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sexta-feira, abril 19, 2024

Anchieta Hélcias: testemunha viva e ativa da história do Brasil

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Anchieta Hélcias: testemunha viva e ativa da história do Brasil

Aos 75 anos,  se a vida de Anchieta Hélcias fosse resumida em um trecho, seria da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, um de seus autores preferidos: “Se aprendesse qualquer coisa, necessitaria aprender mais, e nunca ficaria satisfeito“.

O trecho da saga de Fabiano, sua família, e a cachorra Baleia que mostrava a incerteza dos caminhos, em uma releitura da vida de Anchieta reflete a diversidade de experiências profissionais que teve ao longo da vida, de grandes mudanças. “A vida é assim: nos preparamos para uma coisa e acabamos seguindo para outras”.

Sua carreira foi iniciada no Jornalismo, como repórter do Jornal do Commércio do Recife aos 16 anos, passando por várias editorias,  até que viu na de Economia o caminho para se especializar. “Cobri Polícia, Cidades e  Política. A conjuntura da época não era favorável à reportarem política. Então decidi focar no Jornalismo Econômico”. Daí resolveu cursar Ciências Econômicas.  Pegou gosto, seguiu para São Paulo, onde, enquanto repórter especial na Folha de São Paulo, cursava pós-graduação na área.

Suape, mais do que um porto

Sua tese de conclusão de curso foi “Infraestrutura como indutora do desenvolvimento econômico de Pernambuco e do Nordeste” – onde defendia a construção de Complexo Industrial Portuário, no conceito de integração porto-indústria, tomando por base os já existentes Porto de Marseille-Fós na França e de Kashima no Japão. Sustentava que o porto deveria ser localizado na região do cabo de Santo Agostinho, em razão da profundidade de 40 metros ao lado da linha de arrecifes que margeiam a enseada de Suape – essa profundidade permite receber navios de até 400 mil toneladas.

Retornando ao Recife, assumiu a Editoria de Economia do Jornal do Commércio. Em paralelo, com entusiasmado grupo de amigos, então jovens empresários, profissionais liberais, jornalistas e acadêmicos, mais o suporte de divulgação da coluna que assinava no jornal, começou campanha para mudar o modelo de indução do desenvolvimento então impulsionado pela SUDENE: defendia a sua tese, apresentando-a a políticos estaduais e federais, entre esses o seu amigo o deputado federal  Marco Maciel, (dez anos após seria governador de Pernambuco;  depois senador por três mandatos, ministro da Educação e da Casa Civil, vice-presidente da República no governo Fernando Henrique Cardoso). Maciel viu potencial naquele trabalho e o levou ao então “escolhido” a ser governador, o ex-ministro do Tribunal Militar, Eraldo Gueiros Leite – relembra Anchieta, aduzindo: “Integravam  o grupo o jornalista Carlos Garcia e o economista Josué Mussalem: que escreveram a história no livro “SUAPE, muito mais  que porto: uma visão econômica” (Tarcísio Pereira Editor), lançado  em 2015, com  a terceira edição prevista para outubro.

Em janeiro de 1970, Gueiros, governador eleito pela Assembleia Legislativa, o convida para integrar o governo, com a missão de viabilizar o  projeto do Porto Suape: “iniciei na Companhia de Desenvolvimento, acumulando a presidência da empresa e o de secretário extraordinário;  continuei no governo de José Francisco de Moura Cavalcanti (que fundou e presidiu o INCRA; foi ministro da Agricultura) na Secretaria de Indústria e Comércio, com mais atribuições, porque a pasta agregava Ciência e Tecnologia,  Meio Ambiente e Turismo.  Nos dois governos passei quase oito anos. Saí, quando fui convidado para o desafiante trabalho em Brasília” – recorda.

