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quarta-feira, abril 24, 2024

Médico brasiliense é referência nacional em mastectomia masculinizadora

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Por: Simone Leite

Em 2017, o drama de Ivana, em “A força do querer”, levou ao horário nobre o debate sobre a identidade de gênero. A descoberta de que vivia no corpo errado fez com que a personagem da trama de Gloria Perez desse início a uma transição através do uso de testosterona, principal hormônio masculino. Os efeitos, como o surgimento de pelos no rosto e a alteração na voz, logo foram notados. Para completar, um corte curto de cabelo e outro estilo de roupa. Assim, nasceu Ivan.

Readequação sexual não é opção para a maioria das pessoas trans

Naquela época, pouco se falava sobre o assunto. Mudar de sexo era considerado “absurdo”.  A cirurgia para mudança do órgão sexual, no entanto, não é cogitada por pessoas trans no Brasil. Em “A força do querer”, por exemplo, em nenhum momento, Ivan cogitou fazer uma cirurgia. Mais um retrato da vida como ela é. O homem trans no Brasil não costuma fazer esse tipo de procedimento. Ele opta apenas pela mastectomia, a mesma cirurgia do personagem Ivan.

Apesar de alguns se aventurarem em países, como a Tailândia, especialistas não aconselham o procedimento em homens trans, principalmente por vir acompanhado de muita frustração.

Brasília é referência nacional

O processo de transição é complexo. Antes de ir para a mesa de cirurgia é necessário acompanhamento psicológico, até para que o paciente tenha segurança e certeza do seu desejo. Em ambos os gêneros, a idade mínima para procedimentos ambulatoriais – como consultas e tratamento hormonal – é de 18 anos. Após a cirurgia, deve ser realizado acompanhamento pós-cirúrgico.

Aqui em Brasília, Erick Carpaneda é referência em cirurgia de mastectomia masculinizadora. O especialista tem sido muito procurado por jovens de todo o país que buscam pelo procedimento. Na consulta pré-operatória, o médico já de pronto solicita o laudo psicológico. O tempo entre a consulta e a cirurgia não demora, dura, em média, uma semana, mas os dois procedimentos podem acontecer no mesmo dia, mas depende de cada caso.

A cirurgia dura aproximadamente três horas e a recuperação é rápida. “O paciente pode retomar as atividades quase imediatamente”, frisa o médico. A única indicação é para que os recém-operados fiquem na capital por uma semana. Eles precisam estar por perto caso aconteça qualquer complicação, como hematoma ou acúmulo de líquido na região operada. De acordo com o Carpaneda, “infecções são muito raras, porque a mama é vascularizada e não tem prótese”. Já a liberação para a prática de atividade física demora um pouco, geralmente um mês após a cirurgia.

Redesignação sexual

Carpaneda afirma que nunca foi procurado por pessoas trans em busca da redesignação sexual, cirurgia para mudança no órgão sexual. Diferente da mastectomia, o desejo e a busca pelo procedimento não é nada comum no Brasil.

Primeira Mastectomia

A primeira experiência de Erick Carpaneda nesse tipo de procedimento aconteceu por acaso. “Um dia, um menino de 20 anos chegou ao meu consultório chorando, dizendo que não tinha razão para viver se não conseguisse tirar a mama”, lembra. “Me sensibilizei. Nunca tinha feito o procedimento, nem visto ninguém fazer, mas sabia que tinha plena capacidade de resolver aquele problema e deixá-lo feliz”, conta. A cirurgia correu bem, mas foram necessários pequenos ajustes. “Quando tirei o curativo, ele chorou de alegria. Em seguida perguntou se poderia reduzir um pouco o mamilo, para ficar mais parecido com o de um homem. Fizemos e o resultado ficou perfeito”, orgulha-se.

Rede pública

Desde 2008, o SUS oferece procedimentos para mudança de sexo, incluindo cirurgias de redesignação sexual, mastectomia, plástica mamária reconstrutiva (incluindo próteses de silicone) e cirurgia de tireoplastia (troca de timbre de voz).

A busca pelo procedimento é grande. Por conta da demanda, a espera pela cirurgia pode chegar a dez anos. É aí que muitos acabam optando por hospitais particulares.

O Hospital de Clínicas de Porto Alegre; Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; Hospital das Clínicas de Goiânia; Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco oferecem procedimentos ambulatoriais e hospitalares de mudança sexual.

Felipe Verbicaro, 31 anos, passou pelo procedimento com o Dr. Erick Carpaneda em novembro deste ano. Foto: Arquivo Pessoal

O processo de um homem trans

Felipe Verbicaro é um homem trans que passou pelos cuidados de Carpaneda. O carioca e morador de Brasília fez a cirurgia de mastectomia aos 31 anos, em novembro deste ano. Ele bateu um papo com o portal 61 Brasília.

Confira:

Como foi o seu processo?

Em minha opinião, o “processo” é constante e nunca acaba. Cada dia a gente descobre um pouquinho mais do que é ser trans e no nosso autoconhecimento. Eu sempre achei que era diferente e sempre me identifiquei com o gênero masculino. Mas, em 1990/2000, não tínhamos acesso a todas as informações e conteúdos que temos hoje, então não achava que era possível ou saudável fazer uma transição. Era algo que só via viabilidade no exterior ou então que era algum tipo de aberração. Quando a medicina avançou e comecei a ver mais pessoas como eu, consegui tomar coragem para iniciar a minha transição.

