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quinta-feira, novembro 21, 2024

Sofremos pelo que não existe: o peso das nossas próprias criações mentais

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Mark Twain é frequentemente associado à frase “Eu já sofri por muitas coisas na minha vida, a maioria delas nunca aconteceu”.

Essa citação captura de maneira brilhante a forma como, muitas vezes, sofremos desnecessariamente por preocupações e medos que nunca se concretizam. A nossa mente tem um poder enorme de criar cenários, ampliar problemas e nos aprisionar em ciclos de ansiedade sobre situações hipotéticas. Mas por que fazemos isso? E mais importante, como podemos evitar esse sofrimento autoinfligido?

Os filósofos estoicos já falavam sobre esse problema há milhares de anos. Sêneca, um dos grandes nomes do estoicismo, escreveu: “Somos mais frequentemente apavorados do que feridos; sofremos mais na imaginação do que na realidade”.

O que ele quis dizer é que, na maioria das vezes, o que nos assusta e causa sofrimento não são os eventos em si, mas a nossa interpretação deles. Nossa imaginação, sempre ativa, transforma pequenos desafios em montanhas intransponíveis e cria medos desnecessários a partir do nada.
E esse processo mental pode ser desgastante. Ao nos permitirmos ser consumidos por cenários hipotéticos – o famoso “e se?” – acabamos por perder a paz no presente. Quantas vezes você se pegou pensando em possíveis problemas que nunca se materializaram? Às vezes, nos preocupamos tanto com o que poderia acontecer que deixamos de aproveitar o que *está* acontecendo. Isso não é apenas um desperdício de energia mental, mas também uma barreira para a felicidade e a realização pessoal.

Jesus, no Sermão da Montanha, nos deixou uma lição preciosa sobre esse tipo de ansiedade: “Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal” (Mateus 6:34). Esse ensinamento simples nos lembra que a preocupação com o futuro não nos ajuda a resolvê-lo. Na verdade, só nos impede de lidar com o presente da maneira mais eficaz e tranquila.

Mas como podemos, na prática, romper com esse ciclo de sofrimento por coisas que não existem? A primeira chave é a consciência. Precisamos ser capazes de identificar quando nossas mentes estão criando cenários hipotéticos que nos causam sofrimento. A meditação e o mindfulness têm sido ferramentas eficazes nesse processo. Eles nos ensinam a estar no momento presente e a observar nossos pensamentos sem nos perdermos neles. Ao cultivarmos essa consciência, podemos, pouco a pouco, aprender a separar o real do imaginário.

Além disso, é importante cultivar uma atitude de aceitação. Nem sempre podemos controlar o que acontece conosco, mas podemos controlar como reagimos a isso. Epicteto, outro filósofo estoico, disse: “Não são os eventos que nos perturbam, mas as nossas opiniões sobre eles”. Essa frase nos lembra que podemos escolher como interpretar e reagir às situações da vida, e essa escolha pode fazer toda a diferença entre o sofrimento e a paz.

No fim das contas, a maioria das coisas que nos preocupam nunca se tornam realidade. E mesmo quando se tornam, somos geralmente mais fortes e capazes de lidar com elas do que imaginamos. Ao nos libertarmos das criações da nossa mente, abrimos espaço para viver com mais leveza, paz e sabedoria.

O sofrimento é parte inevitável da vida, mas o sofrimento que criamos na nossa mente pode ser evitado. Como disse Twain, a maioria das dores que sentimos nunca existiu – e talvez nunca venha a existir. Que possamos, então, viver com mais presença, mais aceitação e menos medo do que poderia ser. Afinal, o que realmente existe é o agora. E nele, encontramos tudo o que precisamos para enfrentar qualquer desafio que o futuro possa nos trazer.

José Adenauer Lima
Formado em economia, com pós-graduação em Estratégia pela ADESG. Especialização em filosofia clássica.Trabalha no Poder Legislativo do DF há 32 anos nas áreas de orçamento público e processo legislativo.

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