por :Mariana Vieira
Marconi A.Souza era apenas um adolescente apaixonado pelos Beatles e pelos Rolling Stones quando, em 1964, deixou a pequena cidade de Pimenta, em Minas Gerais, rumo a um sonho chamado Brasília. Hoje, aos 73 anos, Marconi Antônio de Souza é reconhecido como um dos empreendedores mais bem sucedidos da capital federal, tendo transformado uma jovem cidade em seu campo de possibilidades e construído um império empresarial que impacta meio milhão de brasileiros.

Nascido em 13 de junho de 1950, Marconi tinha apenas 14 anos quando chegou à recém-inaugurada capital. “Fiquei deslumbrado com o traçado moderno da cidade. Os cabos subterrâneos nem ao longe se pareciam com os fios expostos da cidade de interior. Não existiam semáforos nem cruzamentos”, relembra sobre suas primeiras impressões da Brasília de 1964 – ano emblemático marcado pelo início do regime militar, pela Beatlemania e por uma inflação que beirava os 100%.

Vindo acompanhado do tio dentista Luiz Gonzaga e sua esposa Flora Pessoa, que assumiria a presidência do PSD (Partido Social Democrata) no DF, o jovem mineiro estabeleceu-se inicialmente no Gama. Seus pais, Orozimbo de Souza Filho e Niva Pessoa de Souza, permitiram sua partida acreditando que o futuro promissor do filho não caberia nos limites da cidade natal, o que se provou uma aposta certeira.
A rotina do adolescente dividia-se entre o trabalho na banca de revista do tio e os estudos no terceiro ano científico do Colégio do Setor Leste. Em 1968, mudou-se definitivamente para o Plano Piloto, onde seu talento para vendas logo o destacou na Olivetti, a gigante italiana fabricante de máquinas de escrever e calculadoras.

A trajetória de um inovador nato
O espírito empreendedor de Marconi manifestou-se em diversas iniciativas ao longo de sua trajetória. Em 1977, surpreendeu o mercado com a abertura da lanchonete Snoopy, localizada na 110 Sul. “Um amigo acabara de chegar dos EUA e me sugeriu McDonald’s como nome da empresa. Preferi Snoopy, o personagem”, conta com bom humor. Mesmo com o sucesso do estabelecimento, que vendia sanduíches gourmets antes mesmo que esse conceito existisse, Marconi reconheceu que não era seu campo definitivo: “Vendia, não era a minha praia.”
Atento às tendências de mercado, montou uma escola de datilografia em uma época em que essa habilidade era essencial para qualquer currículo. Mas foi na tecnologia que encontrou sua verdadeira vocação. Após sua passagem pela Olivetti, inaugurou a filial da Polimax na 212 Sul durante os anos 1980, quando os primeiros microcomputadores começaram a revolucionar o mercado.

Na década seguinte, diversificou seus negócios com a Marconi Transportes, dedicada à distribuição de combustíveis. Em 1991, adquiriu 50% do controle acionário da Microtécnica Informática, especializada em assistência técnica e manutenção de equipamentos.

A revolução dos cartões de benefícios
O grande salto para Marconi veio em 1998, quando fundou a Tripar BSB Administradora de Cartões. Dois anos depois, a empresa revolucionou o mercado ao implantar os primeiros cartões magnéticos de tickets de refeição, substituindo os antigos “carnês” de papel – uma inovação que trouxe segurança, evitou fraudes e dinamizou operações. Em 2007, criou a bandeira própria ValeShop, fruto do desenvolvimento de um software moderno de gerenciamento de benefícios.
Em 26 anos de operação, a empresa cresceu exponencialmente. Hoje, atende 500 mil usuários e conta com 40 mil empresas conveniadas em sua rede, somando aproximadamente 4 milhões de clientes ao longo de sua história. “O segredo do sucesso é o atendimento diferenciado”, revela Marconi. “Alguns clientes que migraram para outras empresas retornaram para a ValeShop exatamente porque não encontraram a mesma atenção fora.” Sua filosofia empresarial é clara: “O maior concorrente de uma empresa é ela mesma, quando se acomoda, fica na zona de conforto. É preciso sempre se modernizar, aderir às tecnologias mais avançadas. Inovar.”
Esse compromisso com a excelência rendeu-lhe em 2020 o prêmio Líderes do Brasil, concedido pelo Grupo de Lideranças Empresariais do Brasil (Lide). “Faço por amor ao trabalho. Dinheiro já tenho o suficiente. Um orgulho representar Brasília neste prêmio”, declarou na ocasião.
Entre racha, rock e romance: a Brasília dos anos dourados
A juventude de Marconi na capital foi embalada por música, velocidade e aventuras. Aos 18 anos, adquiriu seu primeiro carro, um Gordini, e com Creedence Clearwater Revival no toca-fitas, participava dos “rachas” na cidade ainda pouco habitada. “Além das corridas oficiais, lembro que, por segurança, antes da inauguração oficial da pista, fazíamos ‘os nossos pegas’ no autódromo. Era um acontecimento ao som de rock’n roll e mulheres bonitas”, relembra.

