Por: Edson Gabriel Garcia
No alto da colina mais silenciosa do bairro, havia uma casa de janelas compridas e paredes amareladas e com rachaduras feitas pelo tempo. O telhado era antigo e, no quintal, havia um balanço de madeira que se movia sozinho quando o dia começava a escurecer. À noite, a rua ficava deserta e envolta numa névoa fina, como se um cobertor escondesse os passos de quem por ali ousasse passar. Era nessa casa que morava Luna, uma menina curiosa e corajosa — mas que, ultimamente, vinha sendo perturbada por um estranho som durante a madrugada…
Luna havia se mudado há pouco tempo. Sua nova casa, apesar de antiga, era muito aconchegante.
Tudo corria bem. Até que as madrugadas passaram a ser motivo de preocupação para a menina.
Toda noite, mais precisamente às três horas da manhã, Luna acordava com o mesmo som estranho: toc… toc… toc…
Era como se alguém estivesse batendo ora de leve, ora devagar, ora mais rápido na janela do seu quarto. E, como se não bastasse, a cortina balançava, mesmo quando não havia vento.
Luna puxava as cobertas até os olhos e ficava ali, imóvel, com o coração acelerado. Seus pais diziam que era só o vento ou algum galho batendo no vidro. Mas ela sabia que não. Era sempre no mesmo horário. O mesmo som… O mesmo movimento da cortina…
Na oitava noite, a menina, já transtornada, não aguentou mais.
— Chega! — sussurrou para si mesma, sentando na cama com os punhos cerrados.
Com passos cuidadosos, ela se aproximou da janela. O som continuava: toc… toc… toc…
A cortina parecia dançar uma valsa invisível, lenta e silenciosa.
Luna engoliu seco, esticou a mão e… abriu a cortina de uma vez só!
Por um instante, tudo ficou quieto. O barulho parou.
E foi então que ela viu.
Não era um monstro. Não era um ladrão. Não era uma criatura das sombras.
Na verdade, era um passarinho. E foi aí que ela entendeu que o pequeno sabiá-laranjeira todas as madrugadas voava até sua janela e batia o bico no vidro, tentando alcançar uma fruteira que ficava na estante do quarto — decorada com frutas artificiais que pareciam tão reais e suculentas que até enganavam os olhos… e os bicos.
A fruteira era iluminada por uma luz fraca e amarelada de um abajur que Luna deixava ligado durante a noite, com medo do escuro. Mal sabia ela que, além de espantar monstros imaginários, aquela luz servia de farol para o visitante de penas alaranjadas.
A cortina se mexia porque, de vez em quando, o passarinho na tentativa de entrar pela frestinha da janela, batia mais rapidamente as asas e fazia com que o tecido se movimentasse levemente.
Luna riu, aliviada. E, pela manhã, colocou algumas frutas de verdade do lado de fora da janela.
Na madrugada seguinte, o toc… toc… toc…não aconteceu. Mas o sabiá voltou. Só que dessa vez, cantou baixinho, como quem agradece.