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sábado, maio 11, 2024

Escolas fechadas e o Brasil de férias

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Escolas fechadas e o Brasil de férias

Shoppings abertos e escolas fechadas – o Brasil está de férias!

Os restaurantes cheios, os cinemas funcionando, os clubes de portas abertas, shoppings retomando o movimento e os parques fervilhando. Tirando as filas enormes para os filmes infantis, estamos vivendo um grande e longo janeiro, onde a cidade funciona em ritmo mais lento e as escolas permanecem fechadas.

Um janeiro que vem pelo menos desde junho, e vai seguindo até se encontrar com o janeiro de verdade. Brasília está de férias. Férias escolares, onde tudo funciona, menos as escolas.

A hera vai crescendo entre o quadro-negro e os murais. O mato invade o parquinho e a quadra de esportes. O pátio do recreio afunda num silêncio de morte, saudoso das brincadeiras, das corridas e das gritarias. Há rachaduras na sala dos professores e o muro colorido já ameaça cair. A cantina acumulando poeira e teias de aranha.

Já ouvi que o atraso do Brasil vinha da carência de educação. Que deveríamos valorizar os professores e as escolas e investir mais em educação.

Mas, curiosamente, muitos dos que falaram sobre valorizar professores e as escolas hoje protestam contra a reabertura das escolas e, talvez para dar uma economizada, rescindiram a matrícula do filho, sem se importar com o fato de que essa ação tenha resultado na demissão de professores.

Mas a segurança dos filhos deve vir em primeiro lugar, certo? Em muitos casos sim. Em muitos outros, porém, é só a mesquinha saúde do bolso mesmo.

Mas reabrir a escola coloca os professores em risco, não é verdade? Os entregadores de aplicativo podem correr riscos, os garçons podem correr riscos, os lojistas, os empresários, os bancários, os professores de academia, os funcionários de shopping e cinema, os policiais, os porteiros, o pessoal da faxina – todos podem correr riscos, menos os professores!

Porque, afinal, eles são os mestres da próxima geração, e por isso devemos cuidar bem dessa categoria. Mesmo que o fechamento das escolas por tempo indefinido signifique a falência de muitos estabelecimentos. Mesmo que milhares de professores sejam demitidos. Mas é tudo pensando no bem deles!

Deve haver algo de errado em um país onde a escola fica por último na fila das prioridades. Onde tudo vai reabrindo enquanto as crianças ficam em casa.

Já ouvi que o período de fechamento das escolas no Brasil foi um dos maiores do mundo (e ainda não acabou). Infelizmente, nesse caso não era fake news. Era verdade. Já ouvi que deveríamos nos espelhar nas políticas públicas dos países desenvolvidos.

Mas quando Alemanha, Suécia, Inglaterra, Espanha, Portugal, Itália ou Japão já retornaram as aulas, aqui a gente deixou para depois. Porque, claro, num país que não tem a educação em alta conta um ano a mais ou um ano a menos não faz diferença. Podemos deixar para o ano que vem e tentar tirar o atraso nas notas do PISA.

Enquanto isso, seguimos de férias. Parque, brincar debaixo do bloco, um passeio no shopping ou no clube são algumas opções. Menos a escola.

Rodrigo Bedritichuk é brasiliense, servidor público, pai de duas meninas e autor do livro de crônicas Não Ditos Populares

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