Com investimentos públicos e privados, região central de Brasília passa por renovação histórica que inclui obras de infraestrutura, chegada de instituições de ensino e pesquisa sobre economia criativa
Por Mariana Vieira
O Setor Comercial Sul (SCS) está no centro de uma transformação sem precedentes. A região, que já enfrentou períodos de degradação, abandono e falta de segurança pública, agora é foco de múltiplos investimentos que prometem revitalizá-la como polo tecnológico e criativo.
“Essa ideia do pólo criativo e tecnológico do setor comercial Sul está sendo construída há pelo menos uns oito anos”, explica Niki Tzemos, prefeita do Setor Comercial Sul.

A empresária, que trabalha na região há mais de três décadas e batalha pela revitalização do setor, comemora a aprovação da lei de novos usos do SCS, que prevê a inclusão de quase 300 novas atividades econômicas permitidas na região.
“O setor comercial sul precisa ser ocupado por empresas com perfil tecnológico, mas a criatividade tem que estar junto. Porque tem a questão da gastronomia, a questão até da cultura, que é muito relevante”, destaca Niki, que indica que a quadra 5 é ideal para empreendimentos de alimentação e iniciativas culturais.
A renovação já mostra resultados concretos. O GDF entregou no ano passado a reforma das quadras 3, 4 e 5, com investimento de R$ 12 milhões em infraestrutura urbana. No próximo dia 24 de março, o Senac-DF inaugurará sua maior unidade no DF, com capacidade para 5 mil estudantes. A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação também está se transferindo para o setor, com a inauguração do Espaço de Inovação, localizado no Edifício Toufic, na Quadra 2 do Setor Comercial Sul em dezembro de 2024.
“A nossa vinda para o Setor Comercial Sul tem o objetivo de criar um espaço que pretende modificar o Distrito Federal e integra o conjunto de ações do GDF”, afirmou na ocasião o titular da Secti-DF, Leonardo Reisman.
”O nosso intuito é incentivar o desenvolvimento da região por meio da tecnologia e da inovação.
Aberto ao público, o local tem o objetivo de levar inovação e tecnologia para a área central de Brasília. Com aproximadamente 300 metros quadrados, abrigará podcast, área de games e espaço de trabalho para empreendedores.
Estudo inédito
O mais recente passo foi dado com o anúncio de uma pesquisa inédita para diagnosticar o cenário atual e desenvolver um modelo urbanístico digital e físico para a área , coordenada pelo uma pesquisa para diagnosticar o cenário atual do Setor Comercial Sul, desenvolver
um modelo urbanístico digital e físico e criar uma plataforma de suporte à estruturação do Polo Tecnológico Criativo.
A pesquisa é resultado de uma chamada pública da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), intitulada “Programa Desafio DF”, o projeto integra um conjunto de ações estratégicas do GDF voltadas à revitalização da área central de Brasília.
”Nada melhor do que a academia estudar de fato a situação real, considerando todos os atores sociais, para dar o diagnóstico correto”, avalia a prefeita do SCS.
O lançamento do projeto ocorreu no Teatro Sesc Silvio Barbato, um dos marcos culturais do DF, localizado no SCS. Totalmente reformado, o espaço foi entregue à população no início do ano com uma apresentação teatral que reuniu autoridades e expoentes da cultura local.
O estudo será executado e coordenado por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação Inovação em Comunicação e Economia Criativa da Universidade Católica de Brasília (UCB), em parceria com pesquisadores de urbanismo da Universidade de Brasília (UnB).
O coordenador da pesquisa é o professor Alexandre Kieling, da Universidade Católica deBrasília (UCB), que conversou com exclusividade para a Revista 61.
O estudo pretende mapear não só aspectos econômicos, mas também sociais da região. Como vocês planejam equilibrar a chegada de novas empresas de tecnologia com a preservação do tecido social existente no Setor Comercial Sul?
Vamos trabalhar em quatro fases, começando pelo diagnóstico. Nesta primeira etapa, vamos mapear as necessidades, realidades e aspirações de todos os atores: empresários estabelecidos, pessoas que circulam pela região e potenciais investidores. Buscamos referências em soluções adotadas em outros lugares do Brasil, como o Porto da Mauá no Rio, o Porto Digital em Recife e iniciativas em Vitória, onde há um trabalho de desenvolvimento da economia criativa.
Há exemplos internacionais de revitalização de centros urbanos através de polos tecnológicos e criativos que estão servindo como referência para este diagnóstico do SCS?
Medellín, na Colômbia, é um caso muito peculiar quando trabalhamos a questão social. Após o desmantelamento dos cartéis, criaram territórios criativos vinculados às competências de cada região. Com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento, conseguiram estimular atividades econômicas, e hoje esses distritos criativos determinaram uma nova inserção social de um conjunto importante de pessoas.
A pesquisa envolve tanto a UCB quanto a UnB. Como será a divisão do trabalho entre as universidades e quais as principais etapas e prazos do estudo?
São quatro etapas principais: diagnóstico e proposição do modelo de negócio, liderados pela Católica, com pesquisadores de vários lugares, inclusive de fora do DF. A terceira fase, focada na parte urbanística e arquitetônica, será desenvolvida pela equipe da UnB, resultando em uma maquete digital. A quarta etapa prevê a criação de uma plataforma que reunirá todas as informações e facilitará a formação de hubs, clusters e coletivos.
Considerando que o SCS tem uma história de mais de 60 anos e é parte do conjunto urbanístico tombado de Brasília, como o estudo pretende conciliar inovação tecnológica com a preservação do patrimônio histórico e cultural da região?
A gente está trabalhando com pesquisadores e especialistas que conhecem muito bem esses requisitos que implicam no fato de ser uma cidade tombada pelo patrimônio histórico. É por isso que essa expertise, o nível técnico dos colegas da UnB é essencial nesse momento. Não haverá nenhuma forma de a gente construir uma proposta sem que ela tenha um diálogo permanente e profundo com esses requisitos de Brasília e do local do setor comercial.
Impacto Econômico e social
O potencial econômico é significativo. Segundo dados da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), só a economia criativa movimentou cerca de R$9 bilhões no PIB do Distrito Federal em 2022.
A região, que já chegou a ter um fluxo reduzido de 55 mil pessoas, hoje recebe 150 mil pessoas diariamente, e tem potencial para movimentar muito mais pessoas.
“O objetivo de fato é ter uma requalificação, a melhoria da sensação de segurança para todos […] a valorização do espaço não vem para mandar embora ninguém, muito pelo contrário.
Acredito que seja um momento de inclusão social” afirma Nik