O artista brasiliense João Trevisan recebeu convidados na Galeria Raquel Arnaud (SP), em evento para colecionadores e convidados, de pré-abertura da exposição O Dorso do Tigre. Vale reforçar que o jovem artista ganha grande espaço na galeria e é um nome bem promissor nas artes plásticas.
Sob a curadoria de Mateus Nunes, a exposição é um convite para um mergulho em momentos de reflexão e de busca por tranquilidade vivenciadas e propostas pelo artista brasiliense, no turbilhão do mundo contemporâneo, por meio de obras que exploram espaço, luminosidade e colorimetria.
A mostra reúne aproximadamente 40 produções pictóricas inéditas, divididas em quatro grupos, distribuídos pelos dois pisos da galeria: Intervalos, Intersecções, Paisagense Monocromos. Uma oportunidade de apreciar a sensibilidade e a profundidade de Trevisan, que faz parte de uma nova geração de artistas minimalistas, com influências do abstracionismo geométrico.
O Dorso do Tigre não é apenas um título intrigante, mas também uma referência à obra literária do paraense Benedito Nunes. Segundo o curador, todos nós estamos “sobre o dorso do tigre”, um animal com base e aparência sólidas, mas com a área dorsal ondulante, uma metáfora do constante movimento e da transformação da vida.
Para a produção de cada tela de João, há um processo que dura cerca de três meses, com sucessivas camadas de tinta acrescentadas na superfície até obter a textura desejada, inaugurando novas noções de profundidade e velatura cromática, em que as cores ora se revelam, ora se escondem.
“Minhas obras demandam muitos movimentos físicos. O que mais prezo durante a criação é a busca por um silêncio, por uma tranquilidade, pela calma. Estamos todos muito caóticos, muito densos”, explica o artista.
As graduações em Geografia e Direito, e os ensinamentos budistas, o influenciaram profundamente, combinados a elementos de estética e filosofia. As noções de espaço também estão muito presentes, desde quando era instigado pelas andanças nas ferrovias de Brasília, no Park Way, onde cresceu, até as vivências de campo durante sua formação como geógrafo. Seu trabalho carrega a essência do “caminhar para desbravar”.
João Trevisan convida os visitantes a explorarem suas obras, caminhando ao redor delas para apreciar plenamente a riqueza das cores e da luz. Sua pesquisa sobre luminosidade surgiu do pensamento sobre como a luz é uma matéria em si mesma, como os volumes da pintura podem se tornar uma matéria que se relaciona com a luz, e como essa luz alcança as pessoas.
Essa exploração é enriquecida por sua experiência com escultura, sombra, sol e a relação entre a chuva e o tempo. Além disso, realiza um estudo meticuloso de colorimetria, explorando o uso do branco e do preto para criar efeitos visuais impressionantes, que desafiam a percepção dos espectadores.
“O trabalho do João é muito atento a uma tradição da história da arte, muito ligado à fatura, mas há também a subjetividade. Ele tem a sensibilidade de prestar atenção nas coisas num tempo mais dilatado, que vem muito do budismo, como o respeito ao tempo da produção”, analisa Mateus Nunes.
A série Paisagens, por exemplo, retrata as montanhas de Minas Gerais, sempre com um lago no centro, expressando acolhimento e a busca por serenidade após a perda do pai para a Covid-19. Cada obra é uma homenagem à ligação com a família e às viagens que marcaram sua infância. A primeira criada, intitulada “Boa noite, meu pai”, simboliza esse desejo de encontrar a paz.
Sobre João Trevisan
Pautada por um pensamento essencialmente escultórico, a produção de João Trevisan caminha entre escultura, pintura, desenho, performance e vídeo para investigar e materializar pensamentos sobre tensão, peso, leveza, articulação, equilíbrio e corpo. Parafusos, placas e dormentes de madeira, coletados nos arredores das linhas férreas de Brasília, são as matérias fundadoras das esculturas de Trevisan, que se desdobram em corpos que ocupam o espaço, emulando tensões e articulações também presentes no próprio corpo do artista. Em suas pinturas, a exemplo da série Intervalos, sucessivas camadas de tinta são acrescentadas na superfície até obter a textura desejada, inaugurando novas noções de profundidade e velatura cromática onde as cores ora se revelam, ora se escondem.