No governo Gueiros, com os profissionais que busquei na Universidade e o apoio da Fundação de Estudos do Mar (Marinha  Brasil),  presidida pelo almirante Paulo Moreia da Silva,  formulamos a concepção, licitamos e contratamos os estudos econômicos que definiram as vocações industrias e de serviços do porto-indústria; o Plano Diretor (até hoje válido); e os projetos executivos. No de Moura Cavalcanti, formatamos a estruturação financeira do empreendimento, assegurando recursos para mais cinco anos de trabalhos e a licitação das primeiras obras – saí quando iniciadas”, diz, referindo-se ao Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros, localizado nos municípios de Ipojuca e do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Atualmente, o local abriga mais de 100 empresas.

Brasília: Articulação na Abertura Política

Em 1966/67 Anchieta estava correspondente da Visão no Nordeste – à  época  era a maior revista de Economia do país. Tornou-se amigo do dono da editora,  o jornalista e publicitário  Said Faraht, que, em 1974,  vendeu a revista ao empresário Henry Maksoud; meses depois assumiu a presidência da Embratur, no governo Ernesto Geisel,  que os fez manter frequentes encontros: “Na época, fazia constantes viagens a Brasília e ao Rio, em razão das  múltiplas competências da  Secretaria, que iam além da Indústria e do Comércio.” Desses encontros resultou o Centro de Convenções, em Olinda, dos maiores do país, construído com recursos dos governos federal e de Pernambuco.

Anchieta continua: “Em 1978 Farhat deixa a Embratur para integrar a equipe de coordenação do Escritório Político do general João Figueiredo, candidato à Presidência, escolhido pelo presidente Ernesto Geisel para sucedê-lo. Eram quatro os coordenadores: o general Danilo Venturini,  o deputado Nelson Marchezan, o então coronel,  depois general Armando Paiva Chaves e Said Farhat.” 

O Escritório funcionava no hotel Aracoara, em frenético ritmo de campanha eleitoral: objetivava assegurar à ARENA, o partido do governo, eleger a maioria dos deputados  senadores  nas eleições parlamentares daquele ano – à eleição presidencial pelo no Colégio Eleitoral, o oposicionista MDB apresentou “anticandidato” o general Euler Bentes Monteiro, expoente da linha nacionalista das Forças Armadas.  Nos governos Costa Silva e Médici o general Euler foi superintendente da SUDENE, quando Anchieta dele tornou-se amigo.

E completa: “Para Figueiredo, Farhat executou e coordenou o que à época denominávamos de ‘Marketing da  Abertura’: tornar conhecido o  general, expondo o compromisso que o havia levado à candidatura: restabelecer a Democracia, devolvendo o poder aos civis;  anistiar os presos políticos e os exilados: “Lugar de brasileiro é no Brasil” – disse Figueiredo, meses  antes da posse; restabelecer o pluripartidarismo –  o que permitiu que fossem  criados o PT e outros partidos; assegurar eleições diretas para governadores e prefeitos das capitais – a eleição direta para presidente foi restabelecida na Constituição de 1988: o presidente Tancredo Neves e o vice José Sarney foram eleitos pelo Colégio Eleitoral.” 

Faço Política desde estudante: iniciei na ‘Juventude do PSD’, em Pernambuco presidida por Marco Maciel – à época os partidos políticos, com os seus jovens filiados, disputavam eleições nos grêmios dos colégios e nos diretórios das universidades. Em 1966, aderi à Frente Ampla, criada pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek e o ex-governador Carlos Lacerda, para mobilizar as lideranças políticas e a opinião pública a fim de restabelecer o poder civil. Por ter sido ‘frentista” o governador Gueiros teve que impor a minha presença no governo, alegando ser para exercer função técnica, não política”. Declara.

Fiquei surpreso quando Farhat (julho 1978) me ligou numa quinta-feira,  convocando para estar em Brasília no sábado daquela semana, informando ser  para reunião com o general Figueiredo. Adiantou que o general agendara para a primeira semana de agosto um  encontro no Recife com as lideranças políticas e econômicas do Nordeste, e que ele (Farhat) havia solicitado a minha colaboração,  para incluir sugestões ao discurso do candidato no evento. Arrematou: ‘Figueiredo aprovou! Sabe tudo sobre você: Foi o chefe do SNI…’ –   anos antes, em única ocasião no Recife, estive com  o general,  ele convidado pelo amigo  Moura Cavalcanti para conhecer os programas do governo estadual; na reunião apresentei o Projeto Suape.” Recorda, com orgulho.

