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terça-feira, março 19, 2024

O legado do mobiliário moderno de Brasília

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O Ministério das Relações Exteriores é responsável pelo diálogo com países e órgãos internacionais em nome do Estado brasileiro. Sua vocação é construir, manter ou romper as relações com outras nações. Ou seja, a instituição funciona como uma sala de visitas para o Brasil no cenário internacional, informando, negociando e representando o nosso país. Por isso, sua sede, o Palácio do Itamaraty, ícone modernista criado por Oscar Niemeyer e localizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, não só foi construído apenas com materiais nacionais, mas também seu acervo de obras de arte e mobiliário é constituído de peças feitas por artistas e designers que nasceram ou se naturalizaram no Brasil.

Um desses designers é o carioca Bernardo Figueiredo. Quando a sede do palácio migrou do Rio de Janeiro para Brasília no início da década de 1960, Bernardo foi convidado para mobiliar ambientes do Palácio ao lado de outros grandes nomes do design modernista brasileiro.

“Meu pai sempre se sentiu honrado por ter sido convidado pelo Embaixador Wladimir Murtinho para desenhar móveis exclusivos para o Palácio do Itamaraty em 1967. Na época, ele ficou surpreso porque estava pensando em criar móveis populares. Mas participar do projeto de um dos mais bonitos prédios de Brasília, onde sua função é receber as comitivas internacionais, com a missão de mostrar a cara do nosso país às outras nações, o deixou para sempre em posição de destaque entre os maiores designers do móvel moderno brasileiro”, afirma Angela Figueiredo, filha do arquiteto.

Esta oportunidade proporcionou para Bernardo uma convivência profunda com outros nomes das artes e da arquitetura no Brasil, como Athos Bulcão, Burle Marx e Jorge Hue, servindo como a consolidação do nome do jovem arquiteto Bernardo Figueiredo e coincidindo com o surgimento de várias de suas peças mais icônicas.

A Cadeira Arcos, por exemplo, nasceu quando Bernardo fora responsável pelo desenho das cadeiras do Salão de Banquetes, destinado para 120 pessoas. Seu desenho e nome fazem referência aos arcos que compõem a fachada do palácio e ela ganhou projeção no ano de 1967, no primeiro pronunciamento de política externa do governo Costa e Silva. 

Quando o decorador Jorge Hue foi convidado a criar os ambientes mais sofisticados dos salões de festa e das áreas nobres do Itamaraty, ele convidou Bernardo para desenhar os sofás, cadeiras e mesas de jantares para os ambientes.

Além disso, no Salão de Baile, destinado a diálogos informais, Bernardo criou quatro conjuntos de sofás, que ficam de costas um para o outro, facilitando a conversa entre as pessoas sentadas. Por isso a peça se chama Sofá Conversadeira. O Sofá Rei, por sua vez, é uma majestosa peça que permite a conversa sem que alguém, vindo de trás, a escute. No ano de 1968, a Rainha Elizabeth II fez uma visita oficial ao Brasil na qual fora homenageada no Palácio Itamaraty. Na ocasião, foi feita uma fotografia da Rainha conversando com o arcebispo do Brasil enquanto se sentava na peça desenhada por Bernardo. 

Ciente da importância de Bernardo Figueiredo na história do mobiliário modernista brasileiro, a Schuster, empresa gaúcha, reeditou algumas peças consagradas do designer em 2011. Itens como a Cadeira Rio e o Sofá Conversadeira foram contemplados na reedição, entre outros móveis. No aniversário de 50 anos da inauguração do palácio, em 2017, foi realizada uma exposição com peças que estiveram nos espaços internos, incluindo alguns itens desenhados por Bernardo Figueiredo. A Schuster então relançou outras peças de uso palaciano e convivial de Bernardo, celebrando a data. Mas a empresa foi incumbida de outro desafio a pedido do Palácio: restaurar algumas peças originais de Bernardo que estavam no Itamaraty. 

“No processo de reedição de um produto, mergulhamos, ou tentamos mergulhar no contexto geral que gerou estes, como a época, a cultura, necessidades, sonhos e buscas”, afirma Wilson. “Este mergulho traz uma energia bacana e ao mesmo tempo uma responsabilidade na busca correta de materiais alternativos e técnicas que preservem o espírito original. Também nos move a curiosidade pelas soluções criativas de mestres de uma época muito efervescente que, curiosamente, coincide com a entrada de nosso pai para o mundo da marcenaria.”

A história da Schuster, que em 2017 completara 50 anos, se funde ao imaginário do modernismo nacional, caminhando em paralelo na evolução da criatividade do brasileiro e também nas inovações industriais pelas quais o país atravessou em meio século. Em 2021, a empresa patrocinou uma exposição sobre o trabalho do designer e arquiteto no Museu da Casa Brasileira, com reedições e peças originais, incluindo algumas das presentes no próprio Palácio Itamaraty.

Karen Matsuda, historiadora e doutoranda pela FAU-USP e que estudou a carreira de Bernardo Figueiredo afirma que Bernardo se mantém relevante até hoje por conta de sua habilidade de inovar.

“A capacidade inventiva de Bernardo Figueiredo é seu maior legado. Em todos os campos que atuou – mobiliário, arquitetura e urbanismo – Bernardo sempre apresentou soluções inovadoras que dialogavam com o momento em que vivia. Sua versatilidade em diversas escalas e uso de materiais resultou em projetos que encantam e permanecem atuais, como é o caso do mobiliário.”, afirma.

Mila Rodrigues, diretora criativa da Schuster Móveis, reflete sobre o impacto e valor cultural que o trabalho de designers como Bernardo Figueiredo tem para o nosso país.

“Pensar nesses nomes que fomentaram uma interpretação autêntica de nossa brasilidade nas artes em geral é preservar nossa história e auxiliar as gerações a se entenderem como pertencentes àquela cultura. Exposições, livros, debates, toda forma de divulgar e reforçar esse conteúdo é vital para que nada sobre quem somos se perca. É nosso tesouro.” afirma Mila.

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