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quinta-feira, novembro 13, 2025

O desejo de ser mais: prisão dourada da alma

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A infelicidade que corrói o espírito moderno não nasce da falta, mas da ilusão do excesso.

Não é a pobreza que nos amarga — afinal, há pobres serenos, ricos miseráveis, e almas vazias em todos os extratos sociais. A dor verdadeira brota do desejo incessante de ser mais do que somos agora, como se o nosso valor estivesse sempre num degrau acima, inalcançável, brilhando como miragem no deserto do ego.

Essa inquietude disfarçada de ambição é a prisão dourada dos que confundem crescimento com inadequação. Há uma diferença brutal entre evoluir com sentido e viver sob a tirania de nunca estar pronto. Quando o desejo de ser mais é movido por comparação, inveja ou medo, ele não liberta — ele escraviza. Ele sussurra ao nosso ouvido que não somos o bastante, que precisamos provar algo, conquistar algo, mostrar algo… e nesse ciclo, perdemos a beleza do que já somos e o poder do agora.

O filósofo grego Epicteto dizia que “não são as coisas em si que nos perturbam, mas a opinião que temos delas.” Assim também com a nossa identidade: não é a realidade que nos atormenta, mas a narrativa interior que repete que ainda não chegamos lá. Isso não é fome de propósito, é fome de autoafirmação. E quanto mais comemos desse pão, mais famintos ficamos.

A liderança autêntica não nasce da tentativa desesperada de parecer forte, mas da coragem de ser inteiro. Um líder que vive tentando ser mais do que é, torna-se inautêntico, manipulador e ansioso. Mas aquele que reconhece suas raízes, suas imperfeições e ainda assim decide servir, ensinar, construir — esse lidera com poder real. O mesmo vale para pais, mestres, empreendedores ou artistas: o impacto não vem da persona que criamos, mas da presença que oferecemos.

Na prática da vida estratégica, precisamos trocar a pergunta “como posso ser mais?” por “como posso ser inteiro?” Inteireza não é estagnação — é ação com fundamento. Um bambu cresce rápido porque suas raízes foram profundas antes de subir. E é esse o paradoxo da maturidade: quem aceita ser o que é, abre espaço para se transformar; quem vive querendo ser algo mais, se perde em fantasias e exaustão.

Espiritualmente, esse desejo de ser mais é a herança da queda. É a serpente sussurrando que podemos ser como deuses se apenas dermos mais um passo, mais um curso, mais uma meta. É o ego disfarçado de desenvolvimento pessoal. Mas a alma não cresce por comparação, cresce por rendição — ao tempo, à verdade, ao próprio caminho. A plenitude não está depois de mil degraus, mas no degrau em que você pisa com presença e fé.
Mentalmente, esse desejo constante destrói a paz. Cria uma ansiedade silenciosa que não permite descanso, uma hiperatividade emocional que sabota até os momentos de alegria. Porque mesmo quando alcançamos algo, o pensamento já corre para o próximo. É como correr numa esteira: muito esforço, nenhum avanço. E quanto mais velocidade colocamos, mais perdemos o fôlego da vida.

Essa frase, portanto, não é apenas uma reflexão — é um ponto de ruptura. Ela nos convida a parar de lutar contra a pobreza externa e começar a curar a escassez interna. A reconhecer que ser mais não é o problema — o problema é por quê. Cresça, sim. Transforme-se. Evolua. Mas que seja por amor ao que você é, não por vergonha do que ainda não foi.

E agora, a provocação inevitável:
Você está tentando se tornar algo… ou está aprendendo a ser alguém?

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