A liberdade é um conceito que todos desejam, mas poucos compreendem em sua profundidade.
Ser verdadeiramente livre não é apenas poder escolher o que se deseja, mas ter controle sobre os próprios desejos e ações, sem se tornar escravo de impulsos ou circunstâncias externas.
A liberdade que escraviza a alma, na verdade, é uma ilusão perigosa: é a promessa de que podemos fazer tudo o que quisermos, mas que muitas vezes nos aprisiona em vícios, vaidades ou a busca incessante por aprovação.
Jean-Jacques Rousseau, no seu clássico O Contrato Social, afirmou que “o homem nasceu livre, e por toda parte encontra-se acorrentado”.
Embora se referisse principalmente às estruturas sociais, essa frase também ecoa no campo espiritual. Muitas vezes, as correntes não vêm de fora, mas das escolhas que fazemos, daquilo que cultivamos dentro de nós.
Quando priorizamos prazeres momentâneos, poder ou posses, nos tornamos reféns de um ciclo insaciável de dependência, como um pássaro que aceita viver numa gaiola dourada, incapaz de voar.
O apóstolo Paulo, na sua carta aos Gálatas, apontou uma visão semelhante quando escreveu: “Vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à carne; ao contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor” (Gálatas 5:13). Ele nos alerta que a liberdade autêntica não é licença para fazer o que quisermos, mas a capacidade de viver em harmonia com valores que nutrem a alma, como o amor, a bondade e a retidão.
Considere, por exemplo, o impacto da busca descontrolada por reconhecimento social nas redes.
Muitos acreditam que postar livremente, receber curtidas e seguidores seja uma expressão de liberdade, mas acabam presos em padrões de comportamento que visam agradar os outros. Essa falsa liberdade rouba o nosso tempo, a nossa paz e a nossa capacidade de sermos autênticos. O filósofo Søren Kierkegaard chamou isso de “desespero da comparação”, um estado em que a liberdade é suprimida porque vivemos para os padrões e expectativas alheias.
A verdadeira liberdade exige disciplina. O filósofo estoico Epicteto ensinava que a chave para a liberdade está no controle das paixões e no cultivo da virtude.
Ele dizia: “Nenhum homem é livre se não consegue dominar a si mesmo.” Essa é uma reflexão poderosa: a liberdade externa só faz sentido quando temos liberdade interna, quando conseguimos dizer “não” àquilo que nos diminui e “sim” àquilo que eleva o espírito.
Um exemplo prático dessa dinâmica é o exercício da gratidão. Quando praticamos a gratidão, liberamos nossa mente das correntes do ressentimento e da inveja.
Reconhecer as bênçãos em nossa vida é um ato de liberdade porque nos desconecta do desejo compulsivo de ter mais ou de ser como o outro. É um resgate da alma para o momento presente, onde reside a verdadeira paz.
Portanto, a verdadeira liberdade não é a ausência de limites, mas a presença de propósito.
É a escolha consciente de viver para aquilo que fortalece a alma, em vez de cedermos às forças que a escravizam.
Como afirmou Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto: “Tudo pode ser tirado de um homem, exceto uma coisa: a última das liberdades humanas – escolher sua atitude em qualquer circunstância.” Essa escolha define o que somos e onde encontramos nossa verdadeira liberdade.