Na manhã daquele sábado Farhat  levou-me à Figueiredo, que nos instruiu sobre o discurso: ‘Vou me posicionar pelo Desenvolvimento Auto Sustentado (influência do economista Mário Henrique Simonsen); expor o que me fez candidato: restabelecer o poder civil, o que sempre repetirei em todos os momentos’. Explicou o porquê:  ‘É importante que os meus companheiros de quartel assimilem que o ciclo militar  encerra no meu governo;  que a oposição  entenda  e apoie, não a mim, mas o programa da abertura; que tenhamos o apoio da população. Para acontecer, preciso de muita divulgação!’ – foi enfático”, relembra Anchieta de sua primeira conversa com Figueiredo.

Após o evento no Recife, o governador Moura Cavalcanti promove recepção, com almoço, no Palácio Campo das Princesas. “Concluído, aconteceu reunião que fui convidado, sem saber o porquê: além de Figueiredo e do governador, estavam Farhat, Venturini e Marco Maciel,  então  nomeado candidato à sucessão do governador.”

O general fez o convite, em forma de veredito: ‘Queremos que vá para Brasília trabalhar com Farhat, colaborando nos discursos e nas relações com a imprensa;  e no que mais precisar”. Anchieta complementa:  “Além de Farhat, também auxiliei o deputado Marchezan na articulação política, principalmente junto as lideranças do MDB, nelas se destacando o deputado pernambucano Thales Ramalho, acatado conselheiro dos deputados Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, e mais alguns que fizera amigos quando militava na Frente Ampla;  tratava os  temas econômicos o ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen – em março de 1979  Simonsen assumiu o ministério do  Planejamento do  Figueiredo.”

Uma semana depois mudou-se para Brasília. Aqui pretendia ficar por oito meses, até a data posse presidencial, por não mais desejar trabalhar em governos. Mas permaneceu na cidade, quando foi convidado para coordenar um importante projeto para o setor privado. A partir daí, a esposa e os filhos, ainda crianças, também vieram para a capital. 

Programa Pró Álcool

Após o período nos Escritório Político, enquanto trabalhava na Transição do Governo, Anchieta foi convidado pelo amigo e empresário Mario Garnero, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e do BrasilInvest, para auxiliá-lo no programa de consolidação do  automóvel a álcool, razão do presidente Geisel ter criado o Pró Álcool.

Ao convidá-lo, Garnero explicou que o seu trabalho seria o de articular as demandas da indústria automobilística; buscar compatibilizá-las  com as dos produtores de álcool, a fim de agrega-las em única reinvindicação  dos dois setores industriais.  Anchieta aceitou o desafio!

Na primeira análise que apresentou apresentada à ANFAVEA, apontou dois gargalos: os plano de produção do álcool e o de automóveis teriam de ser compatíveis: “Naquele tempo, havia momento que faltava álcool e sobrava automóvel, em outro, faltava automóvel e sobrava álcool – explica; observou que sem estrutura de logística para distribuição  nacional do combustível, fazendo-o  chegar à todos os postos de abastecimento do país, a comercialização dos automóveis a álcool ficaria restrita às regiões Nordeste e Sudeste, onde se plantava  de cana de açúcar.

Garnero apresentou o trabalho no Conselho Nacional de Energia (CNE), do qual era membro, propondo criar “Força Tarefa (FT)” para equalizar a produção de álcool com a de veículos, assegurando a oferta dos produtos em todo território nacional, desde que garantida a distribuição. O CNE aprovou a proposta, e designou o engenheiro Camilo Pena, ministro da Indústria e Comércio, para presidir a FT,  composta pelo economista Hugo de Almeida, presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool, o advogado Segeaki Ueki, presidente da Petrobras e ex-ministro de Minas e Energia no governo Geisel; o industrial Maurílio Biagi, pelo setor alcooleiro e Anchieta Hélcias, pela indústria automobilística.

