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segunda-feira, maio 12, 2025

Brasília Amarela

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Brasília Amarela

– Por que não tem muitos carros coloridos, papai?

Taí. Por quê? Minha filha mais velha, de quatro anos, adora carros vermelhos. Acha bonito. Mas percebeu que não existem muitos carros vermelhos rodando por aí em Brasília. Na verdade, não existem muitos carros coloridos em geral: azul, verde, vermelho, laranja…

Já a filha mais nova, de um ano, tem preferência por carros amarelos. Essa, coitada, quase não vê nenhum na rua. Apenas carros prateados, cinza claro, cinza chumbo, brancos, pretos. Nada de cores.

Se você olhar uma foto mais antiga, no entanto, verá que nem sempre foi assim. As fotos disponíveis na página Histórias de Brasília, mostram, por exemplo, o estacionamento do Congresso e do Supremo na década de 1970 lotados de carros coloridos. São fuscas, opalas, kombis e, claro, brasílias em várias cores – amarelo, azul, vermelho, verde e até laranja.

E não apenas as ruas e os carros. No passado, tínhamos uma Brasília mais amarela em dezembro, toda enfeitada com as luzes de natal.

E olha que naquela época não tinha luzinha de led nem nada. Eram aquelas lâmpadas incandescentes mesmo, o que, por sua vez, não era óbice para que os brasilienses do passado pendurassem em tudo quanto é tipo de prédio e lugar, dos ministérios até a torre.

E foi por essa época que João de Santo Cristo chegou à capital, viu as luzes de natal e disse “Meu Deus, mas que cidade linda”. E por aqui ficou e fez história. Realmente era um espetáculo bonito de ser ver.

Hoje em dia a noite está escura. Estamos em dezembro, e vemos aqui e acolá um facho de luz, tímido, isolado, indicando que o natal está próximo, mas a exuberância das cores, dos enfeites e da luz se perdeu no passado. Da mesma forma que as ruas e os carros ficaram sem cores com o tempo.

Parece que a vida em preto-e-branco do passado era afinal mais colorida que a nossa cinzenta realidade. Mas onde estão as cores?

A questão das luzes de natal tem uma explicação óbvia, econômica. Nada de gastar dinheiro com enfeites e luzes de natal em tempos de crise. Mas e quanto aos carros?

Minha filha perguntou por que não existiam muitos carros coloridos e eu falei que as pessoas, eu incluído, preferiam comprar carros mais sóbrios e menos ousados, como preto, branco e cinza. Uma vida monocromática e sem graça, foi o que ela pensou e eu percebi pelo seu olhar decepcionado.

Ela disse que quando crescesse teria um carro vermelho, outro rosa e um terceiro laranja. (E a mais novinha gritando “amarelo, amarelo”). Não sei se esse ímpeto de colorir as ruas persistirá quando chegar a fase adulta.

Pelo menos elas estão fazendo a parte que lhes cabe hoje, ligando o pisca de natal todo dia lá em casa e pintando as paredes brancas de giz de cera.

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