Pânico é a arma de todos os candidatos para conquistar votos
Por: Fausto Freire
Nunca um processo eleitoral esteve cercado de tantas incertezas. A primeira, na lista das dúvidas, é o próprio sistema de apuração. Pesquisas recentes mostraram que a maioria dos eleitores não confia nas urnas eletrônicas. Mas as dúvidas não param por ai… Um empate persistente entre a maioria dos candidatos deixa em suspenso quais deles poderiam ir para uma provável segunda rodada. Também, há quem tenha dúvidas se um segundo turno ocorrerá. No entanto, essa é a menos duvidosa no elenco das incertezas. Com um tal número de candidatos em empate técnico, uma vitória de qualquer um que seja no primeiro turno, parece estar completamente descartada.
Os candidatos, também, demonstram pouca convicção em seus discursos de vitória. Em suas declarações ufanistas eles manifestam sua clara insegurança. Napoleão dizia que quem teme ser vencido tem a certeza da derrota. Por isso, ainda os menos pontuados nas pesquisas de intenção de voto, tentam ostentar uma autoconfiança totalmente inconvincente.
Esse quadro de desconfiança faz com que cada candidato se abstenha de mostrar suas convicções, suas verdadeiras intenções, e reduza seu discurso a promover o pânico, em face da ameaça representada pelos concorrentes. Essa tem sido a tônica do discurso dos presidenciáveis. Mas é muito pouco. Talvez seja esse componente que acentua a polarização da campanha. Se as pesquisas merecessem algum crédito, poderíamos supor que um segundo turno estaria fadado a ser disputado entre a direita e a esquerda. Mas as experiências anteriores nos mostram que não há como confiar nos números das pesquisas.
De fato, na última eleição presidencial, os institutos apontavam um segundo turno entre Dilma e Marina, mas não foi isso o que se viu. Aécio Neves cresceu nos últimos dias e a dobradinha feminina foi superada pelo duelo persistente entre PT e PSDB.
Outra dúvida recorrente diz respeito ao sistema jurídico que rege nossas instituições. Nossos ministros da Corte Suprema mudam de opinião, sobre temas cruciais para a estabilidade institucional, com mais frequência que uma adolescente romântica em relação aos seus namorados.
O mais preocupante, nessas quinadas ideológicas do STF, é que a população já não confia na lisura que preside as mudanças de opinião nas instâncias superiores. Elementos estranhos ao exercício da justiça estariam a influenciar decisões importantes? Como o enriquecimento ilícito não é criminalizado, em nosso país, seria difícil acusar um magistrado de corrupção passiva. Mas não se trata apenas de corrupção em primeiro grau. Existe aquela corrupção incrustada no DNA institucional.
O que se observa é a degradação política, jurídica e institucional do país a cada novo processo eleitoral. O financiamento privado das campanhas foi apontado como sendo o grande vilão, estando na origem das nossas mazelas. Hoje, esse mal foi extirpado, mas com isso seremos melhor representados no Congresso, nos governos estaduais e no governo federal?
Isso veremos a partir de 1 de janeiro. Há remotas chances que, ganhe quem ganhe, o país estará pronto para superar a atual conjuntura. Surgirão 12 milhões de emprego num passe de mágica? Os inadimplentes terão suas dívidas zeradas? A insegurança e o crime serão reduzidos à bala?
Fernando Pessoa, na lira de Álvaro de Campos, declarava: “O mundo é para quem nasce para o conquistar / E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.” Todos se acham cobertos de razão, porém existe um determinismo cruel que reduz muitas ilusões a pó