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quinta-feira, abril 18, 2024

O Brasil caminha para se tornar uma Aleuzenev?

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O Brasil caminha para se tornar uma Aleuzenev?

A campanha eleitoral de 2018 ainda está bem fresca na cabeça dos brasileiros.

Havia um perigo gigantesco de que o país voltasse para as mãos dos corruptos. Eles haviam governado por 13 anos, deixando, no Estado, um espólio de destruição e aparelhamento da máquina pública. Todas 138 empresas estatais federais haviam sido colocadas ao serviço do crime.

Os partidos que se associaram ao Partido dos Trabalhadores, para obter vantagens políticas e financeiras, ocuparam vários ministérios e, sempre sob o comando de Lula e sua quadrilha, contribuíram para o desmanche do Brasil. Fundos de pensão, autarquias, bancos públicos, nada escapou a sanha da cleptocracia.

Após o crepúsculo do governo Temer, tudo indicava a volta da bandidagem ao poder. O STF não negou seu aporte na confirmação dos anseios da horda petista. Apressou-se em revogar seu próprio entendimento em relação ao cumprimento de pena após condenação em segunda instância. Regressou-se ao conceito, jamais consignado em nenhuma Lei, de que prisão apenas após trânsito em julgado.

O candidato Bolsonaro aparecia como a voz que clama no deserto afrontando as potestades, os partidos, os STFs, as grandes corporações (beneficiadas pelos corruptos), os capitais financeiros especulativos e tutti quanti. Seu discurso correspondia aos anseios da imensa maioria dos brasileiros, mas quem era esse tal Bolsonaro, quem o credenciava e lhe dava respaldo? Um deputado de sete mandatos, vinte oito anos pisando o tapete verde da Câmara, sem jamais ter apresentado um só projeto de lei que angariasse o apoio de seus pares. Nenhum assunto relevante. Era o baixo clero do baixo clero. Uma espécie de ser que vive debaixo do tapete e só é lembrado por algum feito folclórico, como o Tiririca e outros lendários deputados da galeria do ostracismo.

A lista dos candidatos à presidência, em 2018, era extensa: Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Fernando Haddad, Alvaro Dias, Henrique Meirelles, Marina Silvia, Jair Bolsonaro, José Maria Eymael, Vera Lúcia Salgado, Guilherme Boulos, Manuela d’Avila, Cabo Daciolo, João Amoêdo e João Goulart Filho. Nada estava definido. Faltava algo que galvanizasse o eleitorado. Não bastava o discurso inflamado, nem condenações eloquentes à corrupção. Aliás, com raríssimas exceções, todos batiam na tecla da luta contra a corrupção, que era a principal reivindicação das ruas.

No entanto, a maioria dos candidatos seguiram o modelo desgastado das campanhas eleitorais do passado, baseada em tempo de propaganda eleitoral gratuita, nas TVs, rádios, distribuição de camisetas e volantes. Apenas os candidatos sem recurso e sem apoios financeiros apelaram para redes sociais e corpo a corpo nas ruas. Mesmo estes eram muitos e disputavam uma audiência cética e descrente.

Tudo mudou para Bolsonaro quando ele conseguiu, inicialmente, divulgar o nome de Sérgio Moro como seu futuro ministro da Justiça. Ainda não era oficial, precisava que o próprio Moro aceitasse a hipotética indicação para que o anúncio ganhasse credibilidade. Moro, que já era considerado como um dos homens mais influentes do mundo em 2017, mas neófito em política, após alguma hesitação, aceitou publicamente emprestar seu nome para a campanha embrionário do candidato desconhecido.

A partir daquele momento a campanha de Bolsonaro decolou e é provável que ele tenha ganho no primeiro turno, mas isso nunca saberemos. Em resumidas contas, essa é a história que todos eleitores, adeptos ou não de Bolsonaro, tem viva na memória.

Após eleito, Bolsonaro formalizou o convite a Moro e confirmou sua total independência para seguir sua luta incansável contra o crime e a corrupção. A Lava Jato ganhava um status de operação vencedora e o mundo inteiro saudava o Brasil pela sua atitude exemplar contra a corrupção, simbolizada pelo PT.

O governo Bolsonaro não demorou a cumprir as primeiras medidas anunciadas na campanha. O acesso legal a posse de arma pelo cidadão ia nesse sentido. Porém, o Projeto de Lei elaborado no Ministério da Justiça, sob a supervisão de Moro, foi deformado no Planalto. Moro chiou, mas aceitou.

Em seguida veio o caso Ricardo Saadi, superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, afastado de forma inesperada por Bolsonaro. A corporação viu com preocupação a interferência direta do Executivo em assunto interno da entidade. Isso não havia ocorrido, nem mesmo durante o governo do PT, acoçado pelas investigações do mensalão, entre outras. Temer, quando investigado no caso dos portos havia tentado indicar um aliado para o cargo de Superintendente Geral da PF, mas logo teve que voltar atrás.

Quando o nome de Flávio Bolsonaro veio às manchetes por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro, aconteceu o caso COAF. O Conselho de Controle de Atividade Financeira, principal órgão de combate à corrupção no país, foi retirado, por Bolsonaro, do Ministério da Justiça e Dias Toffoli, atendendo pedido de Flávio Bolsonaro, resolveu suspender todas as investigações que tivessem recebido informações daquele órgão. Novamente, Moro chiou, mas aceitou.

Outro ponto que assustou a bandidagem foi o Pacote Anticrime, elaborado por Moro e os procuradores da Lava Jato, cujo alcance atingiria políticos, até então incólumes, que poderiam ser confrontados pela justiça. O Planalto manteve um silêncio cúmplice enquanto os corruptos, como chacais, desfiguravam o projeto. Ali também, Moro chiou, mas aceitou.

Outras tentativas de esvaziamento da pasta conduzida por Moro foram ensaiadas, algumas sem sucesso. O pano de fundo, de todas essas investidas de Bolsonaro contra Moro, sempre foi a perspectiva de investigação sobre as milícias cariocas. O temor é que a lavagem de dinheiro e outros crimes, como a morte do ex-capitão do BOPE, Adriano da Nóbrega, pessoa próxima da família Bolsonaro, chegasse a termo. O ex-capitão estava sendo investigado, também, por suspeita de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle.

Mas, finalmente, Bolsonaro conseguiu livrar-se da ameaça. Porém, a forma como a manobra para afastar Moro foi executada é bastante duvidosa. Segundo Moro, a exoneração de Maurício Valeixo, a pedido, publicada no Diário Oficial, não teve sua participação. Logo, se caracteriza falsidade ideológica. Um documento oficial, falsificado no Palácio do Planalto? O ex-juiz denunciou que a exoneração não teve sua participação. Coisa nunca vista. Caso seja confirmada a denúncia de Moro, existe ai matéria para pedido de impeachment.

Se Bolsonaro foi longe demais, chegamos a um ponto de não retorno. Mesmo a manifestação articulada de forma sombria, pela presidência, na qual se pedia o fechamento do Congresso e do STF, não oferecia prova tão cabal de crime de responsabilidade. Aras quer saber o que há de verdade em tudo isso. Estaria Bolsonaro articulando um golpe de estado para salvar sua cabeça? Será que o comando das Forças Armadas se sujeitará a ser comando pelas milícias cariocas? O Brasil estaria caminha para se tornar uma Aleuzenev? Ou seja, uma Venezuela ao contrário.

Por:Fausto Freire

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