Você teve apoio da família? Como foi a decisão para se aceitar?

Eu tenho nove meses de transição, o que é pouco até. Todos os meus amigos próximos me aceitaram e, o mais incrível, foram pessoas distantes, ou que tinham perdido contato, que apareceram me dando apoio e dizendo o quanto estavam felizes por mim. Na família, tenho o apoio da minha mãe, que no começo não entendeu, mas hoje me respeita e está do meu lado, mesmo ainda não conseguindo entender 100% tudo. Mas ela me acompanhou na cirurgia de mastectomia, por exemplo. A minha autoaceitação sempre esteve ok. O mais difícil é tomar a coragem de começar os tratamentos, sabendo que seria importante passar pelo procedimento cirúrgico, por exemplo. Mas deu tudo certo! Tive acompanhamento psicológico e o apoio de pessoas próximas que me ajudaram muito em tudo.

E a maior dificuldade no processo de “transformação”?

Já corrigindo hahaha. O certo é transição, porque eu não estou me transformando, pois é algo que sempre fui em teoria. Mas acredito que a maior dificuldade foi contar para minha mãe, pois não a queria fora da minha vida. E, também, medo dos procedimentos que eu iria passar. Eu sou muito medroso e, para mim, era importante fazer a mastectomia por exemplo. Mas eu nunca me imaginei fazendo uma cirurgia, muito menos uma cirurgia plástica. Então me assustava. Tive receio dos efeitos que o tratamento hormonal poderia causar no meu corpo também. E uma coisa que ainda é complicada é o uso do banheiro masculino rs.

Como chegou ao Dr. Carpaneda? Passou por outros médicos?

De 2016/2017 para cá tudo ficou muito mais forte para mim a ponto de eu pensar muitas vezes no dia sobre tudo isso. Eu comecei a acompanhar alguns meninos trans como Luca Scarpelli, Paulo Vaz, Lucca Najar, entre outros. Eu consumo quase todos os conteúdos deles e eles falavam muito sobre cada detalhe da transição. Isso facilitou para eu entender tudo que eu ia passar nos mínimos detalhes. Assim que comecei o tratamento hormonal, em março de 2021, eu pensei em fazer a mastectomia depois de um ano ou um ano e meio. Quem disse que aguentei esperar? Com 3/4 meses eu comecei a consumir muito conteúdo sobre isso. Via vários vídeos de outros meninos contando suas experiências etc. Na busca por uma endocrinologista eu pesquisei bastante, e acabei marcando com uma que via muitas pessoas passando e amando. Mas para cirurgia eu tinha muito medo do resultado não ficar bom ou ficar mal feito, foi aí que comecei a acompanhar os resultados de alguns médicos. Da maioria dos meninos que sigo tinham dois médicos em São Paulo, um no Rio e o Erick, em Brasília. Então comecei a avaliar os resultados e o que as pessoas falavam de cada um. O Erick no geral foi a melhor opção para mim. Primeiro porque moro em Brasília e não teria custo com viagem. Segundo, o valor que ele cobra condiz com minha realidade e disponibilidade. Terceiro, mas muito importante, a disponibilidade social e emocional dele, pois está sempre disponível para tirar dúvidas e ajudar o paciente no processo. Ele nos responde bem rápido e cuida muito das pessoas no pós-operatório, questão que vi muitos reclamando de outros médicos. E, por último, comecei a acompanhá-lo no Facebook e vi os resultados de outros trans que eram ótimos e em linha com o que eu buscava.

Como é a vida de um homem trans atualmente?

Acho que cada vez mais temos avançado tecnologicamente, se assim podemos chamar, que facilitam o nosso conforto. No entanto, ainda é muito difícil, pois nossa sociedade não sabe e não conhece as coisas que passamos. Não é comum pensar na pessoa trans sendo homem ou mulher trans, ou mesmo nas possíveis situações, que são particulares, que essa pessoa vai passar. Por exemplo, ser um homem trans e ainda precisar ir a um ginecologista. É desagradável estar em um consultório repleto de mulheres e de repente um homem entra e é um paciente. São muitos olhares, muitos olhares preconceituosos. Outra questão é quando ainda não temos nosso nome alterado. Já passei por algumas situações como não conseguir alterar meu nome na conta de luz pela internet, pois eles não entendem que sou trans. Daí na foto tem um rosto mais “masculino” e o nome é feminino. Então negaram o pedido e eu terei que ir presencialmente, o que já estou adiando. Essas coisas são detalhes do dia-a-dia que atrapalham a nossa vida e nos criam barreiras para ir e vir.

Vida após a mastectomia?

Eu acabei de operar e confesso que a ficha ainda não caiu. Mas posso te dizer que, além de liberdade e felicidade, que são bem óbvios para o momento, eu sinto como um sonho que nunca imaginei que fosse realizar.

Serviço

Dr. Erick Carpaneda atende na Clínica Carpaneda de Cirurgia Plástica

Centro Clínico do Lago.

Tel: (61) 3364-3301 e (61) 3344-0044

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