João Trevisan é bacharel em Direito e licenciado em Geografia. Começou a expor suas obras em 2014 e foi indicado no prêmio PIPA nos anos de 2019 e 2020. Em 2019, participou da Casero Residência, no Parque Nacional Itatiaia (RJ).
Recentemente expôs no Museu de Arte Sacra de São Paulo (2021), Slag Gallery (EUA, 2021); Museu Nacional (Brasília, 2020/2021), Central Galeria (São Paulo, 2020); FORO.SPACE (Colômbia, 2019). Suas obras são parte das coleções de instituições públicas e privadas do Brasil e do exterior. Seus trabalhos estão em acervos de coleções como Casa da Cultura da América Latina; Museu de Arte do Rio; Museu Nacional da República e Museu de Arte de Ribeirão Preto. João Trevisan foi um dos dez artistas escolhidos para participar do projeto “Forever is Now”, a primeira exposição de arte contemporânea na Giza Plateau, no Egito, em outubro de 2021.
Sobre a Mateus Nunes
Mateus Nunes (Belém/PA, 1997) é curador e pesquisador. Doutor em História da Arte pela Universidade de Lisboa, desenvolve pós-doutorado em História da Arte e da Arquitetura na USP e é professor do MASP. Seus escritos são publicados em revistas de arte como Artforum, ArtReview, Flash Art, Terremoto, seLecT e ZUM.
Sobre a Galeria Raquel Arnaud
Criada em 1973, com o nome de Gabinete de Arte. Com espaços marcantes assinados por arquitetos como Lina Bo Bardi, Ruy Ohtake e Felippe Crescenti, o Gabinete passou por diferentes endereços, como as avenidas Nove de Julho e Brigadeiro Luís Antônio, além do espaço que havia pertencido ao Subdistrito Comercial de Arte, na rua Artur de Azevedo, em Pinheiros, no qual permaneceu de 1992 a 2011.
O foco no segmento da abstração geométrica e a atenção especial dada às investigações da arte contemporânea – arte construtiva e cinética, instalações, esculturas, pinturas, desenhos e objetos – perpetuaram a Galeria Raquel Arnaud no Brasil e no exterior, tanto por sua coerência como pela contribuição singular para valorização e consolidação da arte brasileira. Para isso, contribuíram de forma fundamental artistas como Amilcar de Castro, Willys de Castro, Lygia Clark, Mira Schendel, Sergio Camargo, Hércules Barsotti, Waltercio Caldas, Iole de Freitas e Arthur Luiz Piza, entre outros.
Atualmente com sede na rua Fidalga, 125, Vila Madalena, a Galeria Raquel Arnaud representa artistas reconhecidos nacional e internacionalmente – Waltercio Caldas, Carlos Cruz-Díez, Arthur Luiz Piza, Sérvulo Esmeraldo, Iole de Freitas, Maria Carmen Perlingeiro, Carlos Zilio e Tuneu. Os mais jovens atestam a consolidação de novas linguagens contemporâneas – Frida Baranek, Geórgia Kyriakakis, Daniel Feingold, Julio Villani, Célia Euvaldo, Wolfram Ullrich, Elizabeth Jobim, Carla Chaim, Carlos Nunes e Ding Musa.
Raquel Arnaud também fundou o Instituto de Arte Contemporânea (IAC) em 1997, a única instituição no Brasil que cataloga documentação de artistas.
Serviço
O Dorso do Tigre, de João Trevisan
Local: Galeria Raquel Arnaud. Rua Fidalga, 125 – Vila Madalena, São Paulo – SP.
Abertura: 11 de novembro, sábado, das 11h às 15h
Período expositivo: 11 de novembro de 2023 a 9 fevereiro de 2024
Horários de visitação: segunda a sexta, das 11h às 19h | sábado, das 11h às 15h
Entrada gratuita.