Aprender a gerenciar o próprio tempo, colaborar em grupo e desenvolver capacidades criativas serão principais pilares para a educação pós-covid-19, apontam especialistas
A pandemia tem exposto algumas lições. Com a necessidade de ficar em casa e realizar grande parte das tarefas diárias a distância, gerenciar o tempo torna-se um desafio. Na educação, não é diferente. Com apenas dois cliques, é possível sair de uma reunião e já entrar em outra. O mesmo vale para aulas, disciplinas, textos e atividades. Por isso, especialistas da área da educação indicam que gerenciar as demandas e o próprio tempo serão fundamentais para os estudantes e professores após a crise do Covid-19.
Durante apresentação na I Jornada de Psicologia Online do Centro Universitário IESB, Profa. Dra. na área da educação Michelle Jordão reforçou que, se por um lado a tecnologia traz grandes benefícios e permite que a sociedade continue ativa durante o isolamento social, por outro ela também traz dificuldades. “A gente está tendo que aprender dia e noite a como lidar com tecnologia e em casa, que é nosso único ambiente”, ponderou.
O professor do curso de Psicologia do Centro Universitário IESB Juarez Júnior concordou com Michelle e acrescentou que a enchente de informações torna a adaptação digital mais difícil. “Informação é matéria prima para o conhecimento. Hoje, há um volume de demanda e de informações muito grande. Isso traz outros novos desafios para nós”, explicou.
Juarez entende que uma vez que superadas as dificuldades, o aprendizado deve se tornar uma prática mais “divertida, colaborativa e desafiadora”, destacando as capacidades investigativas e criativas dos “aprendedores”. Como principal desafio, o professor propõe a quebra da hierarquia entre professor e aluno. “Precisamos construir algo cooperativo, com o professor como mediador do processo todo”, indicou.
Em sua apresentação, o psicólogo apontou sete previsões para a educação pós-covid. Confira:
1- Saber planejar e organizar as melhores práticas didáticas farão toda a diferença, tanto para professores ensinarem, como para alunos assimilarem conteúdo;
2- Escolas serão como “enxames”, espaço de colaboração e interação que proporciona criatividade e conhecimentos intra e interpessoais;
3- Professor não será absoluto – os alunos que deverão protagonizar as aulas, trazendo questionamentos e propondo reflexões sobre a realidade percebida por eles;
4- Professor “apicultor” – o papel deste profissional será “estimular a geração do mel coletivo”;
5- Os portais educacionais serão mais amigáveis – conteúdos acessíveis online da forma mais ampla e fácil possível serão mais comuns;
6- Aproximação: as instituições de ensino irão se diferenciar da outra de acordo com a capacidade de interação e articulação com os clientes;
7- Redes inteligentes serão ainda mais utilizadas entre alunos, professores e outros. O mundo agora é plugado, todas as coisas estão conectadas.
Desigualdade social às claras
“É visível uma grande desigualdade social”, apontou a professora Michele Jordão. Ela analisou que, com a pandemia e o isolamento social, ficam mais evidentes as desigualdades sociais presentes na educação brasileira. Enquanto alunos da rede privada conseguem continuar os estudos de forma remota, com acesso a internet, computadores e smartphones, estudantes de escolas públicas estão com aulas suspensas desde o início da crise, muitos sem previsão de retorno e com data do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) ainda incerta.
“Se a educação online traz a abertura das fronteiras de tempo e espaço, por outro lado a gente percebe que nem todos têm esse acesso”, ressaltou. Para a professora, essas injustiças afloradas abalam o emocional. “Por isso, na parte da psicologia a gente tem o desafio de dizer que é possível”, explicou. A recomendação da professora é, na medida do possível, se “desconectar” e evitar cobranças excessivas.