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quinta-feira, novembro 21, 2024

Apito de cachorro

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Por: Fernando Tolentino

A vocação para o terrorismo é sem dúvida algo incontrolável.
Ainda no período do último ditador do regime militar, o Brasil aproximava-se de uma abertura política, que deixaria para trás anos de prisões, desaparecimentos, tortura e morte de adversários. Mas, no meio militar, não eram poucos os radicais que se opunham a tal distensão.
Os atentados se sucediam, a deixar claro que não faltava quem estivesse decidido a resistir: bombas explodiam em bancas de revista, em fim de agosto de 1980, Dona Lyda Monteiro da Silva foi morta ao abrir um envelope com uma carta-bomba enviada à Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro.
No Rio Centro milhares de pessoas assistiam a tradicional apresentação de artistas comprometidos com a redemocratização. Do lado de fora, uma bomba explodia acidentalmente dentro de um carro em que dois militares se preparavam para promover um atentado. Um sargento morreu com a explosão do artefato em seu colo, ficando mutilado o capitão que o acompanhava na ação terrorista.
Viu-se que não era um fato isolado. Pretendiam que a explosão causasse imenso tumulto e provavelmente mortos e feridos.

A ideia era responsabilizar grupos de esquerda pelo atentado e, assim, retardar a abertura democrática.
Mas lembram que a história se repete “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”?
Faltam ainda pouco mais de dois meses para que se completem dois anos desde a grande ação terrorista de 8 de janeiro de 2023.

Uma multidão que pretendia pôr fim ao governo de Luiz Inácio da Silva, recentemente empossado, invadiu e vandalizou os prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF.
As principais lideranças do movimento, com apoio de parlamentares a eles vinculados, tentam articular a aprovação de medida legislativa para que ninguém seja punido por aquelas ações.
Mas vemos que há inquietude nas bases do grupo golpista, os mais afoitos tentando ações mais ousadas, com atentados terroristas.
Tudo indica que nessa quarta-feira (13 de novembro) um ato isolado pretendia sinalizar nessa direção, com a invasão e a explosão de uma bomba no prédio do Supremo Tribunal Federal, onde estão sendo julgados os responsáveis pela ação golpista no início do governo eleito em 2022.
Aparentemente, um acidente frustrou o “apito de cachorro”, levando a bomba a explodir antes de consumada a invasão, vitimando o próprio terrorista. Antes, ele havia anunciado o atentado em redes sociais, inclusive indicando vítimas que pretendia ver atingidas, a que se referia como “comunistas de merda”.
De positivo, ficou evidente que esse tipo de ação pode se multiplicar, ainda mais se estimulada pela impunidade que ainda beneficia os seus principais líderes.
As autoridades são, portanto, chamadas à responsabilidade. Nada de anistia. Punição já.

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