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segunda-feira, junho 16, 2025

Quem te faz acreditar em absurdos pode te fazer cometer atrocidades: o alerta que nunca envelhece

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Poucas frases são tão diretas e inquietantes quanto essa de Voltaire: “Aqueles que podem te fazer acreditar em absurdos, podem te fazer cometer atrocidades.” Escrita no século XVIII, ela carrega uma atualidade brutal. É um lembrete de como a manipulação das ideias, quando não filtrada pela razão, pode virar combustível para comportamentos cruéis, desumanos — e muitas vezes justificados em nome de uma “verdade” construída artificialmente.
Voltaire escreveu isso numa carta de 1765, refletindo sobre os horrores cometidos pela Inquisição e a intolerância religiosa. Ele criticava abertamente como doutrinas absurdas podiam moldar ações monstruosas. E o mais chocante é perceber como esse padrão se repete na história: dos pogroms contra judeus na Europa até os campos de extermínio nazistas, passando por linchamentos públicos baseados em boatos. Tudo começa com uma crença cega, muitas vezes vendida como inquestionável.

Mas não precisamos olhar apenas para os livros de História. Pense em como fake news e teorias da conspiração, por mais absurdas que pareçam, têm causado violência real nos últimos anos. Basta alguém com autoridade ou carisma convencer um grupo de que “o inimigo” precisa ser eliminado — seja esse inimigo um grupo étnico, uma ideia política ou um simples vizinho com opiniões diferentes. De repente, o absurdo se torna justificativa, e a atrocidade se torna ação.

O filósofo alemão Theodor Adorno também alertou para essa dinâmica. Em seu estudo “A Personalidade Autoritária”, ele analisou como indivíduos com pensamento rígido, incapazes de lidar com a ambiguidade, se tornam alvos fáceis para ideias extremistas. Segundo ele, “a incapacidade de pensar dialeticamente é o terreno fértil do totalitarismo.” O livro foi escrito após a Segunda Guerra Mundial, mas serve como espelho dos nossos tempos digitais, onde o algoritmo muitas vezes favorece a simplificação em vez da complexidade.
A chave para evitar esse ciclo é cultivar a dúvida construtiva e o pensamento crítico. Não é ser cínico ou desconfiado de tudo, mas sim desenvolver o hábito de questionar antes de crer, de buscar fontes antes de compartilhar, de sentir antes de reagir. Como dizia Sócrates, “uma vida não examinada não vale a pena ser vivida”. E esse exame passa por checar se nossas crenças fazem sentido ou se estamos apenas reproduzindo absurdos porque alguém nos convenceu disso.

A espiritualidade também oferece um antídoto interessante. Tradicionalmente, ela convida à reflexão profunda sobre o bem, a compaixão e o discernimento. Em vez de aceitar narrativas de ódio, o espiritual busca compreender — e compreender é o oposto de julgar com pressa. Quando nos conectamos com valores mais elevados, temos mais chance de escapar das armadilhas mentais que levam à violência.

A maior tragédia do absurdo não é ele parecer crível, mas ele se tornar confortável. Quando a mentira se alinha ao que já queremos acreditar, ela vira verdade. Por isso, o desafio diário é manter a lucidez em tempos de vozes barulhentas. Como diria George Orwell, “para ver o que está diante do nosso nariz, é preciso um esforço constante.” E esse esforço — de ver, questionar e sentir com o coração — é o que nos impede de cometer atrocidades, mesmo quando o mundo à nossa volta parece querer nos convencer do contrário.

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