O pioneiro farmacêutico de manipulação de medicamentos em Brasília
A visão romântica de um alquimista e suas longas barbas brancas e caldeirão pode até existir. Depende da maneira que você a enxerga. Independente do estereótipo, o objetivo é o mesmo: produzir poções mágicas que curam, perfumam e embelezam, seja por meio de modernos potes ou cápsulas coloridas (ou até veganas). A arte de criar medicamentos é milenar e foi resgatada, no Brasil, pelo notável farmacêutico, Rogério Tokarski, fundador e diretor da Farmacotécnica.
POR CAROLINA CASCÃO
Ele é o número 262 do Conselho Regional de Farmácia (CRF-DF) e há 44 anos fundou a Farmacotécnica, a primeira farmácia de manipulação de medicamentos, em Brasília, referência na produção de cosméticos e medicamentos com fórmulas exclusivas. Tudo isso se tornou possível graças ao trabalho e estudo científico desse farmacêutico-catarinense-desbravador, Rogério Tokarski. E de lá, veio, desbravou a capital. Fez história (ainda faz!) e está à frente de uma notável cadeia farmacêutica com sete lojas, uma equipe especializada com 200 pessoas trabalhando a serviço da saúde, uma indústria e uma chácara de plantio de ervas. “É um serviço de utilidade pública. A manipulação exige muito estudo, referências bibliográficas e conhecimento. Temos um auditório para colocarmos isso em prática”, diz.
A arte de preparar medicamento é muito antiga. Reza a lenda que data de 2100 a.C e encontra-se no Museu da Universidade de Pensylvânia (EUA). Este resgate milenar, no Brasil, foi realizado em 1976, em Brasília, por Tokarski, que faz questão de esclarecer que a farmácia de manipulação utiliza-se dos três reinos naturais: o mineral, o vegetal e o animal. Ele diz “en passant” (em francês) e a partir daí desenvolve um trabalho alopático sem o processo de industrialização. Nada tem a ver com homeopatia.
“Meu objetivo principal é a manipulação. E o maior legado que deixarei na vida é que contribuí para reconstruir o conceito de Farmácia. Não existia farmácia de manipulação em Brasília”, disse.
Ele veio sozinho e jovem a Brasília com o objetivo de implantar a farmácia magistral. Na época em que este ramo estava ainda em processo de renascimento era preciso ir de porta em porta nas clínicas médicas e hospitais para mostrar competência. Afinal, embora a manipulação fosse antiga, o “resgate” era novo. “Em relação aos fornecedores de matérias-primas, eu tinha que garimpá-los em São Paulo, Buenos Aires…”, contou.
Uma relevante contribuição para Brasília foi o seu trabalho ativo para que a cidade formasse farmacêuticos. “Na época, a Universidade de Brasília não havia criado o curso de Farmácia”, registra.
De acordo com Tokarski, a importância da Farmacotécnica está nas ações que realiza, “na importância do desenvolvimento personalizado de cada produto, aliado a menor quantidade possível de elementos químicos, buscando sempre o natural”, afirmou. Os cosméticos e medicamentos podem ser produzidos por meio de fórmulas exclusivas. “O remédio industrializado é destinando ao público no geral, não é individualizado”, disse. Uma prova dessa preocupação com a saúde e em busca por inovações e soluções, a Farmacotécnica publicou vários trabalhos (livros cuidadosamente editados) com sugestões de formulações e estudos profundos com centenas e centenas de referências bibliográficas, cada edição, em diferentes áreas da medicina (dermatologia, ginecologia etc).
As matérias-primas utilizadas hoje nas fórmulas tem procedência da Índia, China e Europa (notadamente, Itália e Alemanha). Os fitoterápicos da Farmacotécnica são medicamentos, inclusive utilizados na medicina avançada. Aliás, as fórmulas se utilizam até da nanotecnologia para produtos perfeitamente sincronizados. “O nosso forte é a alopatia e como preservar a saúde. Dentre nossos medicamentos, 60% é preventivo e contém vitaminas e aminoácidos na fórmula”, disse.
O alquimista que coleciona “primeiros” lugares
Rogério Tokarski ingressou em primeiro lugar, no curso de Farmácia, da Universidade Federal de Ponta Grossa, no Paraná. Formou-se em 1973 e recusou-se a seguir carreira acadêmica a convite do reitor. Preferiu descobrir a capital do país para a nossa sorte. Seguindo a coleção de “primeiros”, Tokarski foi o primeiro farmacêutico brasileiro a fazer pós-graduação em Farmácia Clínica na Universidade do Chile. E também foi o primeiro lugar no concurso da Fundação Hospitalar.
Rogério foi também o primeiro não universitário e o primeiro paranaense a ingressar no Projeto Rondon, subordinado ao Ministério do Interior, na época, que desenvolvia ações junto à comunidade na Amazônia. Soubera pelo rádio. Por duas vezes, ele participou. Uma como técnico agrícola, em 1970, e outra como universitário, em 1972. “A Amazônia é muito importante ao farmacêutico. Foi uma grande experiência”, disse. Aliás, graças a isso, resolveu realizar outro sonho: conhecer a estrada Belém-Brasília. E assim, “de mochilão”, veio a Brasília.
