Chegou a hora do charminho
Ritmo black volta a ganhar força no Distrito Federal com coletivos, oficinas e projetos em escolas
Por: Lucas Batista
Com o enfraquecimento do Soul e da Disco Music no fim da década de 1970 abriu-se espaço para outros estilos musicais. Dessa forma, em 1980, DJ Corello começou a introduzir um novo ritmo nos bailes cariocas, mais lento e melódico, chamado de R&B. O próprio DJ deu nome a dança, após perceber o jeito diferenciado que o público se movia. Então, em um baile no bairro do Méier, cativou o público dizendo: “Chegou a hora do charminho, transe seu corpo bem devagarinho”. O nome “charminho” ficou na cabeça dos frequentadores e o ritmo passou a ser conhecido e aderido por outros DJs, como Marcão da Rádio Tropical e Malboro, ambos do Rio de Janeiro. Assim, o estilo começou a ser tocado nos bailes das periferias do estado e de todo país.
Moisés Pretinho, DJ de 23 anos
No Distrito Federal (DF) o estilo de dança voltou a ganhar força nos últimos anos. “Estamos com uma nova escola, que está aprendendo e ensinando sobre charme. As redes sociais têm nos ajudado muito a espalhar o movimento”, conta o DJ de 23 anos, Moisés Pretinho. Segundo o DJ, os estilos de músicas seguem sendo os mesmos dos antigos bailes do Rio de Janeiro, mas Brasília trouxe uma nova vertente nas coreografias: “Os mais tocados são o Soul, Funk e o R&B. Mas, diferentemente do Rio de Janeiro, não fazemos um passinho baseado em uma só música. Aqui montamos a coreografia de forma mais acessível, que pode ser usada em todas as canções”, diz.
Os DJs têm função fundamental para realização das festas, são eles quem escolhem as músicas e conduzem o baile. “Nós fazemos o charme acontecer, somos o coração do baile. Damos euforia e animação ao público”, declara Moisés.
Para disseminar a cultura negra, há projetos que realizam mutirões e oficinas de charme na Torre de TV, no Plano Piloto, Praça do Cidadão e Praça da Bíblia, em Ceilândia e até em escolas. Alex Lucas, 21 anos, conheceu a dança por meio de uma dessas oficinas. “Comecei a dançar charme em 2017, com um workshop do grupo Pegada Black, na Ceilândia. O charme mudou minha realidade e perspectiva de vida desde o momento que o conheci”, relata.
Hoje, Alex faz parte do coletivo Periféricos no Topo, que trabalha com o empoderamento através da dança nas comunidades. Realiza aulas de charme na Praça do Cidadão uma vez ao mês com intuito de influenciar os jovens, assim como o Pegada Black fez em sua vida.
Alex Lucas, 21 anos, dançarino
Figuras da Dança
Projeto de difusão da cultura charme que oferece aulas de dança para jovens e adultos, com instrução do coreógrafo Yago Beirão, 21 anos, e produção de Priscila do Carmo, 40 anos. As aulas são oferecidas no Centro de Ensino Fundamental 08 (CEF 08), em Sobradinho II. Com objetivo de promover a integração de gerações e ocupar os espaços públicos, as oficinas são realizadas em dias diferentes para atingir públicos diversos. “Nas sextas-feiras, pela noite buscamos um público mais adulto, aos sábados pela manhã alcançamos os mais jovens”, diz Yago. O projeto, ainda, inclui formação empreendedora na área de produção com mapeamento da cultura local e organização de eventos comunitários.
Yago Beirão, 21 anos, oferece aulas gratuitas em Sobradinho II
O Figuras da Dança conta com alguns parceiros diretos como a Organização da Sociedade Civil (OSC) Moradia e Cidadania do DF, DJs Mário Linguiça e Claudinho, o CEF 08.
Yago, que é educador social voluntário, acredita que a dança pode transformar vidas. “A comunidade carece de alguma atividade. As pessoas ficam presas à rotina de trabalho ou escola e acabam não tendo um lazer. A dança é isso, é diversão, saúde, bem-estar. É socialização”, defende.