Conhecido como um “namorador profissional”, Marconi desfilava com seu fusca 1968 pela galeria do Cine Karin, frequentava a boate do Iate Clube e saboreava um cuba-libre (rum com coca-cola) no Bar Bem, na 110 Sul, ou um hi-fi (vodca com fanta laranja) nos “esquentas” do Gilberto Salomão, o Drugstore. Para ocasiões mais elegantes, um dry martini à la James Bond na época do Sokana.
O “namorador que não assumia ninguém” finalmente encontrou seu par em Maria Lucila Portela Alencar, com quem teve Marconi Antônio de Souza Filho, nascido no mesmo dia que o pai — 13 de junho. Hoje com 33 anos, o filho formou-se em filosofia na Escócia e vive em Londres.

A paixão por automóveis nunca o abandonou. Em sua coleção, Marconi mantém três relíquias: um Rolls Royce branco conversível (1975), um Alfa Romeo Spider verde conversível (1974) e o Corcel (1974) do pai, na cor marrom telha.






Cidadão de Brasília por decreto e por coração
Em 1998, a Câmara Legislativa do Distrito Federal concedeu a Marconi o Título de Cidadão Honorário de Brasília, em sessão solene aprovada por unanimidade. Ao lado do Diploma e Medalha de Honra ao Mérito de Pioneiro que também recebeu, estas honrarias reconheceram oficialmente o que os brasilienses já sabiam: o mineiro de Pimenta tornara-se um legítimo filho da cidade que ajudou a construir.
Seu compromisso com Brasília vai além dos negócios. Como presidente da Associação dos Amigos do Lago Paranoá (ALAPA), trabalha pela preservação do projeto urbanístico original e pela proteção ambiental do lago. Durante a pandemia de Covid-19, demonstrou sua responsabilidade social ao realizar campanhas que resultaram na distribuição de 6 mil cartões para compra de cestas básicas em regiões vulneráveis do DF.

Mesmo nos momentos mais desafiadores, como durante a crise sanitária global, Marconi manteve seu otimismo característico. Em 2022, em entrevista à BBC News Brasil, ponderou: “Tivemos uma pandemia que ainda não acabou, uma guerra e um ano eleitoral. Mesmo assim, acho que a economia está indo bem, porque o governo tomou medidas que fizeram com que houvesse uma reação.” Sua empresa estabilizou-se em 2020 e cresceu moderadamente em 2021, evidenciando a resiliência de seus negócios.
Novos horizontes: empreendimentos imobiliários
Sempre atento a novas oportunidades, Marconi tem diversificado seus investimentos. Recentemente, expandiu seus negócios para o setor imobiliário, desenvolvendo projetos no exclusivo Lago Sul de Brasília. Em entrevista recente, revelou que esta iniciativa não é apenas um investimento, mas a realização de uma paixão pessoal.
“Eu sempre gostei de construção. E esta é uma forma que encontrei de aproveitar o Lago Sul e atender ao meu gosto”, confidenciou. Embora esteja morando temporariamente em uma das casas deste empreendimento, Marconi esclarece que o projeto não foi concebido para sua residência permanente, já que possui outra propriedade na região.

As residências, descritas por ele como “moderníssimas”, fazem parte de um empreendimento seleto, com poucas unidades, refletindo seu padrão de excelência. O projeto demonstra sua contínua capacidade de identificar oportunidades e agregar valor, mesmo em novos segmentos de mercado.
O legado de um visionário
Hoje, aos 73 anos, Marconi Antônio de Souza desfruta dos prazeres da vida com a mesma intensidade de sua juventude. Aprecia música enquanto dirige um de seus carros em direção ao Pontão, seu lugar preferido à beira do lago Paranoá. Mantém o gosto pela apimentada comida mineira (exceto jiló e chuchu, “as únicas verduras que detesta”), honrando suas raízes pimentenses.
A trajetória deste pioneiro confunde-se com a própria história de Brasília. Chegou quando a capital tinha apenas quatro anos e acompanhou seu crescimento, contribuindo ativamente para seu desenvolvimento tecnológico e econômico. Transformou-se junto com a cidade, sempre na vanguarda, antecipando tendências e criando oportunidades.
Como gosta de citar, lembrando Louis Pasteur: “A sorte favorece a mente bem preparada.” E a mente de Marconi sempre esteve não apenas preparada, mas constantemente à frente de seu tempo, reimaginando possibilidades e construindo o futuro com a mesma ousadia dos arquitetos que projetaram Brasília. Por isso, mais que uma história de sucesso empresarial, sua trajetória é um testemunho vivo do espírito pioneiro que ergueu a capital do Brasil e continua a impulsioná-la para o futuro.