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quarta-feira, novembro 13, 2024

O homem que sabia demais

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Saiba como está e o que pensa Eriberto França, ex-assessor de Ana Acioli, secretária particular de Fernando Collor, o homem que ficou conhecido como “o motorista que derrubou o presidente”

Eriberto França é um nordestino de Pereiro (CE) que alegou Brasília como terra natal e, por aqui, se tornou peça chave na investigação que culmi- nou no impeachment do 32o Presidente do Brasil. Acusado de corrupção, Fernando Collor enfrentava um processo de impeachment, agravado pelas denúncias de seu irmão Pedro Collor, que acusou o tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, de ser o articulador das irregularidades. Em uma entrevista à revista Isto É, Eriberto con- firmou as revelações de Pedro Collor, afirmando que as empresas de PC Farias faziam depósitos regulares em contas fantasmas, administradas pela secretária Ana Accioly. Essas informações foram um golpe direto para o presidente.

Durante seu depoimento aos parlamentares que investigavam o caso, Eriberto foi questionado por Roberto Jefferson que viria a ser cassado em 2005, no escândalo do Mensalão sobre suas motivações para expor o esquema.

Sou patriota”, respondeu. “Só isso?”, insistiu Jefferson. Eriberto devolveu:

“E isso é pouco?”

O motorista também confirmou que a secretária lhe entregava o dinheiro usado para pagar os funcionários da Casa da Dinda, a residência oficial de Collor em Brasília, além de contas de luz, telefone e outras despesas pessoais do presidente. Após sair do governo em 1992, Eriberto trabalhou na revista Isto É, para a qual deu a fatídica entrevista que acelerou o afastamento de Fernando Collor.

Depois, ocupou diferentes funções em órgãos públicos, e hoje usufrui da aposentadoria ao lado da esposa, Patricia, com quem é casado desde 1987. Hoje, 32 anos depois de um escândalo que abalou o país, Eriberto reside na Asa Norte, acorda cedo, caminha pelo bairro e faz uma refeição reforçada que vale por café da manhã e almoço, preferencialmente com carne de porco, arroz e legumes.

Nesta conversa com a Revista 61, ele relembra os momentos decisivos do fim do mandato de Fernando Collor de Mello, as implicações para sua vida pessoal e profissional e as perspectivas sobre a política local e nacional. Confira!

Quem é você e qual foi o seu papel na República do Brasil?

Meu nome é Francisco Eriberto Freire França, eu trabalhava na Secretaria da Presidência no governo do Fernando Collor quando começaram as denúncias e as apurações. Eu cuidava de pagamentos, era motorista e um assessor geral por assim dizer. Um dia eu cheguei para trabalhar e estranhei aquele tanto de fotógrafo querendo bater meu retrato, e então eu entendi o que estava em curso.

Com quantos anos você tinha ?

Eu tinha 27 anos, já era casado com a Patrícia e tinha dois filhos com ela e dois anteriores ao relacionamento. Tudo isso me assustou muito na época, como disse naquele momento em entrevista à Isto É: “ou eu morro à bala ou de susto!”.

Como foi na época e como é agora?

Ah, com a cabeça a mil, a gente não conseguia dormir, a noite ficava preocupado. O pessoal alertava, meio na brincadeira, falando que o pessoal do Alagoas era matador, passei uma época sob a proteção da Polícia Federal, quem providenciou foi o finado Maurício Corrêa (ex-senador e ex -presidente do STF) que era muito meu amigo.

Fiquei um tempo fora do país, fiquei até um tempo na fazenda do João Santana, marqueteiro do Lula. Eu temia pela vida dos meus filhos, a família da gente é tudo, imagina, fazer o que eu fiz, um zé ninguém enfrentar um império, eu temia sim, mas a gente não pode viver com medo o resto da vida.

Eu tentei levar na naturalidade, não tive depressão nem nada disso. Hoje é tranquilo, eu vivo normalmente, algumas pessoas me reconhecem às vezes na rua, mas é natural.

Muitos políticos entraram em contato com você na época?

Sim, muitos, querendo que eu me filiasse a este ou aquele partido, não só daqui de Brasília mas de outros estados. Eu não achei que fosse uma boa ideia, iam pensar que estava me aproveitando da situação para entrar na política e não era minha intenção. Me reuni com vários senadores na época, mas não passou disso. Não é minha praia a política.

Mas então como você foi parar logo no gabinete da Presidência da República?

Eu comecei a trabalhar na campanha de 1989, no comitê no Setor Comercial Sul. E eu entrei na então Radiobrás ( atual EBC) e fui requisitado para a Presidência.

E hoje você costuma acompanhar a Política?

Apenas o básico. Confesso que hoje eu vejo como muito um tema complicado de acompanhar, porque acontece uma coisa agora, ao final do dia já mudou tudo, mudou de foco, só tem escândalo, é tanta esculhambação neste Congresso que, às vezes, prefiro não acompanhar.

E o que você pensa do Collor hoje?

Não culpo ele por nada, ele sempre foi um cara muito inteligente, inteligentíssimo. Mas o erro que ele cometeu, de uma forma prepotente e arrogante, foi de querer governar sem o Congresso, querer governar sozinho. Qualquer um que quiser governar sem o Congresso, não importa quem seja, está perdido.

Existe um orgulho de ter sido uma peça chave no desenrolar da política brasileira?

Acontece de pessoas virem até hoje falar “ah, olha ali, o homem que mudou a História do país…”. Não fui eu quem mudei nada. Eu tive ajuda. Eu agradeço muito a meninada, que eu encontrei depois, que me ajudou muito, que foram os Caras Pintadas*. Eles tomaram a cidade, pressionaram o Congresso e foi assim que a coisa ganhou força.

*O movimento dos Caras Pintadas foi uma mobilização de jovens, principalmente estudantes, que ganharam destaque em 1992 ao protestar contra o então presidente Fernando Collor de Mello. Pintando seus rostos com as cores do Brasil, eles pediam o impeachment de Collor, em meio a denúncias de corrupção.

A pressão popular foi decisiva para sua saída do poder, tornando-se um marco na política brasileira pela participação ativa da juventude.

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