A vida tem essa mania de nos empurrar para frente, como se tudo de mais importante estivesse sempre no “depois”: depois da faculdade, depois do emprego certo, depois do casamento, depois da aposentadoria. Mas enquanto isso, o presente — esse espaço sagrado onde tudo realmente acontece — vai sendo negligenciado como se fosse apenas uma ponte para algo melhor. A verdade é que o amanhã não é uma promessa, é só uma possibilidade. E se vivermos apenas esperando pelo próximo capítulo, corremos o risco de passar pela vida como meros espectadores.
O filósofo romano Sêneca, em sua obra Sobre a Brevidade da Vida, nos alerta: “Não é que tenhamos pouco tempo, mas sim que perdemos muito.” Essa afirmação, escrita há dois mil anos, continua atual. Perdemos tempo nos comparando, nos culpando, nos preocupando com um futuro que sequer sabemos se virá — enquanto o presente grita por nossa atenção. Sêneca nos convida a viver de forma intencional, reconhecendo que o agora é tudo o que temos.
Viver o presente não significa agir de maneira irresponsável ou ignorar os planos futuros. Trata-se de uma postura mais consciente e sábia: estar inteiro no que se faz, saborear a caminhada em vez de fixar os olhos apenas na linha de chegada. Thich Nhat Hanh, mestre zen vietnamita, dizia que “o milagre não é andar sobre as águas, mas andar sobre a terra verde no momento presente.” O milagre está em lavar a louça com presença, ouvir alguém com o coração aberto, sentir o sabor de um café como se fosse o primeiro. O ordinário, quando vivido com consciência, torna-se extraordinário.
Muita gente tem medo de desacelerar e viver o agora, como se isso fosse sinal de acomodação. Mas não é o contrário? Quando você está presente, você se torna mais produtivo, mais criativo e, acima de tudo, mais feliz. A pressa, alimentada pela ansiedade do futuro, nos rouba o prazer das pequenas conquistas. Como já dizia John Lennon, “a vida é aquilo que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos.”
Sociologicamente, vivemos numa era marcada pela “aceleração do tempo social”, como aponta o alemão Hartmut Rosa em sua obra Alienação e Aceleração. Para Rosa, essa obsessão moderna por velocidade e eficiência nos desconecta do que é essencial. O presente é comprimido, esvaziado, transformado num trampolim para um futuro que nunca chega. Ao invés de vida plena, cultivamos um estado constante de antecipação, que gera cansaço, frustração e sensação de vazio.
O presente é um presente — e desculpe o trocadilho. É nele que você sente, aprende, ama, cria. É onde sua existência se manifesta em forma de escolhas reais. Confiar que o futuro tomará conta de si mesmo não é ingenuidade, é maturidade espiritual. É entender que viver bem o hoje é a melhor forma de construir um amanhã mais leve.
Então, respira. Olha em volta. Ouve sua música preferida sem pressa, liga para aquela pessoa que você ama, escreve aquela ideia que você vive adiando. O futuro? Ah, ele que espere. O agora é onde a vida acontece.