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sábado, abril 27, 2024

A jardineira da alegria

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A jardineira da alegria

Regina Diniz de Oliveira semeava amigos e plantas. O esplêndido paisagismo do Brasília Country Club de hoje é fruto do amor, cultivado por anos. Ela se foi! E a sua essência, para a nossa sorte, deixou um legado verde de esperança, aquela sombra alentadora que abraça.

Por CAROLINA CASCÃO

Ela plantou as árvores onde queria que espalhassem as suas cinzas. O espírito livre não desejaria menos que isso. O Brasília Country Club era o seu segundo lar, a casa aconchegante da mãe, um lugar de respeito, onde viveu a juventude, plantou, conheceu o marido, casou e casara as duas filhas e, onde seu último pedido fora realizado. Regina Diniz de Oliveira por mais de trinta anos, plantou, semeou, capinou. E cuidou deste clube com muito esmero. Nada mais justo que lá fossem prestadas as últimas homenagens pela família, há pouco mais de um ano, após que um tumor cerebral encerrasse seus dias conosco, em nove de agosto de 2019, aos 71 anos.

Conta o marido, Ataíde Rodrigues de Oliveira, e as filhas, Aline e Carol, que apenas os jardineiros do clube sabiam onde ela havia plantado as específicas árvores, local onde queria “descansar”. Uma missão para encontrar. Talvez ela tenha escondido o segredo propositalmente para que a dor da perda se entrelaçasse com o desafio de um agradável passeio pelo Brasília Country.

Goiana de Itumbiara, a economista, aposentada pelo Sebrae, chegou numa Brasília recém inaugurada. Ela com 14 anos e, a cidade, com apenas dois, em 1962. Neste tempo começou a frequentar o clube ao lado da família. Praticava esportes e competiu pela seleção brasiliense e juvenil de Brasília, por volta dos anos 1966/67.

Conheceu o marido, mineiro de Uberlândia, no clube. Após o futebol sagrado dele, uma pausa na piscina para apreciar a beleza e personalidade de Regina era parada obrigatória. Mas foi aquela encarada derradeira no apartamento da família dela enquanto falava ao telefone que definiu o futuro do casal. O ano era 1968 e Ataíde passara rapidamente junto com o amigo João Carlos, vizinho de Regina, na casa dele (morava no 3º andar e ela no 2º). Por força do destino, as portas estavam abertas, e das escadas para lá era um pulinho, algo rápido, o tempo suficiente para que ele perdesse o voo para o Rio de Janeiro. Perdeu o avião, mas ganhou a moça. Casaram-se em 1971 na igreja Santo Antônio. E a recepção, claro, no Country. Ele, aos 29 anos e, ela, aos 24. No ano seguinte nasceu a primeira filha Aline. E três anos depois, a Caroline.

A presidência do Brasília Country Club esteve à frente da família por quatro mandatos. Por mais de dez anos, entre 1991 e 1995 e, depois, de 2000 a 2005, Ataíde cuidou da gestão. As duas filhas também se casaram lá -, num “festão” para 800 convidados. E, claro, com a Regina comandando tudo. “Casei num vestido prateado porque a minha mãe quis”, lembra rindo, Aline.

Regina participava de tudo. Adorava uma festa. Ela interferia até nos bailes de carnaval do Country. Era muito alegre e expansiva”, disse o marido Ataíde.

Caroline lembra os ensinamentos da mãe. “Guaraná é bom demais, mas água é vital, ela falava. Meu filho Gustavo de cinco anos reproduz o mesmo que a avó: diz que água é muito importante e temos que beber”, sorri. “Ela ria de si mesmo”, lembra.

Os três filhos de Aline, Pedro, Bruno e Lucas, atrelam a avó à diversão e aventura. Um deles disse que um dia, Regina derrubou um ninho de maribondo. E quando começou a voar inseto para tudo quanto é lado, ela apenas gritou “correeeeee para o carro”. “Uma aventura” registra Aline. “O percurso com ela nunca era reto. Se fosse tomar um lanche em algum lugar, ela pedia para parar e pegar o fruto de alguma árvore”, disse.

Já que comer jabuticaba só tem graça no pé, então Regina plantou a própria jabuticabeira no Country. Dizem que era uma cozinheira de mão cheia. Todos foram unânimes: a carne de porco, o biscoito de queijo e o bacalhau eram imbatíveis. “Nunca conseguimos reproduzir o bacalhau dela”, disse Aline. “Para a nossa sorte, o irmão caçula da minha mãe, faz o biscoito de queijo igual ao dela”, disse Caroline.

Ataíde e Regina estavam casados há 48 anos, um total de 51 anos juntos -, um prova de que o amor, a parceria e a paciência completam um triângulo harmonioso. Um enlace bonito, duas filhas fantásticas, quatro netos (só nasceu homem).

Ela se foi numa sexta-feira. Sábado era dia de feira, de Ceasa, dia de saborear pedacinhos de cana de açúcar enquanto pechinchava o preço da tangerina…dessa vez não foi possível “assobiar e chupar a cana” ao mesmo tempo. Lembranças eterna à Regina Diniz de Oliveira, a jardineira da alegria.

 

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