Azougue Nazaré” entra em exibição no Carnaval em ritmo de maracatu
Leia entrevista com o diretor do filme, Tiago Melo, produtor de “Bacurau”
Quando samba, marchinhas e batuques que marcam o Carnaval estiverem soando nas diferentes latitudes da capital do país, dentro do Cine Brasília quem dará o tom é o maracatu rural de baque solto, estilo de música de matriz africana, ligado à Zona da Mata de Pernambuco, que o filme “Azougue Nazaré”, de Tiago Melo (produtor de “Aquarius”, “Boi Neon”, “Bacurau” e “Divino Amor”), traz de volta à telona.
O filme pernambucano conta a história de acontecimentos misteriosos que assustam os moradores de Nazaré da Mata, município onde o filme foi rodado. A cidade, a 66 quilômetros de Recife, é conhecida por ser a capital do maracatu rural, além de ter a maior área de canaviais no Brasil. É nesse cenário que um pai de santo pratica ritual religioso com cinco caboclos, que ganham poderes, incorporam entidades e desaparecem.
“O Maracatu é uma arte de pura resistência, e eu quis colocar isso na tela, mostrar como a arte pode superar preconceitos, bloqueios, ameaças e intolerância”, diz o diretor no material de divulgação da película. Em foco a história de um ex-maracatuzeiro que se torna evangélico e passa a combater a dança porque diz ser inspirada pelo diabo. É o cinema de Pernambuco recorrendo de novo à alegoria (vide “Bacurau”) para fazer crítica a eventos contemporâneos.
O gerente do Cine Brasília, Rodrigo Torres, explica que “Azougue Nazaré” esteve apenas uma semana em cartaz na capital federal durante seu lançamento, em novembro do ano passado, e merecia uma janela maior de exibição. “Trata-se de um filme importante, que faturou 20 prêmios em 37 festivais ao redor do mundo”.
Confira a seguir entrevista feita com Tiago Melo:
Pode explicar o nome do filme?
Vem da bebida “azougue”, uma mistura de ervas, limão, cachaça e pólvora. Ela é enterrada por sete dias antes de ser consumida pelo caboclo de lança, figura do folclore do maracatu rural. Segundo a tradição, isso lhe dá proteção para brincar o carnaval. “Nazaré” se deve ao nome da cidade, onde o filme foi rodado.
Pernambuco volta a comparecer com uma alegoria (vide “Bacurau”) para fazer crítica da sociedade. Pode falar sobre este momento do cinema de seu estado?
A gente está num dos melhores momentos em termos de visibilidade, público e crítica. Isso se deve ao edital que existe há doze anos em Pernambuco, que nos permite exercitar, produzir e viabilizar em filmes as ideias que a gente tem. Essa safra é resultado desse processo. Um edital não garante filmes bons, mas possibilita a produção deles. A gente vê que o “Parasita”, vencedor do Oscar, também é fruto de uma política de incentivo ao cinema na Coreia do Sul.
Qual a importância de um filme que retrate a chamada cultura popular?
É um reconhecimento muito importante para o maracatu rural. Dedicamos todas as nossas premiações aos folgazões dessa dança, aos grandes artistas que são. O filme critica uma prática que é a de desvalorizar a cultura popular, que sempre recebe menos em termos de remuneração por show e custos logísticos que outras modalidades, como o forró por exemplo.
Por isso também o recurso de fazer o filme com praticantes da cultura popular e não com atores de fora?
Sim, a gente gravou com esses artistas, pela força e a potência da arte deles, o que ajuda a explicar o reconhecimento do filme pela crítica e o público.
Em horário nobre segue o vencedor do Oscar como melhor filme e melhor filme internacional, “Parasita”. “Inaudito” também continua, completando a grade. Veja a seguir as fichas técnicas, sinopses e trailers dos filmes.
“Parasita” (título original Gisaengchung)
De Bong Joon-ho (2019, Coreia do Sul, ficção/suspense, 132 minutos, 16 anos)
Elenco: Kang-ho Song, Sun-kyun Lee e Yeo-jeong Jo
Sinopse: Todos os quatro membros da família Ki-taek estão desempregados, porém uma obra do acaso faz com que o filho adolescente comece a dar aulas privadas de inglês à rica família Park. Fascinados com o estilo de vida luxuoso, os quatro bolam um plano para trabalhar na casa burguesa. É o início de uma série de acontecimentos incontroláveis dos quais ninguém sairá ileso.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=m4jfE-TxC24
“Azougue Nazaré”
De Tiago Melo (2018, Brasil, drama, 84 minutos, 14 anos)
Elenco: Mestre Barachinha, Ananias de Caldas e Joana Gatis
Sinopse: Num canavial que parece não ter fim, uma casa isolada abriga o casal Catita e Irmã Darlene. Catita esconde que participa do Maracatu. Darlene é fiel da igreja do Pastor Barachinha, um antigo mestre de maracatu convertido à religião evangélica, que se vê na missão de expulsar o demônio do Maracatu, evangelizando toda a cidade. Nesse cenário, um pai de santo pratica certo ritual religioso com cinco caboclos de lança. Estes ganham poderes, incorporam entidades e desaparecem. A cidade de Nazaré da Mata testemunha acontecimentos misteriosos.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=NFxE51n0IQo
“Inaudito”
De Gregório Gananian (2017, Brasil, documentário, 88 minutos, 10 anos)
Elenco: Lanny Gordin, Dou Hei Mu e José Roberto Aguilar
Sinopse: O guitarrista Lanny Gordin foi um dos personagens fundamentais na transformação da música brasileira a partir da década de 60: eletrizou Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jards Macalé entre outros. Ele revela seu processo libertário de composição e pensamento atual, embarcando em uma insólita od
isseia pela China, local de nascimento, e Brasil, país onde vive.
Trailer: https://vimeo.com/201611494
Programação
De 20 a 26/02 (como não haverá apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro durante o carnaval, o Cine Brasília terá sessões na segunda, 24 e terça-feira, 25).
Horários:
16h – Inaudito
18h – Azougue Nazaré
20h – Parasita
Serviço
Entrada paga, R$ 12 (inteira). Bilheteria só aceita dinheiro, não cartões.
Endereço: Asa Sul, entrequadra 106/107. Telefone: (61) 3244-1660.