No mundo disperso em que vivemos, onde estímulos saltam como labaredas de fogos de artifício e convites à distração chegam a cada minuto, torna-se quase revolucionário o ato de permanecer. “Seja como um selo de correio: fique grudado em uma coisa até chegar ao seu destino.” Essa frase, aparentemente simples, guarda uma das virtudes mais raras e poderosas da existência humana: a perseverança.
O selo não pensa, não duvida, não se justifica. Ele apenas cumpre seu propósito com tenacidade silenciosa. Uma vez colado, ele não volta atrás. A missão é clara: chegar. Que diferença do espírito humano moderno, tão propenso a abandonar jornadas no meio, a trocar convicções por conveniências, a sacrificar grandes destinos por pequenos confortos. O selo, então, nos envergonha — e nos inspira.
Perseverar é resistir ao apelo das mil possibilidades que surgem para nos distrair daquilo que importa. É não largar mão daquilo que dissemos que era essencial, mesmo quando ninguém está olhando, mesmo quando o brilho inicial desapareceu, mesmo quando o caminho ficou escuro, repetitivo ou doloroso. É manter-se colado à missão, como o selo na carta, apesar das intempéries, apesar dos desvios, apesar das quedas.
Na vida interior, o selo nos ensina sobre fidelidade. Ficar colado ao que é verdadeiro — mesmo quando nossa alma quer fugir, mesmo quando nossa carne deseja atalhos. A espiritualidade não se mede pelo êxtase, mas pela permanência. Amar a Deus, amar ao outro, amar a missão — eis um trabalho de colagem diária, onde o coração é o envelope e a vontade é o selo.
Mas atenção: perseverar não é teimosia cega. Não é insistir em um caminho morto, não é se recusar a mudar de rota quando a rota já morreu. O selo só tem sentido quando colado a um destino verdadeiro. E aqui mora a sabedoria: saber diferenciar o abandono covarde da renúncia corajosa. O primeiro foge do esforço; o segundo reconhece que não há mais vida naquele caminho. Só permanece quem já discerniu o que realmente vale ser alcançado.
Portanto, antes de colar-se a algo, pergunte: isso é digno de minha entrega? Essa causa, essa pessoa, esse projeto, esse valor, esse propósito… são realmente destinos ou apenas distrações? Só depois de responder com honestidade é que se deve agir como o selo — com uma determinação que ignora os ventos contrários.
E se o envelope rasgar no caminho? Se o carteiro cair? Se a estrada for desviada? O selo não tem garantias, mas tem compromisso. Ele se confia ao processo, mas sua parte está feita: ele ficou. Isso é tudo o que podemos controlar — o quanto nos damos, o quanto permanecemos, o quanto nos comprometemos. O resto pertence ao tempo, ao acaso ou à providência.
Por fim, aqui está a grande pergunta que o selo nos deixa: a que missão você está colado com tanta integridade que, mesmo se ninguém mais olhar, você ainda seguirá até o fim?
Viva com sentido. Pense com profundidade. Decida com coragem. Suba com propósito.