Em três  meses os problemas foram solucionados: estabeleceu-se a compatibilização da produção do álcool com a de veículos; à Petrobras Distribuidora  foi determinada a responsabilidade pela oferta do combustível em todo  território nacional.

Recadastramento Eleitoral/Articulação Política/Constituinte

Concluído o projeto Pró Álcool, ingressou no Serpro como Analista Consultor. A empresa era presidida por José Dion de Mello Teles, o “pai” da introdução da Tecnologia da Informação no país: para  o STE Dion criou e coordenou o Projeto de Recadastramento Eleitoral, recenseamento que possibilitou unificar nacionalmente os títulos dos eleitores, tornando real o número de votantes – nas divisas estaduais haviam eleitores com dois títulos, votando duas vezes, cada vez em um Estado. “Recorda:  Dion era genial! Tenho orgulho de ter trabalhado com a equipe que ele formou”.

Ainda no Serpro, Anchieta foi requisitado pelo senador Marco Maciel, ministro da Casa Civil do presidente José Sarney, para compor o grupo de articulação política do governo, à época dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte – Henrique Hargreaves, advogado e consultor legislativo, coordenava o setor, como Sub Chefe da Casa Civil. Anos depois foi Chefe da Casa Civil do presidente Itamar Franco.

Marco Maciel deixa o governo; por sugestão do deputado Heráclito Fortes o Dr. Ulysses me convoca para integrar a equipe de assessores nos trabalhos da Constituinte”, relembra Anchieta. O  deputado Ulysses Guimarães foi  presidente da Câmara dos Deputados e da Assembleia Nacional Constituinte,  o líder que em 1988 promulgou a Constituição Federal do Brasil –  “dos maiores políticos com quem convivi” – comenta. Considera “a fase importante para o meu aprendizado”.

Lobby

Concluída a tarefa na Constituinte, Anchieta não retorna ao Serpro. Com dois amigos, o economista Cláudio Mendes e o jornalista Paul Godoy, criam o primeiro escritório de lobby do Brasil, inspirados nos dos Estados Unidos, que que atuam no Congresso e no Executivo  representando os diversos segmentos da sociedade civil: empresariais, trabalhistas, defesas das minorias sociais, étnicas, etc., formatando e defendendo Políticas Públicas específicas.

O nome da empresa: EAP – Escritório de Assessoramento Político. Explícito” – justifica!

Os sócios, um por vez, foram aprender nos Estados Unidos como funcionava o trabalho do lobby e a legislação que o regula. Decidimos adaptá-la à brasileira, levando a ideia ao jurista Walter Costa Porto, que elaborou minuta de Projeto de Lei e a apresentou   ao senador Marco Maciel. Mais rigorosa que a americana,  por estabelecer o controle externo e a fiscalização à atividade”.

É o Projeto da Lei do Lobby,   aprovado no Senado, foi remetido à Câmara, onde,  de vez em quando é debatido, mas não progride.”

Anchieta ironiza: “Falta de lobby para fazer aprovar a Lei do Lobby…”

Passados trinta anos, o Lobby  cresceu no país, com a sociedade civil se fazendo representar através de profissionais sérios e competentes. Buscando aperfeiçoamento, esses profissionais criaram a ABRIG – Associação Brasileira de Relações Institucionais e   Governamentais, que instituiu o “Prêmio Anual Marco Maciel”, homenageando o autor do Projeto de Lei.

Anchieta entende e ressalta que “a Imprensa   erra quando denomina por ‘lobistas’ os bandidos de gravatas,  ‘mulas’ de empresas envolvidas em  ‘propinodutos’,  expostas quando pegas  nas   operações policiais,  tipo ‘Mensalão’, ‘Lava a Jato’ e outras” – explica.

Pouco foi o tempo em que Anchieta ficou no EAP: em julho de 1989 recebeu   convite para nova atividade, na qual passou vinte e nove anos.

Aviação Civil: abertura do mercado.

