Lixão da Estrutural: o que mudou um mês após fechamento de depósito
De acordo com o GDF, as quantias de R$ 360 paga aos trabalhadores, como uma forma de “compensar a transição”, assim como o valor cobrado pela tonelada de material coletado (cerca de R$ 300), serão pagos a cada 15 dias aos catadores e às cooperativas, respectivamente. Até então, os valores eram depositados uma vez por mês.
Para a diretora do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Kátia Campos, a mudança neste item do contrato é considerada um “salto muito grande” no processo pós-fechamento do lixão. O objetivo, segundo ela, é “escalonar o pagamento de forma que o trabalhador não fique o mês inteiro sem receber”.
“Como no lixão eles recebiam por dia, por mês é mais difícil para eles. O pagamento pela tonelada será feito de duas vezes, e a bolsa vai ser depositada em um período intercalado.”
Além disso, o GDF disse ainda que está aperfeiçoando o controle do pagamento da bolsa. A previsão é de que a quantia continue sendo paga por até seis meses. “Havia muitas pessoas homônimas e com CPF errado”.
“Estamos aperfeiçoando a lista de nomes de catadores [que estão em galpões] para que haja um menor número de erros possível.”
O que mudou para catadores
Para quem conviveu com o lixão por mais de 25 anos, os primeiros 30 dias após a desativação do local representou, principalmente, a queda nos rendimentos da família.
A ex-catadora de materiais recicláveis Selma dos Santos, de 40 anos, tem seis filhos. Ela contou à reportagem que desde janeiro, quando o local foi fechado, passou a buscar por “bicos” pois, segundo ela, não havia espaço para trabalhar nos galpões: “Me cadastrei para ir, mas não tem espaço para mais de 600 pessoas nos galpões”.
Para não ficar sem renda, a moradora da Estrutural disse que trocou o trabalho com recicláveis por outro. Selma agora é manicure e afirma ganhar apenas 40% do que faturava no antigo lixão.
Já a catadora Zilma da Silva, de 53 anos, disse em entrevista anterior ao G1, que apesar da renda mensal ter diminuído de R$ 2 mil para cerca de R$ 600, a rotina de trabalho ficou “mais digna”. “A gente trabalha na sombra, não toma sol nem chuva”, conta.
E para outros moradores?
Uma líder comunitária da região da Estrutural contou ao G1 ter mais de 100 vizinhos e amigos “desempregados”. A situação, segundo ela, se acentuou após o lixão ter sido desativado. Para a moradora, o fechamento do depósito interferiu no comércio da cidade e também no rendimento das famílias.
Questionada sobre a situação, a diretora do SLU, Kátia Campos, afirmou à reportagem que, apesar de muita coisa ainda precisar ser feita, a desativação foi uma “evolução enorme”. “Nenhum cidadão deveria admitir que outros seres humanos vivessem naquela situação”, pontua.
“Enquanto o problema ficava escondido embaixo do tapete ficava mais fácil da sociedade aceitar. Mas quando o desafio é exposto, o governo vai atrás para solucionar”, afirma. “Qualquer problema que está havendo na Estrutural hoje, existia enquanto ainda funcionava o lixão”, conclui Kátia.
“O lixão existia para esconder problemas sociais. Mas para enfrentar os desafios e dar solução a eles, é preciso que os problemas sejam mostrados.”
Sem resíduos domésticos
Apesar de fechado para o recebimento de resíduos domésticos, o Lixão da Estrutural continua recebendo os entulhos provenientes da construção civil. Em média, por dia, o local recebe cerca de 4,8 mil toneladas de material seco, considerados pelo SLU como “inerte”, e, portanto, “sem prejuízo ao meio ambiente e lençol freático”.
Balanças instaladas na entrada do antigo depósito fazem a pesagem dos caminhões que descarregam o entulho no local. De acordo com o GDF, uma mudança de atribuição da Agência de Fiscalização (Agefis) – que antes só multava – permitiu que o órgão passasse a apreender veículos que descartem materiais de construção em local irregular.
Ainda segundo o SLU, o entulho que chega ao local é aproveitado para ajudar na cobertura dos rejeitos domésticos que foram depositados no lixão ao longo de mais de 60 anos. A previsão é de que após uma licitação, o material seco seja gerido por uma empresa privada.
Após os 30 dias de inatividade, a lagoa de chorume que existe no local está com a metade da capacidade. O recipiente não foi desativado já que ainda há resíduos em decomposição no terreno. Enquanto isso, eventualmente, o líquido poluente é drenado por canos até a terra, evitando assim que a capacidade seja totalmente preenchida e transborde.
Coleta seletiva
Ainda na semana em que se completa um mês de fechamento do local, o GDF anunciou também que vai ampliar o número de regiões atendidas pela coleta seletiva. Até o último balanço, 16 regiões eram contempladas com a separação do lixo. A partir da próxima segunda (26), serão 25.
Fonte: G1