A Revolução Industrial e o Emprego
Rubem Soares
O Bagulho é se adaptar! Essa foi a frase que um aluno finalizou uma aula em que fui convidado a participar em uma renomada universidade de Brasília. O tema discutido foi o impacto da quarta revolução industrial na atualidade, então aproveito para escrever também sobre o assunto.
A história como a conhecemos geralmente é referenciada por grandes marcos — revoluções que desenvolvem e reestruturam o mundo como o conhecemos. Assim, criando uma visão sistêmica sobre o assunto remonto a transformação das empresas e do emprego em todas as revoluções industriais.
Na Primeira Revolução Industrial (1760 a 1860) o período marcado pelo surgimento das industrias mecanizadas pelas máquinas a vapor e pelo o tear mecânico. A revolução impulsionou uma era de forte crescimento econômico nas economias capitalistas, entretanto, segundo historiadores, a Revolução trouxe riqueza para os burgueses, enquanto que os trabalhadores viviam na miséria e o desemprego aumentou.
Para conseguir espaço e claro emprego, os trabalhadores artesanais tiveram que se adaptar, capacitando-se e migrando de profissão.
As relações trabalhistas também sofreram transformação, pois os empregados passaram a brigar por melhores condições de trabalho.
Na Segunda Revolução Industrial (1860 a 1940) em meio a Segunda Guerra Mundial – vista apenas como um aprimoramento e aperfeiçoamento das tecnologias da Primeira Revolução, como por exemplo: a introdução de navios de aço movidos a vapor, o desenvolvimento do avião, das estradas de ferro e o uso do petróleo impulsionando a produção em massa de bens de consumo, foram fundadas as organizações de classe (sindicatos) e também as carreiras executivas.
A Terceira Revolução Industrial (1940 a 2000), conhecida como Revolução digital – mais difundida pelo desenvolvimento de computadores pessoais, converteu toda a tecnologia que era analógica para formato digital e fez surgir a internet. Nesse sentido, as atividades laborais que mais se destacaram no mercado estão vinculadas à produção de computadores, softwares, microeletrônica, chips, transistores, circuitos eletrônicos, além da robótica. Isso ocasionou novas e profundas transformações no mundo do trabalho e no perfil do trabalhador. Nesse período foi crescente a terceirização da economia, em que a maior parte dos empregos gerados passou a se concentrar no setor de comércio e serviços. Tal processo, aliado à flexibilização do trabalho, contribuiu para a precarização das condições do trabalho, para a crise das representações sindicais e para a perda de direitos trabalhistas.
A Quarta revolução Industrial (2000 até os dias atuais) caracterizada pela transformação da experiência do cliente e, especialmente pela inteligência artificial, a robótica e a internet das coisas vem provocando mudanças profundas nas áreas de transporte, finanças, saúde e varejo.
Trata-se de uma revolução resultante da convergência digital, física e biológica com base em tecnologias como:
• computação em nuvem;
• internet das coisas;
• big data;
• blockchain;
• inteligência artificial;
• biotecnologia.
O motor que impulsiona tamanha revolução é a capacidade computacional ilimitada propiciada pela Tecnologia da Informação. As mudanças promovidas pela Quarta Revolução Industrial são percebidas de maneiras distintas. Profissionais de vendas ou do setor produtivo, por exemplo, já estão tendo que desenvolver novas competências para lidar e manusear soluções digitais. Os líderes empresariais estão percebendo a necessidade de investir em treinamento e ferramentas para que possam acompanhar e se beneficiar desta Revolução.
Essas transformações estão fazendo, gradualmente, com que a maioria das tarefas repetitivas possa ser realizada automaticamente, a saída então para preservar o espaço no mercado de trabalho é a educação contínua e o desenvolvimento de habilidades voltadas para criatividade, comunicação, tecnologia da informação, neurociências e genética.
As repercussões da Quarta Revolução Industrial são tão transformadoras que até mesmo a segurança geopolítica e os padrões de ética mundiais podem ser afetados. Os métodos produtivos passarão por processos de automatização praticamente completos, o que nos levará a independência da mão de obra bruta humana.
Tudo isso viabilizado pela expansão da computação em nuvem e, claro, pela internet das coisas, resultando em sistemas que associam máquinas a processos digitais para tomada de decisão, como o chamado Machine Learning.
Algumas dessas reestruturações da lógica industrial, social e econômica já podem ser observadas com mais proximidade. A moeda virtual Bitcoin e os blockchains (estrutura de dados que funciona como uma representação de registros de transações ou entradas de contabilidade financeira), por exemplo, estão remodelando a forma como moedas fiduciárias e sistemas bancários são pensados.
Economistas do mundo inteiro já admitem que as transformações geradas pela Indústria 4.0 (que já estão acontecendo) exigem que todo o sistema econômico seja reestruturado.
Apesar da tecnologia ter criado grandes revoluções ao longo da história, os reflexos da Quarta Revolução Industrial não possuem precedentes e vêm gerando, diariamente, verdadeiras quebras de paradigmas no trabalho como o conhecemos e nos serviços.
Seguindo então a lógica de que os impactos das revoluções impulsionaram as economias, modificaram o emprego e aceleraram os negócios, pode-se concluir que uma onda de transformação já se iniciou e vai modificar novamente
a indústria, a prestação de serviços e as profissões.
Então, as empresas precisão se adaptar a um mundo cada vez mais interligado, ágil e eficiente, pois o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e do conhecimento humano, de uma maneira geral, afetará novamente a forma como a sociedade se estrutura e se desenvolve.
Não acredito, no entanto, no fim das profissões que serão amplamente impactadas por esta ultima revolução mas na necessidade de transformação e de adaptação desses profissionais e dos processos atuais de trabalho.
De forma simples, a prestação de serviço terá que se adaptar rapidamente, pois as funções de lançamento de dados e informações em planilhas e sistemas, por exemplo ou ainda processos como análise de informações, pesquisa de precedentes, leis e normas serão amplamente automatizadas por sistemas e robôs, enfim pela Inteligência Artificial que já está disponível.
“Então professor o bagulho é se adaptar”