançado. Mas rapidamente se transforma em um espelho distorcido, onde só enxergamos a nossa própria imagem. A vaidade é a raiz silenciosa da corrupção, porque alimenta o ego ao ponto de justificar qualquer desvio moral para manter a aparência de grandeza. É por isso que, como advertia Santo Agostinho, “é mais fácil combater a luxúria do que a vaidade, pois esta se disfarça de virtude” (Confissões, Livro X).
A vaidade se infiltra no coração humano quando o valor pessoal passa a depender da aprovação externa. Quando isso acontece, o indivíduo deixa de agir por convicção e começa a viver de aparências. Esse comportamento, embora socialmente aceitável, é perigoso, pois abre espaço para pequenas transgressões: mentiras para parecer mais competente, exageros para manter o status, omissões para não parecer fraco. Aos poucos, o indivíduo vai corrompendo a própria integridade para sustentar uma imagem ilusória.
O filósofo francês Jean-Jacques Rousseau dizia que “o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”. Uma leitura interessante dessa frase aparece quando pensamos na vaidade como produto do olhar do outro. Quando o valor de alguém depende da comparação social, da competição por reconhecimento e do medo de parecer pequeno, a vaidade se torna um combustível para atitudes desonestas. Políticos mentem, empresários fraudam, artistas vendem sua autenticidade – tudo para manter a fama, o poder, o prestígio.
Nietzsche, em “Além do Bem e do Mal”, fala sobre como muitas vezes confundimos o orgulho do espírito com uma virtude, quando na verdade é só vaidade intelectual. Essa vaidade “filosófica” leva o indivíduo a rejeitar qualquer ideia que não confirme sua superioridade, tornando-o incapaz de aprender e crescer. É a vaidade travestida de razão – e isso também é corrupção: uma corrupção do saber.
Na vida cotidiana, vemos isso nas redes sociais, onde a vaidade reina absoluta. Likes, curtidas, comentários – são moedas de vaidade que alimentam uma falsa sensação de valor. Jovens (e adultos) perdem tempo, saúde e até a paz tentando parecer bem-sucedidos, bonitos e felizes. Mas esse jogo é cruel. Quando o “eu real” não acompanha o “eu virtual”, instala-se uma crise silenciosa que pode levar à depressão, à ansiedade e à frustração. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em “A Sociedade do Cansaço”, destaca como essa autoexposição constante é uma forma moderna de dominação: o sujeito acredita estar livre, mas está escravo da sua própria imagem.
É preciso, então, um ato de coragem para romper com a vaidade. Significa aceitar-se como é, reconhecer limites, fracassos e vulnerabilidades. É aí que começa a verdadeira liberdade. A sabedoria reside na humildade, pois como disse Sócrates, “só sei que nada sei” (Platão, Apologia de Sócrates). Quem reconhece sua ignorância está menos vulnerável à corrupção da vaidade, porque sua segurança não vem da imagem que projeta, mas da essência que cultiva.
Vaidade não é só um defeito moral: é o portal da queda. Toda corrupção começa com o desejo de parecer mais do que se é. Resistir a ela é o primeiro passo para viver com integridade.

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