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terça-feira, abril 16, 2024

Eles fizeram e fazem a diferença em Brasília

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E Brasília amanhecia em Roma
Tradicional restaurante de Brasília nasceu antes mesmo da inauguração da capital. Saudosismo à parte, o estabelecimento guarda memórias.
É um “prato” cheio de história com cheiro de parmegiana e filé ao molho madeira.

Por CAROLINA CASCÃO

Se as portas não fossem fechadas pouco mais que 5 horas da amanhã, Brasília amanheceria em Roma, digo no Restaurante Roma. O estabelecimento “bombava” durante toda a madrugada no final de semana, palavras do proprietário, o belga Simon Pitel.

Era a parada obrigatória depois da “balada” (ou do rolê, como dizem hoje em dia) -, afinal “saco vazio não pára em pé” e uma suculenta parmegiana ou uma sopa de cebola bem quente descem melhor que um “engov antes e outro depois”. Fórmula positiva para um dia seguinte sem pileque. Além do papo com pão -, conversar e comer aqueles pãezinhos com manteiga e azeitonas, couvert servido até os dias atuais, era perfeito para esperar a canja de galinha, era o tempo certo para as derradeiras cervejinhas.

Mas era preciso fechar as portas porque no dia seguinte j cedo, as “vitrines” de frangos assados tinham que estar a todo vapor para receber outro público faminto, era preciso “bombar” o sábado com frango assado acompanhado de um casco de coca-cola. Se não fosse assim não seria sábado. Era preciso disposição para escutar a buzina do Chacrinha logo mais. O Roma faz parte da história de Brasília!

É um sobrevivente à moda antiga. Tem um lugar cativo na w3 sul. Nasceu seis dias antes da inauguração da capital, no dia 15 de abril de 1960; sobreviveu a 18 presidentes, três repúblicas, à ditadura militar, à direita e à esquerda. E continua lá! A suculenta parmegiana com um digno filet alto, assim como o peixe à belle meunière, continua sem fazer “botox” ou qualquer outro processo de rejuvenescimento. Passaram-se 60 carnavais e 15 copas do mundo de futebol, e o restaurante Roma, para a nossa sorte, continua a vida, guarda memórias, resgata a história, mas como ninguém é de ferro (e para acompanhar a modernidade), hoje em dia, oferece serviço delivery e entrega todo o menu (continua o original) em casa.

O início de tudo

Simon Pitel, belga da capital Bruxelas com descendência judaica, comprou o restaurante em 30 de março de 1964 do italiano Luigi Brandi. Motivado pelo sócio belga, cujo nome “fantasia” era Marcelo, dotado de muita cultura e conhecimento, Simon aceitou o desafio. “Ele cozinhava bem numa cozinha caseira, mas numa industrial as coisas eram bem diferentes. Precisamos nos adaptar e a aprender administrar. Não sabia cozinhar e não sei até hoje”, revelou.

A sociedade acabou depois de uma “traição”. A esposa de Marcelo, também traída naquela ocasião, deu com a língua nos dentes e revelou que Marcelo, no passado, era membro da SS, tinha sido militante do partido nazista e seguidor de Adolf Hitler. Para Simon isso era muito grave, pois a família viveu a guerra na pele. E de 1.800.000 de prisioneiros, apenas três mil pessoas conseguiram sobreviver, dentre eles, os pais de Simon -, que deixaram o campo de concentração, assim que a segunda guerra acabou. “Marcelo sumiu por um mês. Se sumisse por 150 dias, por lei, não teria mais o restaurante. Quando ele apareceu, quis desfazer a sociedade”, disse.

Simon chegou primeiramente no Rio de Janeiro. Foram 15 dias num navio semi cargueiro que saiu da Bélgica rumo ao Brasil. Lá, ele morou na casa de uma tia em Copacabana. Ela mesma o empregou na loja de roupas, mas que não durou lá muito tempo -, afinal o salário não permitia que ele tomasse quantas cubas libres quisesse. “Num parâmetro econômico, ganhava mil cruzeiros por mês -, o que não era suficiente nem muito equilibrado diante de 200 libras por cada drinque”, disse.