Em 1974, especializou-se em Bioquímica, na Universidade Federal de Goiânia. Na época não existia este curso em Brasília. “Éramos quatro pessoas na especialização. Fui o único que terminou em quatro anos. Os outros concluíram anos depois”.
Amor de profissão, amor de vida.
Romelita Milagres Tokarski, esposa de Rogério, é impressionante. Dotada de muita sensibilidade, a farmacêutica capixaba, está ao lado do marido desde sempre na edificação da Farmacotécnica. Conheceram-se em Belo Horizonte (MG) durante um Simpósio de Estudos Farmacêuticos em 1973. E casaram três anos depois.
Um dos grandes destaques criados por ela é o R.L.M.T.2, um hidratante corporal multiprotetor progressivo, da linha R-Kosmein, empresa de produção de cosméticos, especialidade de Romelita. O produto nasceu da observação dela diante da pele das crianças durante o período de extrema seca de Brasília. Este creme pode ser utilizado por adultos também. Em 1980, a Farmacotécnica já possuía o registro da marca R-Kosmein, o que foi um marco e pontapé para a evolução da empresa. Na época, recebeu a certificação pelo Ministério da Saúde em Boas Práticas de Fabricação em Cosméticos.
As filhas Romy e Rogy seguiram os passos dos pais, naturalmente. As duas são formadas em Farmácia e completam a família “R”.
Indústria Farmacêutica – a capacidade produtiva de fitocosméticos e a industrialização das ervas medicinais foi ampliada, em 1988, com instalações na Vargem Bonita, em Brasília.
“Imaginava que eu seria vencedor na vida. Mas nem tanto…”
Rogério nasceu em 24/01/1949, em Canoinhas (SC). Quando garoto brincava como as crianças do interior e adorava (ainda adora) cavalos. Juntava embalagens de vidro para vender na farmácia da cidade.
Filho do agricultor e comerciante Alberto Tokarski Filho e Almerinda Reinert Tokarski, ambos já falecidos, Rogério cresceu ao lado de dez irmãos. No Paraná, ele ajudava a família, e desde cedo, aprendera o valor do trabalho. “Colhíamos hortelã, trabalhávamos com o comércio e também a criação de gado. Somos de origem polonesa”, disse.
Estudou no Colégio Estadual Agrícola, em Ponta Grossa (PR), onde aprendeu os primeiros passos do cultivo de ervas medicinais.
“O farmacêutico é o sacerdote da ciência”
Rogério Tokarski foi convidado a ministrar palestras por todo o país. Uma grande experiência foi o convite feito pela Organização das Nações Unidas para uma viagem à Tanzânia para pesquisar ervas medicinais. Lá, ele trocou experiências com farmacêuticos do mundo todo.
A Farmacotécnica e o Tokarski são como filha e pai em prol do conhecimento e amor ao meio ambiente, à natureza e à cura pela fitoterapia. Como o pai, a filha também foi reconhecida nacionalmente. A farmácia coleciona vários prêmios. Um deles é Top Of Mind, de 2004 a 2017, foi a marca mais lembrada em farmácia de manipulação.
Em 1999, o Prêmio Racine Farmacêutico do Ano, foi para o Rogério Tokarski. E dois anos depois, para a Farmacotécnica, o Prêmio Racine, na categoria que destaca as farmácias de manipulação pelas ações de promoção de saúde e desenvolvimento profissional.
As paredes da farmácia colecionam muitos e muitos prêmios.
Incentivador de outros Farmacêuticos
Ao longo de todos esses anos de profissão, Rogério incentivou outros profissionais a se desenvolverem no campo da Farmácia. Muitos profissionais que passaram pela Farmacotécnica contribuíram tanto para o crescimento da empresa quanto se desenvolveram profissionalmente. Alguns permanecem no corpo funcional e outros, seguiram outros caminhos, mas tiveram uma boa referência do conceito de ser farmacêutico.
Dedicação em prol da “farmácia magistral”
Foi um dos fundadores e presidente da Anfarmag (Associação Nacional dos Farmacêuticos Proprietários de Farmácias Magistrais), onde desenvolveu atividades científicas, de pesquisa, de assessoramento e capacitação profissional dos farmacêuticos ligados à farmácia de manipulação. Atualmente, Tokarski é integrante do Conselho de Administração dessa associação.
É integrante também do Conselho Consultivo da Federação do Comércio do Distrito Federal. E vice-presidente da Federação da Agricultura do DF.
Além disso, em Planaltina (entorno do DF) cria cavalos, carneiros de alto valor genéticos e wagyu, um gado de raça milenar japonesa, que tem a carne mais nobre do mundo. Como a agricultura está nas raízes de infância, Tokarski cultiva os grãos para alimentar o gado.
