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sexta-feira, abril 26, 2024

Nosso querido Mané

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Nosso querido Mané

Essa semana parece que está na moda falar do Flamengo e do time de Jorge Jesus. Mas que assunto mais chato!

Tudo bem, podemos falar do campeão da Libertadores, mas desejo retroceder até um longínquo Flamengo e Gama disputado no nosso glorioso Mané Garrincha anos e anos atrás. Lembrei-me desse jogo, aliás, quando estava visitando outro estádio:

– Mais de 60 mil pessoas assistiam aos espetáculos, mas, impressionantemente, o estádio era todo evacuado em menos de cinco minutos.

Disse o guia, num inglês meio macarrônico, mas que deu para entender. O estádio era o Coliseu, em Roma, e de lá minha memória voou até Brasília, na primeira vez em que fui ao Mané Garrincha.

Como na construção romana, aqui nosso estádio também tem muitos acessos, portões, alas, cadeiras, arquibancadas. Mas, graças à inteligência dos organizadores, naquele jogo houveram por bem fechar todos os portões com a exceção de um. Para completar, deixaram-no fechado até quinze minutos antes do jogo.

O resultado foi aquela aglomeração louca, ameaça de invasão, policiais nervosos, grades quase sendo quebradas e a possibilidade de um pisoteamento geral. Os portões se abriram como um dique que se rompeu, e cada qual seguiu para o lado que o levou a grande massa de pernas, sem autonomia para direcionar o rumo de seus passos. Em suma, um dia normal nos estádios brasileiros.

Anos mais tarde, fui a um Brasil e Chile, e a confusão na entrada foi a mesma, com a única diferença que o jogo foi à tarde, e não à noite. De resto, a mesma aglomeração desnecessária e perigosa.

Alguém pode alegar que o padrão Fifa imposto em virtude da Copa de 2014 melhorou as coisas, mas se engana. Na verdade, ficou pior, porque agora acrescentaram dificuldades aos carros.

Pois vejam, temos uma enorme área de asfalto, livre, circundando todo o estádio, e algum forasteiro pode pensar que se trata de um amplo estacionamento para os que frequentam o estádio, sem saber o coitado que aquela área serve apenas para estacionar alguns ônibus e treinar direção. Eis o legado Fifa – não podemos nem mesmo estacionar na área em volta do Mané, porque desde então eles querem um raio de não sei quantos quilômetros ao redor do estádio!

Além da dificuldade de entrar e sair, nosso estádio possui episódios marcantes na vida da cidade, a começar pela sua reforma. Marcaram cerimônia pomposa com presença de autoridades para implodir a estrutura antiga e construir a nova. Colocaram as bombas, interromperam o trânsito e na hora de acionar o botão vermelho… nada.

Até então, todos sabiam da deficiência do poder público brasileiro em construir obras, mas foi a primeira vez que vimos que somos ruim também em destruir. E assim o novo Mané começou.

Mané não, porque o nome oficial era Estádio Nacional de Brasília. Mas depois de muita briga, resolveram incorporar Mané Garrincha ao nome oficial. Quem sabe chegará o dia em que o Mané entrará em disputas por nome, como a Ponte Costa e… Honestino… – aquela do Pontão! (Que os flamenguistas, o senhor governador incluído, não me ouçam e comecem a pensar em coisas como “Estádio Nacional de Brasília Gabigol”).

E o que dizer da capacidade máxima do estádio? Nada menos que 72 mil pessoas cabem no novo Mané. Mais do que os 50 mil do Beira-Rio, os 45 mil da Arena Corinthians e 61 mil do Mineirão. Algo um tanto quanto megalomaníaco para os padrões de Brasília.

Mas em terras de aditivos contratuais e obras superfaturadas, a capital do país deveria dar o exemplo. Por isso a capacidade inflada, por isso o valor final tão exorbitante. Aliás, temos a glória de ter o estádio mais caro do Brasil, quiçá do mundo!

O que não o livra de problemas estruturais. Quem não se lembra da milionária conta de água em 2017. Mais de um milhão de dívida devido a uma falha na ligação de não sei que cano. E isso na época do racionamento.

Enfim, são muitos casos ligados ao nosso querido estádio. De volta ao Coliseu, o guia me identificou como brasileiro e veio feliz puxar assunto:

– Brasil! Kaká! São Paulo!

Sim, porque naquela época o Kaká estava voando baixo no Milan e em toda a Itália. O São Paulo, além de ser o seu ex-clube, havia conquistado o mundial recentemente.

E o Flamengo não era mais que um time de meio de tabela…

Rodrigo Bedritichuk é brasiliense, servidor público, pai de duas meninas e autor do livro de crônicas Não Ditos Populares

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