Nesse meio tempo, Simon conheceu um romeno que falou sobre Brasília. Motivado por ele, começou a vender relógios na Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante. “Morei 10 dias num hotel e depois voltei ao Rio para comprar mais relógios”. Como uma coisa puxa a outra, em um curto espaço de tempo, ele comprou uma loja e abriu um empório, uma espécie de mercadinho, onde se vendia de tudo, inclusive, relógios, na 945 da Avenida Central da Cidade Livre.

Depois disso, Simon, após vencer uma concorrência pública, começou a vender os uniformes da polícia local de Brasília. “Encomendava todas as roupas no Rio de Janeiro. E, nessa época, morava num quartinho dentro do quartel da polícia, na Velhacap, hoje Candagolândia”.

O menu é o mesmo, mas com pequenos ajustes.

“A honestidade dos ingredientes é a alma do restaurante. Se anuncia filé mignon tem que servir filé mignon”, afirmou Simon.

Poucos ajustes foram feitos no cardápio, apenas como maneira de acompanhar a atualidade acrescentou-se o salmão, o peixe abadejo (procedência argentina), a picanha e o entrecôte (corte de carne bem francês). “O peixe que era surubi foi substituído pelo abadejo e salmão”, disse.

O cardápio é muito variado e os pratos sempre foram requintados, mas com aquele toque caseiro para um almoço e jantar fartos.

Durante todos esses anos, grande parte do público ia direto da Esplanada dos Ministérios para o restaurante Roma. Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor e Jarbas Passarinho eram frequentadores assíduos. “Canja de galinha não faz mal a ninguém”, canta Jorge Ben Jor, um dos artistas, como também Cauby Peixoto e Tônia Carrero que já experimentaram o peixe à belle meunière ou a tradicional lasanha do Roma ou a sopinha de cebola da madrugada. Ou ainda, quem sabe, a canja de galinha. Já que não faz mal a ninguém…

Garçons fieis em 4 cores de uniforme

Manuel Leite da Silva, 65 anos, é garçom há 44 anos na casa. “Não me vejo trabalhando em outro lugar”. Antes do Roma, ele viveu os tempos “áureos” também no Caravelle, outro clássico da década de 60, em Brasília, localizado na 507 sul. Antônio Sipaúba de Souza, 63 anos, completará em junho, 33 anos de casa. Ele afirma com carinho, o amor ao restaurante, e lembra com orgulho a data que pisou pela primeira vez no estabelecimento, no dia 19/06/1986. No total, eles já vestiram quatro uniformes diferentes durante os 55 anos de restaurante Roma: nos tons rosé, azul claro, bege e branco.

Breve explicação da jornalista

As palavras iniciais do texto, embora eu tenha apenas 40 anos e era criança na época, foram realmente vivenciadas. Tirando a parte do pileque, acompanhei meus pais algumas vezes na sopinha da madrugada após baladinha -, e gostei muito, tanto que ficou na memória. Porque filho que é filho é criado mesmo para acompanha os pais sem dizer uma palavra e, o melhor de tudo, achar o máximo. É sentir-se tão grande que arrisca até uma piada entre uma ou outra colher de pudim da casa (que existe até hoje). Para mim, o sábado sem frango assado do Roma não era sábado. O Chacrinha podia não comparecer ao programa de tv, mas o frango não tinha essa mordomia. O Roma faz parte da história de Brasília! E o melhor de tudo: faz parte do meu coração.

Serviço:
Restaurante Roma
Endereço: 511 – w3 sul. Asa Sul, Brasília
Telefones: (61) 3346.4030 / 3434
Horários: Segunda a sexta das 11h30 – 15h e 18h30 – 00h
Sábados e feriados das 11h30 – 17h e 18h30 – 00h
Domingos das 11h30 – 17h
site: https://restauranteroma.com.br/

 

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