Se a ética for apenas uma construção social, então nada seria objetivamente errado ou certo, pois tudo dependeria das normas e costumes de cada sociedade.
Mas será que podemos afirmar que não há nenhum princípio moral absoluto?
Essa questão é um dilema clássico da filosofia moral.
Desde os sofistas da Grécia Antiga até os filósofos contemporâneos, o debate entre relativismo e objetivismo moral continua vivo. Para os relativistas, como Protagoras e Michel Foucault, a moralidade é um produto cultural: o que é certo em uma sociedade pode ser errado em outra, e não há um fundamento universal para julgar. Por exemplo, práticas que hoje consideramos imorais, como a escravidão, já foram amplamente aceitas em outras épocas. Isso parece indicar que a moralidade muda conforme o tempo e o contexto.
Por outro lado, filósofos como Platão e Immanuel Kant argumentam que existem princípios morais absolutos. Platão acreditava que o Bem era uma entidade objetiva, acessível pela razão, e que os valores morais não dependiam da sociedade, mas de uma realidade metafísica imutável. Kant, por sua vez, formulou o Imperativo Categórico, que sugere que certas ações são moralmente corretas ou erradas independentemente das circunstâncias. Por exemplo, mentir seria sempre errado, pois não pode ser universalizado sem contradição.
O problema do relativismo moral é que ele pode levar a consequências perigosas. Se não há certo ou errado objetivo, como condenamos atrocidades históricas? Se os nazistas acreditavam que suas ações eram moralmente justificadas, podemos realmente dizer que estavam errados? O relativismo parece abrir espaço para um perigoso niilismo moral, onde qualquer coisa pode ser justificada com base em costumes locais.
No entanto, o absolutismo moral também tem seus desafios. Se há verdades morais objetivas, onde elas estão e como podemos conhecê-las? Seriam elas uma invenção da razão humana ou derivadas de alguma ordem cósmica? Se dissermos que a moralidade vem de Deus, caímos no dilema de Eutífron: algo é bom porque Deus ordena, ou Deus ordena porque é bom? Se for a primeira opção, a moralidade parece arbitrária; se for a segunda, então o bem existe independentemente de Deus.
Talvez a resposta esteja em um meio-termo: algumas normas podem ser socialmente construídas, mas certos princípios fundamentais, como o respeito à vida e à dignidade humana, podem ter bases objetivas. Essa é a posição de filósofos como John Rawls, que busca princípios de justiça universais, mas construídos a partir de um consenso racional.
No fim, a questão continua aberta. Se tudo é relativo, como justificamos condenações morais? Se há um bem absoluto, onde ele se encontra? A moralidade é um jogo de poder, como dizia Nietzsche, ou há algo mais profundo que transcende a cultura?