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quinta-feira, novembro 21, 2024

Um antiquário para chamar de seu!

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Um antiquário para chamar de seu!

É a casa de Amador Outerelo, um dos maiores colecionadores do País. Bacharelado em Direito, dedicou-se à vida religiosa por cinco anos. A busca pelo sentido da vida continua. Reza o terço todos os dias, cultua os santos, cultua amigos. É um colecionador de afetos leais também. Faz jantar memoráveis em sua cobertura. Os objetos são apenas para apreciar, pois o que importa mesmo é quem as vê.

Amador Outerelo Fernandez Junior não vende nenhuma peça. Não tem interesse. Cada objeto remete a uma história, um lugar, uma pessoa. É o resultado da sensibilidade, de ver o que os outros não enxergam, que lhe dá prazer. Ele queria morar em torno do belo. Começou a frequentar leilões pelo mundo em 1988. De lá para cá, não parou mais. Diz herdar a sensibilidade da mãe, Maria Vilany -, cujo nome significa senhora caridosa na Bíblia, segundo a bisavó de Amador. O pai, Amador, também possui o gosto por objetos que “não sabe de onde veio”. A exemplo, o cachorro francês, comprado em Paris, na França, e  que mora debaixo de um Bössendorf, piano alemão de 1890.

 

Aliás, Amador adora cachorros, mas como viaja bastante, acha melhor não tê-los. Então de uma maneira que não precise levá-los para passear, eles estão por toda a parte pelo apartamento, cada um com sua simpatia, mas sempre no mesmo lugar, numa obediência impressionante, sem falar na saúde.

 

A educação é a mesma de um príncipe, afinal, filho de imigrante europeu, e adorador de arte, tem prazer em receber e é mestre nesta arte.

“Fui educado como europeu”.

O elegante caderno em capa dura e letra de um passado longínquo, feito com esmero e cuidado, registra toda a organização do jantar. Tive a sorte de ver o menu, as músicas e os convidados, do próximo jantar que será concedido à princesa Maria Gabriela de Órleans e Bragança. Na primeira página, uma imagem da Nossa Senhora.

“Sou muito religioso. Nas leituras diárias, a da tarde é reservada apenas para leitura desse tipo de assunto, além de rezar o terço”, disse.

A arte de receber de Amador com o seu caderno e toda a gestão dos jantares.

 

Morei em Curitiba, Uberaba e na Amazônia, fui missionário. Cheguei a viver em Roma também”, disse.

Por não se adaptar ao modo de vida que ia muito contra a maneira que fora criado, Amador deixou a vida no seminário.

“Saí mais convicto da minha fé. Estudei muito, li muito. Só deixei esse caminho porque não me adaptei: limpava, rezava e trabalhava bastante, dava aulas para levar dinheiro para o seminário. Deus te chama para vários caminhos. Você não precisa estar dentro de uma vida religiosa para ser uma pessoa de fé. Tenho até um oratório do século XVIII”, disse.

O oratório veio de uma fazenda do interior de Pernambuco.

“Dos que existem no Brasil, esse é um dos mais bonitos. É um oratório de 1760. Saiu de lá e veio para a minha mão”, explicou.

No momento, ele está lendo sobre a vida de Maria Teresa de Calcutá.

É devoto de Santa Rita de Cássia e Santo Expedito. Acredita que a santa tenha ajudado a curar a mãe, após a primeira cirurgia.

“Atravessei a igreja de joelhos com uma vela na mão”, recorda.

Amador Outerelo

Brasília –

O carioca Amador chegou em Brasília, em 1971. O pai acabara de ser transferido para a capital.

“Ele veio pelo Ministério da Fazenda. Era funcionário público. Morei um ano e meio no Palace Hotel, até  mudarmos para uma quadra da asa sul, do pessoal da marinha. Na época, ainda não tinham apartamentos para todos os tipos de servidor público”.

Brasília para Amador é uma cidade muito especial.

“Tenho casa no Rio e em São Paulo. Mas não saio daqui. Adoro Brasília. Me sinto dono da cidade. Eu vi as árvores do eixão sendo plantadas. Vi todos esses prédios serem construídos”, lembra.

Amador, entre os pais, quando crianc?a.

Em falar sobre família, a Nei, apelido carinhoso para Vanessa, chegou aos 17 anos na casa de Amador e lá permanece até hoje.

arte em receber exige organização. O zelo e a disposição de peças que são utilizadas nos jantares são armazenadas cuidadosamente em um grande armário. Muitos objetos, como louças de porcelanas e faqueiros, estão dispostos em gavetas forradas com feltro azul escuro. “É uma maneira de preservar. Todo o armário foi projetado por mim”, disse.

Mil e uma peças –

As obras de arte e os objetos de decoração de uma maneira geral existem para serem vistas e mostradas, segundo Amador. E pelo visto, ele coleciona diários também, que escreve desde 1988. “Tenho um mundo interior tão grande…se eu começo a puxar um fio, vou lembrando de uma coisa, depois de outra. Perco no meu pensamento. Tenho uma ótima memória”, disse.

A coleção é vasta. Tudo na casa de Amador já esteve na casa de alguém, da cadeira que sentamos as xícaras de chá, que aliás, foram da casa de Tônia Carreiro e são pintadas à mão . “São xícaras dinamarquesas, royal conpenhagen”, disse.

“A Antiguidade nos faz ter uma visão transcendental da vida. Nada do que você tem foi seu pela primeira vez. Pelo menos numa outra vida essas coisas viveram. Ou várias outras vidas. Passaram para outras vidas e foram passando. Você vai morrer e essas coisas vão continuar vivendo na casa de outras pessoas”, disse.

Antigamente, os leilões enviavam catálogos com as fotos e os preços. Hoje é mais seguro: tudo vai por e-mail. “Minha mãe tinha medo disso quando vivia. Acha que isso podia chamar sequestro”.

Documentamos para mostrar aos leitores da revista. Vamos lá?!

Abaixo fotos que descortinam este mundo para nós.

Frente de um altar barroco, do mestre Valentim, considerado o Aleijadinho do RJ. A pec?a e? de uma igreja desativada. Amador restaurou e colocou moldura de jacaranda?.

Anos 80 –

O simpático Amador ama dançar. Curtiu muito os anos 80. E diz que se garante quando o assunto é dançar. Gosta de se vestir de maneira clássica. Seu armário tem Hugo Boss e Armani. Compra tudo em São Paulo. No quesito comida, diz que o prato preferido é o filé ao molho béarnaise.

“O melhor era o da minha mãe”, disse.

O que ele não compraria de jeito nenhum –

“Um pastiche: uma cópia, imitação mal feita de alguma coisa. Não gosto de nada grosseiro”.

 

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