No Brasil, descendentes e imigrantes reagem ao conflito
Por Bruno Bocchini e Carolina Pimentel – Repórteres da Agência Brasil – São Paulo e Brasília
A capital federal e a capital paulista receberam, nesta terça-feira (10), manifestações em apoio tanto ao estado de Israel quanto à comunidade palestina, protagonistas de um conflito histórico, cujo novo capítulo teve início no último sábado (7), com o ataque do grupo palestino extremista Hamas contra centenas de civis em uma festa em Israel. O governo israelense, por sua vez, investiu em uma contraofensiva que atingiu violentamente centenas de civis palestinos.
No bairro paulistano de Higienópolis, organizado pela Federação Israelita do Estado de São Paulo, foi feito o ato “Com Israel contra o Terrorismo”, na Praça Centenário de Israel, na região da Consolação.
“A principal mensagem da nossa manifestação é a solidariedade a Israel. É um ato de basta ao terrorismo. Solidariedade aos irmãos que estão em Israel e o fim do terrorismo, o direito de Israel se defender”, destacou o presidente-executivo da Federação Israelita do Estado de São Paulo, Ricardo Berkiensztat.
Federação Israelita do Estado de São Paulo realiza ato na Praça Centenário de Israel “Com Israel contra o Terrorismo”. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
“A gente quer que Israel viva em paz. Agora, com o Hamas do outro lado é impossível isso acontecer, isso já está demonstrado há muito tempo. O que o Hamas fez agora mostra que ele não tem interesse em dois Estados, não tem interesse em diálogo. Então, com o Hamas não dá para sentar à mesa”, acrescentou.
De acordo com Berkiensztat, o estado de Israel deverá dar, nos próximos dias, uma resposta contundente ao ataque do grupo palestino, “para tentar eliminar o maior número possível de terroristas do Hamas”.
“A partir daí, eu acho que dá para você pensar numa negociação, uma negociação de dois Estados, os dois Estados seguros. Agora, realmente, que eles aceitem que Israel tem que existir, porque até agora só se pergunta a Israel se ele aceita dois Estados. Ninguém perguntou ao Irã ou ao Hamas se eles aceitam dois Estados, porque a resposta vai ser negativa”.
Solidariedade ao povo palestino
Em Brasília, um ato em apoio à Palestina ocorreu em frente à Biblioteca Nacional, próximo da Esplanada dos Ministérios. Os manifestantes pediram o fim das ações violentas de Israel na Faixa de Gaza e liberdade aos territórios palestinos.
“A Palestina é uma causa da humanidade. É onde nasceram todas as religiões do mundo. Palestinos respeitam todas as religiões do mundo. A gente repudia os atos de sionismo [movimento político que impulsionou a criação do Estado de Israel] por parte de Israel”, disse Khaled Nasser, da Sociedade Árabe Palestina em Brasília.
Brasília (DF) 10/10/2023 – Ato no museu da República em prol do povo Palestino. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
O presidente do Instituto Brasil Palestina, Ahmed Shehada, agradeceu o apoio de brasileiros ao povo palestino. Ele contou que irmãos, filhos e netos estão na Faixa de Gaza, região mais afetada pelo conflito, e tem mantido contato com eles com dificuldade, pois estão sem água, energia e internet, estruturas que foram destruídas.
“Meus filhos, netos e irmãos estavam vivos até umas horas atrás. Agora, ninguém garante que estarão vivos daqui uma hora. Meus netos não tinham água desde ontem para beber”, relatou Shehada, que vive há 15 anos no Brasil.
Em São Paulo, a manifestação em solidariedade ao povo Palestino foi realizada em frente ao Centro Cultural e restaurante Palestino Al Janiah, no Bixiga. A jornalista palestino-brasileira, coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino e diretora cultural do Instituto da Cultura Árabe, Soraya Misleh, destacou que os palestinos têm sido oprimidos pelo estado de Israel há décadas.
São Paulo (SP), 10/10/2023 – Ato em defesa da Palestina em frente ao restaurante Al Janiah, em Bela Vista. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
“Estamos sofrendo há mais de 75 anos [desde a criação do estado de Israel, em 1948] uma colonização brutal, uma limpeza étnica. Eu mesma sou filha de um sobrevivente da Nakba[catástrofe] de 1948. Meu pai tinha 13 anos, na época, foi um dos 800 mil expulsos naquele momento, violentamente. A aldeia dele é uma das mais de 500 destruídas [para dar lugar a Israel]”, disse.
“Mas a forma como nos retratam, parece que não há esse contexto histórico e que a violência não está nas mãos sujas de sangue de Israel”, acrescentou. De acordo com Misleh, o caminho para a paz passa pelo reconhecimento de que Israel pratica um apartheid – regime violento de segregação racial – contra os palestinos.
“Esperamos o reconhecimento do regime de apartheid e que se promova de imediato um embargo militar, que se rompam os acordos com Israel. Esse é o que nós estamos pedindo faz anos. Não há paz sem justiça. É preciso garantir a justiça e os direitos humanos fundamentais para os palestinos. Inclusive o direito de retorno”, ressaltou.
Edição: Marcelo Brandão
Por Bruno Bocchini e Carolina Pimentel – Repórteres da Agência Brasil – São Paulo e Brasília