O comandante Omar Fontana, presidente e fundador da Transbrasil, o convidou para trabalhar na “proposta de recapitalização” e o retorno dele, Omar, ao comando da empresa – à época sob intervenção federal, em razão dos prejuízos que tivera com o Plano Cruzado.

Anchieta aceitou, após analisar e compreender a conjuntura econômica financeira da Transbrasil e das outras empresas da Aviação  Civil, que também sofriam idêntica crise: umas menos (Varig e TAM), outras mais (Transbrasil, Vasp e as demais vinte e três empresas);  se a empresa era recuperável; se o comandante Fontana se alinhava na defesa do livre mercado, trabalhando pró Política Pública que assegurasse a competição então não existente no  segmento aeroviário.  

Em dezembro 1989, três meses antes do final do governo Sarney  é  aprovado o plano de recuperação, e acaba com a intervenção e o controle da empresa   devolvido ao comandante Fontana.

Comecei o trabalho na Transbrasil, onde  passei 10 anos, como diretor, membro do Conselho de Administração e Controle e acionista (detinha 6% da Ações Ordinárias),   lutando para que o Congresso e  Governo estabelecessem Política Pública que assegurasse a abertura do mercado,  sob o princípio da oferta e da procura;  estimulasse a concorrência permitindo a liberdade tarifária; que estabelecesse a permissão para as empresas decidirem os destinos e os horários dos seus voos; que extinguisse o protecionismo e o monopólio de voos para o exterior; que extinguisse o protecionismo que beneficiava apenas uma empresa nacional”.

Continua: “Até os governos Collor (brasileiro) e Bush pai (americano),  apenas duas empresas operavam  as frequências  Estados Unidos-Brasil:  a Varig e a Pan American. Os presidentes decidiram firmar  novo acordo aeronáutico, abrindo os mercados às empresas com capacidade de neles operar; outo exemplo:  na Ponte Aérea Rio-São Paulo, a rota mais rentável do país,  a Varig tinha assegurado,  por Decreto, 2/3 das operações, os do 1/3 restante eram distribuídos com as demais companhias; o mesmo Decreto assegurava à Varig 50 % do mercado nacional; as tarifas estavam controladas, o DAC determinando teto e piso, regendo o monopólio e o protecionismo.” – expõe.

Quebrado o monopólio dos voos para o exterior, Anchieta convenceu o comandante Fontana e a Transbrasil passou a operar voos de Brasília para os Estados Unidos, nas rotas Brasília-Washington-Nova Iorque e Brasília-Miami-Orlando, que, rentáveis, despertaram  o interesse de outras empresas nacionais e internacionais que passaram a operar no Aeroporto Juscelino   Kubitschek de Oliveira voos para a Europa e  Estados Unidos. 

Em de 1998, deixa a Transbrasil por não concordar com   a opção do  comandante  Fontana pelo o seu genro, Antonio Celso Cipriani,  para presidir a empresa – “Omar se afastou, enfermo da doença que o levou a falecer em 2000” – diz. Em dezembro de 2001 a empresa faliu; o Tribunal de Justiça de São Paulo bloqueou os bens de Cipriani, que responde processo de falência fraudulenta; recorreu e aguarda julgamento no STJ.

Em janeiro de 1998, Marco Maciel (PFL), vice-presidente, concorria à reeleição com Fernando Henrique (PSDB),   convidara Anchieta para integrar a equipe de coordenação das estratégias da campanha, o que o obrigaria se licenciar da Transbrasil  nos meses  de julho a novembro. 

O fundador e presidente da TAM, o comandante Rolim Amaro, que, por duas vezes, chamara Anchieta para trabalhar na sua empresa, ao saber ter ele se desligado da Transbrasil, telefonou dizendo: “Agora não escapas! Venha trabalhar comigo na TAM. Estou preparando a empresa para crescer e operar voos internacionais; precisa de ambiente favorável. Estou montando uma boa equipe”.

