Os casos de obesidade infantil têm avançado nos últimos ano e merecem atenção!
Por Hellen Lopes | Fotos: Danilo Mota
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que o aumento foi de 75% na última década, isso equivale a 2,3 bilhões de pessoas com excesso de peso e 700 milhões de obesos. Mas, é a obesidade infantil que tem ocupado o centro das preocupações. De acordo com os últimos dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 15% das crianças brasileiras, com idade entre 5 e 9 anos, são obesas.
Durante o Encontro Regional para Enfrentamento da Obesidade Infantil, que aconteceu em março em Brasília, o Brasil assumiu metas para frear o crescimento do excesso de peso e obesidade no país. Entre as medidas estão a redução do consumo de sucos artificiais e refrigerantes em, pelo menos, 30% e incentivar o consumo frutas e hortaliças regularmente. Para falar sobre o assunto, a Revista Plano Brasília entrevistou a nutróloga Patrícia Costa Bezerra.
Como definir obesidade? Ela pode ser considerada uma doença?
Patrícia Costa: A obesidade se caracteriza pelo excesso de gordura no corpo. A forma mais comum de diagnosticar a obesidade é a partir da relação entre o peso e altura, expressos pelo Índice de Massa Corporal (IMC). Mas tão importante quanto definir a presença de sobrepeso ou da obesidade é avaliar como e onde se distribui a gordura no corpo.
Quais as causas da obesidade infantil?
PC: A obesidade é uma doença causada pela interação entre diversos fatores que resultam em um desiquilíbrio entre a quantidade de energia consumida e a quantidade de energia gasta. O excesso de energia é então acumulado na forma de gordura. Dentre os fatores de risco para a obesidade infantil podemos destacar a presença de obesidade dos pais, a inatividade física, o padrão alimentar da família.
Por que a obesidade infantil o preocupa?
PC: Os estudos realizados sobre a população brasileira indicam um crescimento importante da obesidade e do sobrepeso, desde a infância até a vida adulta. As complicações do sobrepeso e da obesidade infantil vão desde questões emocionais, afetivas, de interação social, bullyng até alterações as metabólicas. Em geral, este grupo apresenta autoestima comprometida e têm maior risco de desenvolver distúrbios de comportamento alimentar na adolescência e no início da vida adulta. Em relação às consequências metabólicas, as crianças apresentam comportamento semelhante ao que se observa nos adultos, ou seja, a quantidade de gordura em excesso e a distribuição de gordura interferem no desenvolvimento de doenças. O risco de síndrome metabólica na vida adulta é maior nos indivíduos que apresentaram obesidade na infância. Infelizmente, identificamos com certa frequência a presença de pressão alta, elevação de colesterol e triglicerídeos, resistência à insulina e diabetes em crianças e adolescentes obesos.
Quais são os erros comuns na alimentação infantil?
PC: As famílias apresentam diferentes padrões de comportamento e em função da necessidade de ajustes da rotina, muitas vezes as soluções encontradas culminam em um consumo excessivo, rico em gorduras e em carboidratos. São erros comuns não só o excesso de alimentos calóricos, guloseimas, sanduíches, mas também o baixo consumo de frutas, de vegetais, de carboidratos complexos, de carnes magras. Ou seja, há carência de nutrientes que são fundamentais para o crescimento e desenvolvimento infantil. É comum encontrar crianças e adolescentes obesos, porém com inúmeras deficiências nutricionais.
As crianças estão mais sedentárias. O que fazer para estimular a atividade física?
PC: A presença de obesidade ou de sobrepeso pode ocorrer não só por erro alimentar, mas pode ser fruto do baixo gasto de energia e estilo de vida sedentário. É importante promover não só a prática regular de atividade física, mas estimular algo fundamental para o desenvolvimento infantil, a brincadeira. Deve-se incorporar atividades lúdicas, que envolvam gasto energia e preferencialmente, que integrem a família.
Como evitar ou tratar o excesso de peso infantil?
PC: O tratamento do sobrepeso e obesidade na criança e no adolescente deve ser recomendado tão logo seja feito o diagnóstico. Deve-se estabelecer um tratamento em longo prazo, com diminuição do consumo calórico, inclusão de alimentos adequados e necessários ao desenvolvimento daquela faixa etária, aumento do gasto de energia, modificação comportamental e envolvimento familiar. Todas estas recomendações, parecem, à princípio, já muito conhecidas. Entretanto, a sua implementação na rotina diária é um grande desafio para as famílias. Na maior parte das vezes não é fácil, mas não é impossível. É importante que o tratamento estabeleça pequenas metas, e que elas tenham como alvo a modificação e eliminação dos fatores que comprometem a saúde e qualidade de vida da criança e não só a redução de peso corporal.
Quando o assunto é alimentação infantil, quais devem ser os principais cuidados?
PC: Oferta de alimentos frescos, em boas condições de higiene e especialmente, uma alimentação diversificada. Dentro do possível e respeitando a idade, é importante incluir a criança na rotina alimentar, no planejamento do cardápio, preparo, na lista de compras, na organização do lanche escolar. Enfim, incorporar práticas que valorizem a alimentação dentro da rotina. Caso a rotina não incorpore boas práticas de alimentação e saúde, precisamos modificar a rotina e não incorporar práticas inadequadas para se ajustar a rotina.
SERVIÇO
Patrícia Costa Bezerra (Nutricionista PhD)
SEPS 710/910 Sul, sala 237 (Ed. Via Brasil)
Telefone: (61) 3442-8237