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quarta-feira, abril 24, 2024

Sobre o mundo pós-covid: o apressado das filas

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Sobre o mundo pós-covid: o apressado das filas

Desemprego, crise econômica e pânico social. E por outro lado flexibilidade da jornada de trabalho, maior oferta de serviços médicos e maior solidariedade. São muitas as previsões sobre como será o mundo pós-covid.

Hoje li um artigo falando sobre a quebra das cadeias mundiais de produção, o aumento do protecionismo e outras coisas econômicas. Muito me intriga imaginar como será o mundo daqui para frente. Mas não tenho lido muito sobre coisas realmente essenciais, apenas questões como a quebra das cadeias mundiais de produção.

Por exemplo, não li artigos científicos ou tratados sociológicos sobre a exposição das raízes dos cabelos. Não importa o quanto a senhora ande escondendo as rugas atrás de máscaras, ou plásticas – suas raízes brancas nos revelaram sua idade. Além disso, em breve veremos que não há loiras no Brasil, ou, se elas existem, devem morar só lá no sul.

Sou otimista. Acho que o maior legado da pandemia do coronavírus será o fim do apressado das filas, o farejador de cangote, o inconveniente das distâncias sociais.

Você talvez já tenha cruzado com esse tipo em algum mercado ou farmácia enquanto espera na fila do caixa, aguardando pacientemente com suas compras no carrinho ou na mão. Então você sente um arzinho quente no seu cangote. Pensa ser uma lufada tépida vindo da rua, mas se lembra que o inverno está chegando e, ao contrário, bate um vento frio lá fora.

Sente novamente a quentura no pescoço, que se parece mais com uma respiração humana. Olha para trás e se depara com aquele tipo social que anda a frequentar as filas da vida. É o apressado das filas.

Esse tipo acha que o fato de se aproximar cada vez mais do cidadão da frente vai fazer a fila andar mais rápido; ele pensa sinceramente que se chegar a poucos centímetros da nuca da pessoa da frente a moça do caixa vai acelerar o seu serviço; ele acha que quanto mais para a frente se projetar, tanto menor será seu tempo de espera na fila.

Você olha para trás, incomodado, constrangido, dá um passinho para frente, mas pequeno, discreto, pois você não quer repetir a mesma inconveniência com quem te antecede na fila. E fica agoniado com aquele sujeito atrás de você.

A fila anda; você demora a dar seus passos adiante, um pouco por pirraça, ou pouco para ver se o apressadinho aprende um pouco de paciência com seu gesto. Logo você arrasta um pé, lentamente, e finalmente arrasta o outro, mantendo com o cidadão da frente uma distância de segurança. Isso não tem efeito positivo sobre o apressadinho. Pelo contrário, ele imediatamente anda para frente e volta a bafejar atrás de você, mirando o caixa com sua telepatia da pressa.

Chega a sua vez, e você deixa aquela companhia constrangedora para trás como quando se despede do tagarela que se sentou ao seu lado na poltrona do avião – feliz e aliviado, e segue com os olhos brilhando para passar as compras no caixa.

Eis que o coronavírus trouxe a esses apressadinhos o protocolo do distanciamento social. Imagino essas pessoas guardando distância de um ou dois metros nas filas. Mordendo os lábios, suando frio, contendo-se na sua feroz vontade de avançar e se colocar imediatamente atrás dos outros.

Li outros artigos que falam que esse distanciamento social ficará como tendência no curto prazo, mas que depois tudo voltará ao normal. Pena. Eu torço para que esse legado da pandemia permaneça para sempre, ou ao menos por muitos e muitos anos.

Que nunca mais tenhamos de enfrentar filas junto a esses apressadinhos.

 

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