Dois dias depois Rolim veio a Brasília, acompanhado com outro amigo, o economista Rubel Thomas, ex-presidente da Varig, então vice-presidente internacional da TAM, parte da equipe cujos expoentes, além do Rubem, despontavam Daniel Mandeli, que presidiu após o trágico falecimento do Rolim em 2001;  Marco Antônio Bologna o sucedeu,  e Luiz Falco saiu para estruturar e  presidir a telefônica OI, hoje preside a CVC ”. 

Anchieta informou a Rolim o compromisso assumido com Maciel. Combinaram voltarem a falar logo que  concluída a campanha presidencial.

FHC/Maciel eleitos, Anchieta entra na TAM e continua na luta pela liberalização da Aviação Civil: “Em 29 anos na aviação, com um grupo de executivos das empresas do setor, passo a passo  conseguimos a Política Pública que tornou a Aviação Civil compromisso do Estado, não dos governos. Para acontecer, atuando no Parlamento, de onde obtivemos apoios para levar nossas propostas ao  Executivo, atendidas por todos os presidentes, do Collor ao Temer. Exemplifico: à criação da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), o projeto foi enviado ao Congresso pelo presidente Fernando Henrique e  a Lei sancionada pelo presidente Lula, que instalou a agência reguladora; a presidente Dilma iniciou as privatizações dos aeroportos, continuadas pelo presidente Temer, mantidas pelo presidente Bolsonaro.”

Em dezembro de 2016 Anchieta deixou a LATAM (fusão LAN/TAM). Na Aviação Civil, indicado pela TAM, por doze anos, foi eleito diretor, vice-presidente, presidente e secretário geral do Conselho do SNEA (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias); por seis anos representou o setor no Conselho da ANAC; por três, no Conselho Nacional do Turismo.

Reiventar-se é preciso

Em 2011, tendo renovado por mais cinco anos o contrato com a LATAM, Anchieta concluiu que, em breve tempo, teria pouco do que fazer pela empresa, por extensão à Aviação Civil, por ter atingido todas metas propostas quando nela havia ingressado.

Entendeu ser preciso mudar para buscar novos desafios – ele não pretender aposentar, e vai continuar criando.

Para se reinventar, estudou o emergente mercado das Inovações Tecnológicas, e escolheu estrategicamente o da Energia Renovável. “Sem energia nada se faz. O mundo e o Brasil têm fome de energia, mas que seja a  realmente limpa”. Explica

Encontrou o que buscava quando  em 2017 foi   convidado pelos amigos Luiz Piauhylino, pai e filho, a se integrar na SUNLUTION, empresa por eles fundada para introduzir no Brasil e na América do Sul a mais inovadora tecnologia de geração fotovoltaica, a Hydrelio – Sistema Hibrido Hídrico Solar Flutuante, desenvolvida pela Ciel et Terre francesa, em expansão na Europa, América do Norte e Ásia, com prevalência no Japão e na China. Nesse sistema, a energia é gerada pelas    placas fotovoltaicas fixadas sobre flutuadores instalados nos espelhos d’água das represas de abastecimento de água, das hidrelétricas e dos reservatórios e canais para irrigação – a primeira geradora no Brasil opera numa fazenda em Cristalina de Goiás, perto de Brasília.

30

No dia 05 de agosto o presidente Jair Bolsonaro inaugurou a hidrelétrica de Sobradinho, no rio São Francisco, Bahia, a primeira etapa da unidade geradora   solar flutuante, parte do programa de P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) da CHESF e da ELETRONORTE e as Universidades Federais de Pernambuco e do Amazonas, para comprovar a eficácia em “hibridizar” (conjugar) a geração de energia solar e hídrica na mesma unidade de produção e distribuição – existem similares no exterior.

Vários os projetos de geração solar flutuante  estão sendo desenvolvidos pela SUNLUTION, em parceria com empresas internacionais de grande porte,  produtoras de energia renovável. Anchieta prevê que,  em mais cinco anos a empresa esteja gerando 1,5 Gigawwats, fazendo o Brasil  líder mundial de produção de energia fotovoltaica sobre  espelhos d’agua.

 

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