Muitas vezes, acreditamos que a opressão termina quando as correntes são retiradas, mas será que a verdadeira degradação humana está apenas nas algemas visíveis? “Não vejam as algemas dos deportados como uma forma de degradação humana. Retirando as algemas, a degradação continua.” Essa frase nos convida a uma reflexão profunda sobre como a injustiça e a desumanização podem persistir mesmo sem marcas aparentes.
A história nos mostra diversos exemplos de grupos que, mesmo libertos fisicamente, continuaram presos a condições degradantes. Pensemos nos ex-escravizados após a abolição: livres no papel, mas sem acesso à terra, educação ou direitos básicos, acabaram submetidos a novas formas de exploração.
Hannah Arendt, em Origens do Totalitarismo, descreve como os apátridas e refugiados políticos, apesar de não estarem mais presos, continuavam sendo tratados como párias, privados de direitos e dignidade. A opressão, muitas vezes, não precisa de correntes de ferro, pois os grilhões sociais e econômicos são igualmente eficazes.
Essa realidade também se manifesta no mundo contemporâneo. Quantas pessoas vivem sem liberdade real, presas a um sistema que limita suas oportunidades? Pierre Bourdieu, em A Reprodução, explica como a sociedade perpetua desigualdades de forma invisível, fazendo com que aqueles nascidos em condições desfavoráveis tenham poucas chances reais de ascensão. A pobreza, a falta de acesso à educação e a discriminação funcionam como algemas invisíveis, mantendo milhões de pessoas em situações de degradação, mesmo sem cadeias físicas.
Dessa forma, a frase nos desafia a olhar além do óbvio. A verdadeira libertação não ocorre apenas com a retirada das correntes visíveis, mas sim quando se quebram os mecanismos que perpetuam a exclusão. O desafio não é apenas acabar com as prisões físicas, mas também com as estruturas que mantêm a desigualdade viva. Afinal, de que adianta soltar as algemas se a degradação continua?