Às vezes, o incômodo que sentimos diante de certas situações da vida não é sinal de fracasso, mas de crescimento. Um sapato que antes servia perfeitamente hoje machuca, não porque está pior, mas porque você cresceu e ele não te comporta mais. Essa metáfora simples revela algo profundo: o desconforto pode ser a linguagem silenciosa da alma dizendo que chegou a hora de mudar de lugar, de mentalidade ou de círculo.
Nietzsche dizia que “o que não me mata, me fortalece” (Crepúsculo dos Ídolos, 1889), mas ele também alertava para a necessidade de superarmos nossas antigas versões. Crescer exige abandonar espaços onde antes nos sentíamos confortáveis, mas que agora se tornaram limitantes. Não é raro nos apegarmos a rotinas, empregos, relacionamentos ou ideias que já não servem, apenas porque são familiares. Só que o crescimento verdadeiro exige desapego. É um movimento semelhante ao da lagarta que, ao se transformar em borboleta, precisa deixar para trás o casulo. E sair do casulo dói.
Esse desconforto aparece como insônia, ansiedade, irritabilidade ou até tédio. Não é à toa. O filósofo Jean-Paul Sartre dizia que “o inferno são os outros” (Entre Quatro Paredes, 1944), mas muitas vezes o inferno está em continuarmos cercados de pessoas, hábitos ou pensamentos que não evoluíram com a gente. Quando você cresce internamente, começa a perceber incoerências nos ambientes que antes tolerava. A conversa rasa, o trabalho sem propósito, o relacionamento sem afeto – tudo isso começa a gritar dentro de você. E isso não é ruim. É só o universo te dizendo: “Você já não cabe mais aqui.”
A socióloga Brené Brown, em seu livro A Coragem de Ser Imperfeito (2012), afirma que “a vulnerabilidade é o berço da inovação, da criatividade e da mudança.” Sentir-se vulnerável diante do novo é normal, mas fugir desse desconforto é se condenar à estagnação. É preciso coragem para aceitar que você mudou e que isso vai custar certas zonas de conforto.
O desconforto, portanto, é uma espécie de alarme espiritual. Não nos avisa que estamos no caminho errado, mas que chegou a hora de subir mais um degrau. Olhe para sua vida hoje: o que está te apertando? Pode ser que esse incômodo seja justamente o empurrão que você precisa para seguir adiante. Talvez seja o momento de mudar de emprego, buscar novas amizades, ou simplesmente repensar sua forma de enxergar a vida.
Como disse Carl Jung, “não há despertar de consciência sem dor” (Aion, 1951). Crescer dói porque exige quebrar camadas, rever crenças e, principalmente, sair do piloto automático. Mas a dor do crescimento é sempre mais leve que o peso da estagnação. Confie no desconforto. Ele pode ser seu melhor guia.