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quinta-feira, abril 25, 2024

O novo normal

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Histórias da Quarentena

O novo normal

A pandemia é a novidade do ano que tem alterado o cotidiano. É o novo acontecimento extraordinário que talvez seja suplantado por outro grande fenômeno mais à frente, numa sucessão de anormalidades que faz a gente questionar o que é o ordinário.

Se for parar para pensar, parece que o anormal virou o novo normal. Fazendo uma breve retrospectiva mental, acho que o último ano normal que tivemos foi 2012. Banalidades políticas, eleições municipais, Olimpíadas de Londres. Nada de mais. Talvez o nosso último ano normal.

Em 2013 tivemos um início de convulsão social, com protestos, passeatas e um sentimento de descontentamento geral. O Itamaraty foi depredado, o Congresso quase foi invadido, enquanto as autoridades públicas assistiam a tudo aturdidas, sem entender. Cogitaram até nova constituinte. Foram tempos de incerteza, já que ninguém sabia ao certo no aquilo tudo ia dar.

Em 2014 tivemos a Copa do Mundo no Brasil. Mudanças drásticas na rotina do brasileiro. Vias fechadas, controle do tráfego, ponto facultativo em dias de jogos do Brasil, ou em dias de jogo em Brasília, vai ter ou não vai ter, a escola do filho não vai abrir, o trabalho não liberou, peraí, mandaram um email agora falando que é meio-expediente. Além do que tivemos a primeira eleição da discórdia, já que 2014 marca a primeira vez que se juntaram redes sociais e campanhas eleitorais, combinação explosiva que chamuscaria muitas relações familiares naquele ano.

Já 2015 foi o ano do tarifaço. A luz e a gasolina aumentaram absurdamente, dívidas acumularam, distratos de imóveis foram feitos, a política fervia com a Lava-Jato e com movimentos pró-impeachment que ganhavam as ruas. Mas o que alterou mesmo o dia-a-dia foi a epidemia do Zika. Um vírus novo transmitido pelo velho conhecido Aedes. Como surgiu, que efeitos causava? Bebês com microcefalia, pânico entre as mães, repelentes faltando nas farmácias, manga comprida e calça em meio ao calor do verão.

Em 2016 os rumos políticos e sociais pareceram todos alterados. A eleição de Trump, o Brexit e o impeachment no Brasil pareciam indicativos de que os caminhos da normalidade esperada foram confundidos. Tivemos a euforia e as confusões das Olimpíadas no Rio de Janeiro. Mas sobretudo o desemprego. A hecatombe econômica de 2015 refletiu-se em 2016 no mercado de trabalho. Familiares e conhecidos vivendo esse drama tão pungente e triste.

No ano seguinte foi a vez do racionamento de água. Em 2017, quando Brasília sediava o Fórum Mundial da Água, os reservatórios da cidade secaram. Hábitos mudaram completamente, e passamos acompanhar dia-a-dia o volume das chuvas, o nível dos reservatórios e o dia da semana em que a água seria desligada em nosso bairro.

Em 2018 tivemos mais outra eleição acirrada, mais outra denúncia contra o Presidente da República. Mas um fato que alterou a vida de todo mundo foi a greve dos caminhoneiros em maio. Carros parando sem gasolina, desabastecimento total, filas em postos, pessoas seguindo caminhão-tanque até o posto e uma semana e meia nesse caos.

No ano passado tivemos vários fatos políticos, como a reforma da previdência, alguns desastres naturais, como o rompimento da barragem de Brumadinho e as manchas de óleo nas praias do Nordeste. Mas se teve algo que mexeu de fato com o nosso cotidiano em 2019 foram as vitórias do Flamengo. Fatos estranhos, raros, que despertaram o orgulho mais despeitado do amigo flamenguista chato e que impactaram no modo como levamos nossas vidas.

E agora, uma pandemia. A quarentena. O confinamento. E essa incerteza de quando tudo vai voltar ao normal. O normal virou esperar sempre pela nova anormalidade.

Rodrigo Bedritichuk é brasiliense, servidor público, pai de duas meninas e autor do livro de crônicas Não Ditos Populares

 

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